quarta-feira, 14 de maio de 2014

Imprensa−empresa pró−guerra ignora Plano de Paz de Putin

13/5/2014, [*] Mike Whitney, Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Didier Burkhalter, da OCSE e Vladimir Putin, Presidente da Rússia em 6/5/2014

Permitam-me repetir que, do ponto de vista da Rússia, a culpa pela crise na Ucrânia é dos que organizaram o golpe de estado em Kiev dias 22-23/2/2014 (...) Mas, seja quem for, é absolutamente necessário encontrar algum meio para resolver a situação como a temos hoje (...)  E como eu já disse é preciso que haja diálogo igualitário e geral entre as autoridades em Kiev, e representantes da população no sudeste da Ucrânia. Não sei se uma rodada de conversações Genebra-2 é projeto realista, mas... Entendo que se queremos encontrar solução de longo termo para essa crise, temos de ter diálogo aberto, honesto e igual. Não há outra saída. [Vladimir Putin, Presidente da Rússia, Declaração à Imprensa, Reunião da Organização do Conselho de Segurança da Europa (OCSE), Moscou, 7/5/2014.


Tantos jazem sob o granito eterno
Mas os que são honrados nessa pedra,
Que ninguém os esqueça.
Que nem um deles seja jamais esquecido
[Olga Berggolts, “Leningrad”]



Na 4ª feira (7/5/2014), o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma proposta para pôr fim à violência na Ucrânia, em reunião da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa, OCSE, em Moscou. Infelizmente, a maioria dos norte-americanos nunca foi informada sobre essa proposta, porque a imprensa-empresa norte-americana não noticiou a declaração e a proposta do presidente Putin. A razão pela qual a imprensa-empresa age como age é que não deseja que a opinião pública “descubra” que o presidente Putin NÃO É a caricatura que o sórdido “jornalismo” norte-americano inventou que ele seria, mas governante pragmático, que tem interesse em chegar logo a solução pacífica para uma crise que ele não inventou nem jamais desejou. Eis o que disse o presidente Putin:

Entendemos que a coisa mais importante agora é iniciar diálogo direto, genuíno, aberto, entre as autoridades de Kiev e representantes do sudeste da Ucrânia. Esse diálogo dará ao povo do sudeste da Ucrânia a chance de ver que seus direitos legítimos sejam realmente assegurados na Ucrânia.

São palavras de um “monstro−KGB” sedento de sangue, movido a sonhos de expansão territorial e expansão imperialista, ou, em vez disso, são palavras de governante responsável, que quer facilitar um cessar-fogo até que as cabeças esfriem e se possam pensar em melhor negociação de paz?

Você, leitor, foi informado de que Putin propôs “diálogo genuíno entre Kiev e os representantes do sudeste da Ucrânia”? O jornalismo, os jornais, os jornalistas não existem para distribuir informação, de modo que cada leitor possa construir sua própria opinião sobre Putin? Ou você entende que o jornalismo imprensa−empresa teria o direito de esconder a informação que decida esconder, se assim interessar aos patrões−anunciantes corporativos de cada jornal, de cada jornalismo e de cada jornalista? O que, afinal, se deve entender por “imprensa livre”?

Em seu discurso, Putin fez várias concessões, que merecem destaque. Por exemplo, concordou em afastar seus soldados da fronteira ucraniana onde permaneceram como muralha de contenção contra o governo de Obama, desde que o golpe de estado em Kiev começou a atacar, já há mais de duas semanas. Putin aceitou retirar seu exército, mesmo sabendo que estava enfraquecendo as defesas russas. Não é questão de somenos, de fato é importante questão de segurança nacional, e é responsabilidade primária básica do presidente, o tipo de responsabilidade que Putin jamais encarou levianamente, sobretudo quando há doidos neonazistas armados até os dentes, nos arredores, ameaçando matar russos étnicos onde os encontrem. Pois Putin fez essa concessão, na esperança de que um gesto de boa fé pudesse ajudar a pôr fim à violência. O presidente Putin disse, precisamente, o seguinte:

Já retiramos nossas forças e agora já não estão na fronteira ucraniana, mas de volta aos exercícios de rotina, nos campos de treinamento. É coisa fácil de confirmar, usando técnicas de coleta de inteligência, inclusive dos satélites, pelos quais onde nossos soldados podem ser facilmente vistos. Ajudamos a distribuir essa informação aos observadores militares da OSCE, e acho que, assim, também contribuímos para acalmar a situação.

É coisa que soe como mentira de um pervertido? É claro que não. Por isso, precisamente, os jornais, os jornalismos e os jornalistas não querem que ninguém ouça/leia o que o presidente Putin tem a dizer. Porque desmente o delírio “jornalístico”, segundo o qual “Putin é Satã”.

Putin é sujeito que atira sem sacar e diz o que quer dizer. Não é mentiroso. As pessoas percebem isso, motivo pelo qual a imprensa-empresa ocidental jamais o mostra ao vivo, nem jamais publica suas falas e discursos. Exclusivamente porque temem que os leitores e telespectadores acreditarão no que ouvirem−lerem e, onde e quando assim acontece, toda a propaganda pró-guerra à qual toda a imprensa−empresa ocidental está dedicada, é desmascarada.

John "Fraud" Kery
Fato é que as pessoas sabem, por instinto, quando o sujeito mente deslavadamente. As pessoas sabem ver, imediatamente, a diferença que separa um sujeito claro, como Putin, e uma fraude ambulante, com Kerry. Por isso Putin tem de ser escondido. Para isso, precisamente, serve a imprensa−empresa como a temos: para não noticiar.

Putin também pediu aos representantes das regiões sudeste da Ucrânia que adiassem o referendo marcado para o dia 11/5/2014 [o referendo não foi adiado (NTs)].

Por que pediria tal coisa? Afinal, se realmente quisesse “reconstruir” o Império Russo, como dizem seus críticos, teria de desejar que o referendo fosse realizado e exibisse, precisamente, o resultado que mais o interessaria: o mundo veria que o leste rejeita o governo da Junta−de−Kiev e exigiria maior autonomia em relação ao governo central de Kiev [exatamente o resultado que já se conhece hoje, depois de realizado o referendo (NTs)]. Mas Putin não quer nada disso. O que ele quer é pôr fim aos massacres, motivo pelo qual pediu que se adiassem os referendos, para não dar à junta dos neonazistas em Kiev pretextos para mais ataques e mais massacres. Putin não tem interesse algum em ver a Ucrânia rasgada em farrapos, reduzida à anarquia que se vê hoje no Iraque, por ação de inimigos que usam o país como rinha de exercício de suas ambições geopolíticas. Putin quer restaurar a estabilidade e a segurança. Quer o fim das hostilidades. Eis, exatamente, o que ele disse:

Solicitamos aos representantes das regiões sudeste da Ucrânia e apoiadores da federalização, que transfiram o referendo marcado para 11 de maio.

OK. Significa, então, que Putin recuou os próprios soldados, afastando-os da fronteira; e pediu que ativistas pró−Rússia adiem a votação que, com certeza, exigirá maior autonomia política. São duas concessões muito significativas. Mas... Por que Putin está fazendo o que está fazendo?

Será que tem alguma carta escondida na manga? Está tentando enrolar os inimigos, antes de ordenar ataque massivo, total, contra Kiev?

Falemos sério. Basta de tolices. Putin não quer tomar a Ucrânia; essa é conversa−terrorismo dos neoconservadores norte-americanos. Putin já tem problemas que cheguem, sem somar a eles a ocupação da Ucrânia. Por que, afinal, anexaria estado falido, falhado, quebrado, que desliza rapidamente para o fundo de Depressão das grandes? Por que faria tal coisa?!

Nesse caso, por que faz tantas concessões, tão rapidamente? Talvez porque esteja com medo? Talvez porque tema uma confrontação com a OTAN e os EUA, e, por isso, estaria tentando salvar seu front ocidental, antes que a guerra ecloda? É isso? Putin não passa de covarde?

O "pivoteamento" dos EUA para a Ásia
Segundo a imprensa−empresa ocidental, sim, Putin é covarde, mas isso porque a cobertura só tem olhos para a disposição para recuar os próprios soldados, o que quase faria crer que as políticas de linha−dura de Washington estariam funcionando, em vez de, como de fato estão, só tornarem as coisas cada dia piores, para o próprio ocidente.

O único detalhe que ABSOLUTAMENTE JAMAIS FOI NOTICIADO, CITADO, REFERIDO OU COMENTADO em toda a cobertura ocidental é o Plano de Paz de Putin para pôr fim à violência.

O PLANO DE PAZ DE PUTIN NÃO É JAMAIS NOTICIADO, porque a imprensa−empresa não quer que Putin apareça no lugar que, de fato, lhe cabe nessa guerra−golpe: Putin é o único estadista realmente interessado em gerar paz e cada vez mais paz. Isso, precisamente, não interessa ao ocidente.

Putin não tem medo de nada e de ninguém. Não terminará como Gaddafi ou Saddam. Mas, sim, está preocupado. Está preocupado, porque os EUA obram para tentar bloquear o acesso da Rússia ao seu maior mercado, a União Europeia. A Rússia não pode simplesmente redirecionar seu gás, do oeste (União Europeia) para o leste (China), como tantos “especialistas” parecem crer que fará. A loucura−imbecilidade é total. A Rússia precisa da Europa, como a Europa precisa da Rússia. É essa relação comercial/de trocas, tradicional, forte e natural, que Washington quer sabotar, para que possa meter as garras diretamente na Ásia Central. Trata-se, afinal, disso e só disso: do tal “pivoteamento” para a Ásia, de Obama.

Assim sendo, sim, claro, o interesse de Putin pela paz não é exclusivamente altruísta. Trata-se, também, é claro, de dinheiro, muito, muito dinheiro. Mas... e daí?! Que diferença faz isso? Putin não é limpo e puro como um querubim. Mas... e daí?! O fato que realmente conta é que Putin trabalha a favor da paz – e a paz não beneficiará apenas Moscou, mas toda a Europa e também a Ucrânia.

O único “agente” ao qual a paz não interessa é Washington. E por isso, precisamente, a imprensa−empresa oculta e omite qualquer informação que promova mais paz que guerra, que contribua mais para desarmar, que para armar, exércitos e espíritos. Por quê? PORQUE WASHINGTON DESEJA GUERRA.

Como os EUA veem o Oriente Médio e a Ásia
(clique na imagem para aumentar)
A guerra é o veículo para quebrar a Federação Russa em inúmeros estadetes microscópicos que não ameacem as bases militares dos EUA espalhadas pela Ásia. A guerra é o meio pelo qual Washington pode pôr-se a se pivotear, cercando a China, para controlar o futuro crescimento do Império do Meio. A guerra assenta o caminho para instalar postos avançados dos EUA na Ucrânia e subverter qualquer possível integração econômica crescente entre Rússia e Europa. A Guerra é a única política que os EUA são capazes de propor e fazer avançar, porque a guerra favorece os interesses dos norte-americanos. Ponto. Parágrafo.

Washington de modo algum alcançará seus objetivos estratégicos ou econômicos, se não houver guerra. Por isso, precisamente, a atual situação é tão preocupante, porque – a julgar pela sordidez da retórica que está sendo gerada na Casa Branca e de lá repercute pela imprensa−empresa para o mundo, o Departamento de Estado dos EUA e todos os conglomerados industriais−comerciais de imprensa−empresa: Obama CONTINUARÁ A PROVOCAR MOSCOU até obter a reação que deseja obter.

Já morreram 40 pessoas em Odessa; não bastaram; na próxima provocação, Washington mandará matar 400, 4 mil ou 400 mil. Não importa o número. Custe o que custar. Madeleine Albright, há algum tempo, quando lhe perguntaram se as sanções contra o Iraque valiam o custo de meio milhão de mortos, respondeu sem um segundo de vacilação ou hesitação: “Entendemos que sim, valem o que custam”.

Custe o que custar. Não importa quantos morram. A isso se reduz, numa linha, a política externa dos EUA.

Putin disse também que:

A responsabilidade pelo que está acontecendo na Ucrânia cabe ao que tomaram o poder por golpe, anti−constitucionalmente. (...) E aos que apoiaram essas ações e lhes asseguraram suporte financeiro, político, de informação e todos os tipos de suporte, e empurraram a situação até que se converteu nos trágicos eventos que aconteceram em Odessa. É de gelar o sangue. Todos viram os filmes dos eventos de Odessa.

Hordas nazi-fascistas, apoiadas pelos EUA, sob comando da Junta-de-Kiev, atearam fogo na Central Sindical em Odessa e assassinaram pelo menos 48 e feriram gravemente mais de 150 pessoas em 2/5/2014
Tentem imaginar Obama dizendo frases semelhantes. Imaginem Obtama preocupado com as pessoas que morreram em Odessa. Difícil, até, imaginar a cena. Agora, Obama com certeza já assistiu também aos mesmos filmes de que Putin falou. Com certeza já viu pessoas jogando-se pelas janelas, com as roupas em chamas. Já viu seus aliados neonazistas jogando pessoas pelas janelas; já viu os restos calcinados de vários cadáveres nas fogueiras. Pois viu... e não disse uma palavra! Permaneceu calado. Não protestou porque aqueles matadores de civis em fogueiras neonazistas são aliados dos EUA e das políticas dos EUA. A atitude de Obama é parte do cálculo político: gente não conta; só a política conta. Obama não é diferente de Albright nem de qualquer outro alto funcionário do establishment político dos EUA, no que tenha a ver com negócios e guerras. São todos iguais. A vida nada significa para eles. A única coisa que interessa é o que os doadores de suas campanhas eleitorais determinem como “interesses” seus, deles e só deles.

Assim sendo, o que Putin realmente deseja?

Eis o que ele disse:

A Rússia requer com urgência que as autoridades de Kiev cessem todas as operações militares e punitivas no sudeste da Ucrânia

Significa, precisamente, em outras palavras, que Putin que paz.

Desgraçadamente, a gangue de Obama estrangulou o Plano de Paz de Putin, ainda no berço. Ontem mesmo o regime−fantoche apoiado pelos EUA que “governa” Kiev prometeu ampliar os ataques contra manifestantes no leste. Segundo o Secretário de Defesa neonazista de Kiev, Andriy Parubiy:

A operação de contraterrorismo continuará sem mercê, contra a presença de terroristas e grupos insurgentes na região de Donetsk.

Quanto ao apelo de Putin, pela paz, Arseniy Yatsenyuk, o “Yats” fantoche−primeiro−ministro amigo de Victória Nuland, desqualificou-o completamente; para ele, não passaria de “um peido”.

Assim sendo... aí está! A ameaça da paz foi rapidamente neutralizada; Obama e seus amigos neonazistas neofascistas receberam luz verde para prosseguir na estratégia de esfacelar a Ucrânia, assassinar milhares de civis e implantar a OTAN no perímetro oeste da Rússia.

Por isso, precisamente, a imprensa−empresa privada ocidental absolutamente não noticiou sequer uma palavra do Plano de Paz de Putin: porque o plano de Washington prevê sempre mais e mais guerras, e nunca, jamais, pode prever alguma paz. É disso que se trata.
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[*] Mike Whitney é um escritor e jornalista norte-americano que dirige sua própria empresa de paisagismo em Snohomish (área de Seattle), WA, EUA. Trabalha regulamente como articulista freelance nos últimos 7 anos. Em 2006 recebeu o premio Project Censored por um reportagem investigativa sobre a Operation FALCON, um massiva, silenciosa e criminosa operação articulada pela administração Bush (filho) que visava concentrar mais poder na presidência dos EUA. Escreve regularmente em Counterpunch e vários outros sites. É co-autor do livro Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press) o qual também está disponível em Kindle edition
Recebe e-mails por: fergiewhitney@msn.com.

3 comentários:

  1. Só pra corrigir (quase nada nesse excelente blog): essa foto do autor não é do Rick Rubin?

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    1. Acho que não André. Ampliei uma foto muito pequena do perfil do Whitney (está ele e a esposa) e fiz uma interpolação de imagem. A imagem obtida quase coincidiu com a foto do blog, a qual foi achada via google...
      Se vc puder verificar melhor, agradecemos.

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  2. Castor, errei o nome: é o Robert Rubin, o picareta do Goldman Sachs que trabalhou com o Clinton, joga no google images. Mais uma vez, parabéns pelo excelente trabalho, é leitura obrigatória, diária, sobre política internacional.

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