terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Paris - mais um ato na Guerra Global ao Terror, o show

11/1/2015, [*] Wayne MadsenStrategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Os ataques, em Paris, contra a redação e os jornalistas do semanário satírico Charlie Hebdo e num supermercado kosher (vídeos acima) conseguiram, mais uma vez, afastar convenientemente a atenção do mundo para bem longe do torvelinho econômico em que gira a União Europeia e a extrema impopularidade de seus principais líderes nessa infindável “guerra global ao terror”.

Dia 11/1/2015, o presidente francês François Hollande anunciou que marcharia em solidariedade pelas ruas de Paris, com a Chanceler alemã, Angela Merkel, o Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, o Primeiro-Ministro italiano, Matteo Renzi, o Primeiro-Ministro da Espanha, Mariano Rajoy, o Primeiro-Ministro da Bélgica, Charles Michel, o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, o Primeiro-Ministro irlandês, Enda Kenny, e o Primeiro-Ministro turco e apoiador do ISIS/ISIL, Ahmet Davutoglu. Todos esses líderes, que enfrentam graves crises de impopularidade nos respectivos países, rapidamente usaram os ataques terroristas em Paris para aplicar um lustro aos respectivos obscurecidos perfis eleitorais. Além dos líderes impopulares, foram escalados para marchar em Paris o Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk e o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para a grandiosa “fotomontagem” em homenagem aos cartunistas assassinados, os mesmos que, seguidamente, ridicularizavam exatamente aqueles mesmos líderes com charges que, quase sempre, tinham conteúdo sexual.

Marcha dos Chefes de Estado - Paris, 11/1/2015

Mais uma vez, os acusados de terem cometido os ataques recentes, os irmãos franco-argelinos Said e Cherif Kouachi, que teriam assassinado 12 pessoas, inclusive o editor-chefe de Charlie Hebdo, e o franco-senegalês Amedy Coulibaly, acusado de ter matado reféns no supermercado eram, todos eles, bem conhecidos da polícia francesa e dos serviços de inteligência. Um dos fregueses do supermercado disse que Coulibaly teria dito que era original do Mali e que apoiava o ISIL e a Palestina. Os nomes dos irmãos Kouachis estavam incluídos, até, na lista norte-americana dos “proibidos de embarcar em avião”.

O fato de que os irmãos Kouachis tenham estado envolvidos no recrutamento e treinamento de jihadistas voluntários para combater na Síria pelo Estado Islâmico do Iraque e Levante, ISIS/ISIL (ing.) e de que tenham também trabalhado no recrutamento de exércitos de jihadistas no Iraque e Iêmen já bastaria para que ambos estivessem em listas de vigilância. Mas, como em caso anterior na França que envolveu supostos terroristas jihadistas que teriam matado pessoas ao acaso, os irmãos Kouachi, como Coulibaly, também bem conhecido da Polícia, foram autorizados a portar armas e outros materiais.

Coulibaly foi convidado, mesmo, do Presidente francês Nicolas Sarkozy em 2009. Coulibaly trabalhava numa fábrica da Coca Cola na periferia pobre de Grigny, arredores de Paris. Coulibaly foi um dos dez operários selecionados para encontrar-se pessoalmente com o Presidente Sarkozy no Palácio do Eliseu, para discutir questões de empregos para jovens. Como faz o serviço secreto dos EUA, a segurança do presidente francês também examina detalhadamente o passado de qualquer pessoa que receba convite para reunião com o presidente, é claro. Basta isso para que o fato de Coulibaly ter sido selecionado para reunião com Sarkozy cause a mais total perplexidade. O jornal Le Parisien citava Coulibaly, excitado com a reunião com o presidente, e que esperava que Sarkozy o ajudasse a encontrar um bom emprego. Diz-se que Coulibaly encontrou Cherif Kouachi pela primeira vez em 2010.

Amedy Coulibaly esteve com Sarkozy em 2005

Mas o que se sabe é que Coulibaly converteu-se ao Islã radical quando esteve preso em 2005, por assalto a mão armada. E teria sido na prisão que Coulibaly tornou-se seguidor de Djamel Beghal, suspeito de ser o membro franco-argelino da Al-Qaeda que, em 2001, tentou explodir a embaixada dos EUA em Paris.

De todos os jovens desempregados e subempregados na França, a segurança do presidente francês resolveu aprovar um conhecido membro da Al-Qaeda, autorizado a entrar no Palácio presidencial e reunir-se com o presidente Sarkozy. Como diriam os franceses: incroyable!

Não há dúvida alguma de que as autoridades conheciam o envolvido no affair Merah, em março de 2012, quando Mohammed Merah, cidadão francês, foi morto pela polícia francesa. Merah foi acusado de assassinar três paraquedistas franceses em Montauban e três alunos e um professor numa escola hebraica em Toulouse. Adiante se descobriu que não só o Diretorado Central da Inteligência Francesa Interna [orig. French Central Directorate of Internal Intelligence (DCRI)] tinha gordo dossiê sobre Merah, mas, também, que a inteligência francesa tentara recrutá-lo. Merah viajou sem ser perturbado ao Afeganistão, com pleno conhecimento da inteligência francesa. Os conservadores pró-Sarkozy e o Partido Socialista, então na oposição, hoje na presidência, conspiraram para acobertar todos os laços que ligavam Merah à inteligência francesa.

O que se diz é que os irmãos Kouachi teriam voltado da Síria no verão passado, a mesma Síria onde a CIA e a inteligência francesa apoiam grupos da guerrilha islamista radical que combatem contra o governo do presidente Bashar al-Assad. As semelhanças entre os Kouachis e Coulibaly, e Merah, são grandes demais para não chamarem a atenção. Todos esses eram bem conhecidos da inteligência francesa antes de aparecerem como supostos autores de ataques terroristas; e todos tinham conexões com grupos afiliados da Al-Qaeda.

Identidade de Cherif Kouachi, "esquecida" no auto de fuga

Desde a bomba-relógio na estação de trem de Bolonha em 1980, que matou 85 e feriu mais de 200, as operações “de falsa bandeira” na Europa Ocidental tornaram-se, pode-se dizer, uma espécie de “operação padrão”, que sempre se poderia repetir quase sem modificações [orig.boiler plate” operations]. Foi sem dúvida o que aconteceu no caso do assalto realizado por três homens, atuando de modo militar e profissional, sem vacilações “amadorísticas”, os supostos terroristas islamistas, contra a redação do semanário satírico Charlie Hebdo.Embora os dois irmãos Kouachi, mortos pela polícia num armazém ao norte de Paris, estejam sendo acusados por todas as ações que levaram aos ataques contra o jornal, não há ainda nenhuma explicação sobre um terceiro atacante. Um terceiro homem, cunhado dos Kouachis, de nome Mourad Hamyd, apresentou-se voluntariamente à polícia, depois que ouviu seu nome divulgado pela imprensa. Mas Hamyd, 18 anos, estava na escola, no momento do ataque contra Charlie Hebdo.

O ataque na estação de trem de Bolonha inaugurou a era dos ataques “sob falsa bandeira” dos tempos modernos. Embora, em 1980, o governo e a imprensa-empresa italianos tenham atribuído a responsabilidade por aquele ataque a guerrilheiros da esquerda radical italiana, já se sabe que o ataque foi executado por uma célula clandestina de fascistas radicais que conseguiram os materiais para a bomba em depósitos secretos pertencentes a uma unidade paramilitar clandestina da OTAN conhecida como “Gladio”.

A unidade conhecida como “Gladio” foi criada para mobilizar forças de guerrilha para combaterem contra os soviéticos, no caso de guerra em solo europeu. Armas e materiais foram enterrados e escondidos em cavernas por toda a Europa Ocidental, para uso futuro pelos guerrilheiros que lutassem contra possíveis tropas soviéticas de ocupação. Não demorou contudo para que a direita italiana e grupos armados sionistas tentassem usar o desacreditado Dossiê Mitrokhin, que teria sido extraído de arquivos da KGB, para atribuir a culpa pelo ataque em Bolonha aos soviéticos, que teriam atuado em conluio com árabes radicais, incluindo palestinos. A farsa durou pouco.

Atentado de Bolonha,  parte da Operação Gladio, uma série de atentados de "falsa bandeira" praticados por EUA (CIA) e Israel (Mossad)

Mais tarde descobriu-se que a CIA criara e distribuíra todas essas histórias, como parte de uma operação de guerra psicológica contra os soviéticos e os países árabes. De sua cela em Paris, em 2005, Ilich Ramirez Sanchez, conhecido terrorista conhecido como “Carlos”, revelou que os responsáveis pelas mortes em Bolonha foram CIA e Mossad, e que o tal “Dossiê Mitrokhin” estava sendo usado para “falsificar a história”. Fontes independentes confirmaram a veracidade do que Carlos dizia.

Desde Bolonha, as “pegadas” da inteligência ocidental em operações sob falsa bandeira são sempre muito evidentes, ataque após ataque. 40 anos de apego sempre à mesma doutrina, já fazem ver sempre, claras como o dia, as pegadas da inteligência ocidental.

Uma dessas “pegadas” que indicam a operação sob falsa bandeira é que a Polícia, muito convenientemente, sempre encontra “provas” que conectam os suspeitos ao crime – sejam agentes duplos que não sabem para quem trabalham, ou crentes que creem em qualquer história mal contada que lhes apareça pela frente.

Se logo aparece a tal “prova” que liga o suposto criminoso à cena do crime, já não há quem não pense em operação sob falsa bandeira. A Polícia francesa diz que ligou os Kouachis ao crime, porque Said, o irmão mais velho, esqueceu um documento francês de identidade num Citroen preto usado para a fuga. A Polícia não informou a qual dos dois irmãos pertenceria o documento. Vários especialistas franceses logo alertaram que o documento poderia ter sido plantado na cena, para confundir a Polícia. Também convenientemente, a Polícia encontrou coquetéis Molotov e bandeiras jihadistas islamistas no mesmo carro. O passaporte do suposto sequestrador de um dos aviões usados no 11/9, Mohammed Atta, também teria sido encontrado intacto, em perfeitas condições, no meio dos restos do World Trade Center.

WTC em 11/9/2001 (atentado de falsa bandeira)
Praticamente sempre, os verdadeiros assassinos em ataques sob falsa bandeira aparecem mascarados – como os três pistoleiros que assassinaram os cartunistas na redação de Charlie Hebdo.

Sempre há outros ataques na região, para confundir a Polícia. Por exemplo, enquanto a Polícia francesa concentrava suas buscas pelos pistoleiros do norte de Paris até a fronteira da Bélgica, uma policial feminina francesa foi atacada e morta em Montrouge, sul de Paris. As autoridades francesas apressaram-se a informar que os eventos no sul de Paris e na redação de Charlie Hebdo não estavam conectados. Depois se soube que, sim, havia conexão entre os dois crimes.

Algumas testemunhas no supermercado e no prédio do jornal estavam certas de que os mascarados que se revelaram como terroristas eram, de fato, soldados de forças especiais antiterrorismo. No supermercado, um homem que não foi ferido disse que apertou a mão de um dos mascarados, que ele supunha que fosse policial de forças especiais. Ao mesmo tempo em que a polícia francesa lançava suas operações para libertar reféns no supermercado kosher, era divulgada outra situação com refém numa joalheria em Montpellier, no sul da França. A Polícia apressou-se a informar que a situação nada tinha a ver com os eventos na região de Paris. Claro que o caso em Montpellier contribuiu convenientemente para reforçar a ação do fator medo.

PEGIDA - manifestação anti-imigrantes
Os eventos na França também deram forte impulso aos movimentos anti-imigrantes islâmicos que crescem por toda a Europa, desde o movimento PEGIDA (sigla em alemão para “Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente”) e o partido “Alternativa para a Alemanha”, até a “Frente Nacional” na França e o “Partido Independente” na Grã-Bretanha.

Acontecido tão imediatamente depois de a França ter votado no Conselho de Segurança da ONU a favor do reconhecimento da Palestina como estado, e se se considera o crescimento político, na França, da “Frente Nacional” pró-Israel, não se deve descartar a possibilidade de que a operação terrorista contra Charlie Hebdo seja ataque “olho-por-olho” [orig. a “price tag” attack] dos sionistas contra a França, mascarado como operação terrorista jihadista.
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[*] Wayne Madsen é jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da ativa projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha dos EUA. Tem sido comentarista frequente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al JazeeraStrategic Culture e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e do National Press Club. Reside em Washington, DC.

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