domingo, 18 de janeiro de 2015

Roubo de gás na Ucrânia, grosseria em Auschwitz... A Rússia tem todo o direito de por fim aos insultos

17/1/2015, [*] Finian Cunningham – Counterpunch
Traduzido por mberublue



Quantos insultos espera a Europa desfechar contra a Rússia sem consequências? Limpeza étnica contra o povo de fala russa levada a efeito pelo regime de Kiev, com o apoio da União Europeia, uma crise de refugiados na fronteira russa, sanções econômicas baseadas em acusações mentirosas que ferem a sociedade russa – e agora a cereja do bolo: finalmente a quadrilha de ladrões neonazistas que se apoderou do poder na Ucrânia com o apoio declarado da CIA e dos EUA, reconhecidamente é culpada de reiterados desvios das exportações de gás natural efetuadas pela Rússia para a Europa.

Para coroar tudo, veio o insulto maior: o presidente russo, Vladimir Putin, não foi convidado para as comemorações do 70º aniversário da libertação de Auschwitz. Volto a tocar nesse assunto posteriormente.

Primeiramente vamos discorrer sobre as exportações russas de bens naturais. Nesta semana, finalmente a Rússia respondeu ao incorrigível regime de banditismo de Kiev, comunicando que cortará todo o suprimento de gás através da Ucrânia, o que significa cerca de 40 a 50 por cento dos suprimentos russos de gás para a Europa. Estamos no meio do inverno na Europa com as temperaturas em queda livre e o movimento russo através da estatal Gazprom enviou os oficiais de Bruxelas para um estado que se avizinha do pânico puro e simples.

Sem dúvidas, a zelosa corporação da mídia ocidental se apressará em jogar sobre Putin a pecha de “vilão maior” em suas narrativas. As imagens de famílias congelando através da Europa serão atribuídas ao “gênio do mal” do “mentor soviético”.

O vice presidente para a energia da Comissão Europeia, Maros Sefcovic afirmou que a decisão de fechar as torneiras da Gazprom prejudicará a reputação russa como fornecedor internacional de suprimentos energéticos. Essa assertiva fez eco às afirmações anteriores de Gunther Oettinger, comissário europeu para a energia, que exortava a Rússia para não “politizar” o comércio de energia.

Considere isso como uma espécie amarga de humor irônico. A Rússia nada politizou; é a burocracia de Bruxelas juntamente com seus parceiros norte americanos que tem politizado tudo. Colocaram a Rússia em uma camisa de onze varas da qual se tornou impossível sair.

A propósito, o chefe executivo da Gazprom, Aleksej Miller, lembrou à mídia internacional que a Rússia tem sido um fornecedor de gás natural para a Europa nas ultimas quatro décadas – mesmo durante a agressiva guerra fria movida pelo ocidente.

Além disso, o fim do comércio de gás com a Europa não é o objetivo da Rússia com esse último corte do fornecimento de gás. A Rússia está planejando uma rota futura de fornecimento do gás através da Turquia. Como Miller asseverou, agora está nas mãos da União Europeia a construção dos gasodutos e infraestrutura necessária para levar os suprimentos de gás através do continente, na Grécia e além.

Entradas e saídas de gás para a Europa via Ucrânia
O objetivo da Rússia é simples: colocar fim ao roubo que de fato acontece, perpetrado pelo regime de Kiev que surrupia o gás enviado para a Europa. Pode haver coisa mais razoável?

É fácil imaginar a reação da Inglaterra se por acaso a Escócia resolvesse afanar parte do petróleo do Mar do Norte que circula pelo seu território. Como reagiria a França se parte de suas exportações de vinho fossem objeto de roubo por terceiros países? Ou imaginemos que os Estados Unidos repentinamente descobrem que o México está de alguma forma metendo a mão em parte de suas receitas de exportações norte americanas para o resto da América do Sul.

É uma reclamação absurda a que agora fazem dirigentes e funcionários do governo da União Europeia ao acusar a Rússia de “Chantagem energética”. Afinal, foi Bruxelas que forçou para acabar com a possibilidade de realização do gasoduto South Stream pelo Mar Negro no ano passado, obrigando a Rússia a voltar para a rota de transito através da Ucrânia. Como já dito, o circuito é inviável, devido ao desvio criminoso incessantemente praticado pelo regime de Kiev em relação ao gás enviado pela Rússia para a Europa.
O que a União Europeia queria que a Rússia fizesse? Que continuasse a dar gás de graça, quase uma esmola para o regime mafioso de Kiev, que além de não pagar pelo suprimento de gás que recebe continua com o bombardeio e morte de russos étnicos na região do leste ucraniano?

A Rússia, como qualquer país, tem todo o direito do mundo ao proteger seus interesses econômicos vitais. Um gasoduto alternativo através da Turquia proporcionará uma complementação ao gasoduto Nord Stream, já existente, de suprimento de gás através do Mar Báltico para a Alemanha. Dessa forma, torna-se de ridículo atroz acusar a Rússia de estar a cortar os suprimentos de gás para a Europa. O que a Rússia faz é simplesmente acabar com uma interferência ilegal em suas exportações por terceiros. No caso, o Reich de Kiev.

Claro que esta situação trará uma série de problemas críticos de abastecimento para a União Europeia durante o inverno, até que a nova rota através da Turquia seja implementada, mas isso não é problema da Rússia; é problema de Bruxelas e por ela mesma criado, por ter bloqueado a construção do gasoduto South Stream e por sua indulgência persistente ao regime de Kiev, apesar de todos os seus crimes.


Em qualquer caso, são inúteis as reclamações da União Europeia no sentido de que a Rússia estaria prejudicando sua reputação como fornecedor internacional de energia. A Rússia já encontrou um novo mercado para sua energia, tendo assinado, através de Vladimir Putin e Xi Jinping, um contrato para o fornecimento de gás para a China no valor recorde de US$ 400 bilhões (vide reportagem acima). Há projeções de que mercado asiático para aquisição de produtos energéticos deve superar de muito o mercado da União Europeia. Além disso, a parceria Moscou/Pequim será financiada com rublos e yuans, o que aliviará a Rússia e a China da dependência artificial em relação ao dólar ou ao euro.

Parece que a arrogância da Europa subiu ao máximo quando pretende falar com a Rússia sobre ética no comércio, quando se sabe ter imposto contra a Rússia sanções e embargos imotivados, baseada em acusações sem fundamento de que a Rússia estaria interferindo na Ucrânia. Ora, é a elite da União Europeia e seus aliados em Washington que tem interferido sistematicamente na Ucrânia, provocando uma guerra de agressão no leste daquele país, com a morte até agora de cerca de 5.000 pessoas apenas no ano passado e produzido um milhão de refugiados. Caso fosse realmente respeitada a lei internacional, quem teria que sofrer sanções seriam Washington e Bruxelas, independente de serem processados pela onda de criminalidade que assola a Ucrânia na forma do regime de Kiev.

A hipocrisia de dois pesos e duas medidas fica ainda mais evidenciada com a atual revogação unilateral que a França perpetrou em relação ao contrato com a Rússia para a construção e entrega de dois navios de guerra. A Rússia já pagou para a França um bilhão de dólares para a entrega dos navios de classe Mistral. Enquanto isso, a França se recusa a honrar o contrato. Uma forma de se referir a isso eufemisticamente, seria denomina-la de “pirataria”, e ainda assim não seria o bastante.

Consta que Washington declaradamente está respirando no pescoço do governo da França, para que não recue de sua vergonhosa negativa de cumprir o contrato de entrega dos navios Mistral para a Rússia. Isso faz com que a reputação da França sofra ao mesmo tempo dois abalos: Não apenas deixa de ser confiável como um parceiro comercial internacional; mostra à evidência que sua “independência soberana” está à mercê dos desejos de Washington. Como poderá alguém confiar no governo francês em honrar qualquer coisa depois dessa submissão abjeta?

Mas finalmente, chegamos ao golpe de misericórdia da insolência europeia contra a Rússia: o presidente francês François Hollande e seu congênere alemão Joachim Gauk estarão entre os líderes europeus nas festividades do 70º aniversário da liberação do campo de morte nazista de Auschwitz. As cerimônias serão presididas pelo presidente polonês Bronislaw Komorowski. Propositadamente, um convite não foi enviado para Moscou e o porta voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov disse nesta semana que, por este motivo o presidente russo não participaria do evento.

Auschwitz - vista dos crematórios
Em janeiro de 1945, foi o Exército Vermelho russo que libertou o campo de morte alemão, que desde essa época simboliza os crimes da Alemanha nazista e do fascismo europeu em geral. As tropas russas colocaram em liberdade milhares de poloneses, judeus e europeus de outras nacionalidades, livrando-os da morte iminente em Auschwitz, onde mais de um milhão de pessoas já havia perecido. O regime francês de Vichy, colaborador dos nazistas alemães, enviou centenas de milhares de pessoas ao encontro da morte em Auschwitz e outros centros de exterminação.

Setenta anos depois, a Rússia é alijada das comemorações daquele que talvez tenha sido o seu maior e mais heroico feito e contribuição para a Europa: a derrota da Alemanha fascista e seus programas de exterminação em massa.

É espantoso o quão rapidamente está sendo reescrita a história da Europa – e os que a reescrevem são os perpetradores dos maiores horrores da Terceira Guerra Mundial. Apesar de tudo o que já fez, a Rússia continua a ter que aguentar insultos e provocações de uma elite europeia profundamente ingrata.

Mas por que nos surpreendemos? A Rússia salvou o pescoço da Europa do fascismo e continua atualmente a salvar o pescoço da Europa de congelar a cada inverno, através do suprimento de gás natural. Apesar de tudo o que já fez, a Rússia continua a ter que aguentar insultos e provocações de uma elite europeia profundamente ingrata.

Passa da hora do surgimento das consequências pela hedionda e cega arrogância europeia. A Rússia pode buscar reciprocidade em qualquer lugar do mundo – e deixar que os incorrigíveis e ingratos europeus congelem, se quiserem!



[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.

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