sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Nouriel Roubini em Davos: Governo dos EUA opera com “corrupção legalizada”

21/1/2015, DSWrightFiredoglake
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Embora possa haver confusão entre alguns nos EUA sobre como opera o sistema político norte-americano, tudo indica que os participantes do Fórum Econômico Mundial que se reúne em Davos, Suíça, já sabem que a política nos EUA feita à base de propinas e corrupção.

Numa entrevista em Davos à rede Bloomberg News relacionada a preocupações com a desigualdade crescente e a influência no sentido de corrupção também crescente, que essa desigualdade gera na política dos EUA, o economista e professor de negócios na New York University Nouriel Roubini disse, sem pestanejar nem qualquer hesitação, que será muito difícil para os EUA superarem a desigualdade entre ricos e pobres, porque o sistema político nos EUA opera baseado na “corrupção legalizada”, o que significa que os ricos, sempre com mais recursos para subornar políticos [e a imprensa-empresa], prevalecerão sempre.

Tom Keene, Bloomberg: Que dimensões terá o efeito plutocracia em 2015?

Nouriel Roubini: Significativo, porque estamos numa democracia na qual supostamente seria “um homem, um voto”, mas a realidade é que os bilionários, os que têm poder econômico e financeiro, podem afetar a legislação sobre impostos, sobre ganhos de capital, sobre interesses distorcidos pelos que têm aquele poder político.
Nos EUA, se se pensa bem, temos um sistema de corrupção legalizada. K Street [1] e os grandes lobbies alteram as leis, com o dinheiro que distribuem entre os políticos; é assim que quem tem recursos financeiros tem impacto maior sobre o sistema político que os que quem não têm. Por isso não é verdadeira democracia: é uma plutocracia.

Não que seja novidade, para quem preste atenção. Na verdade, a Universidade de Princeton produziu estudo exaustivo que andou pelas manchetes, no qual demonstra que a riqueza determina a forma final das leis (o que o estudo chama de “resultados legislativos”) no Congresso dos EUA.

Acrescente-se a isso um experimento do grupo progressista CREDO e de UC Berkeley no qual os pesquisadores ofereciam aos deputados encontros com eleitores reais e com doadores não eleitores; e os deputados sempre escolheram com mais frequência os doadores, e você com certeza terá o retrato de um sistema cínico, comandado pelo dinheiro.

De novidade, só, que a coisa já seja tão óbvia a ponto de intelectuais e especialistas importantes como Roubini concluírem que “corrupção legalizada” é a melhor expressão para descrever o sistema político nos EUA.

O pessoal já nem tenta enganar. Nunca caímos tão baixo.
___________________________

Nota dos tradutores
[1] K street - Rua, em Washington, onde se localizam os principais escritórios de lobbyingthink tanks, advogados e grupos de pressão [com informações da Wikipedia].
________________________

[*] Nouriel Roubini (nasceu em Istambul, Turquia em 29/3/1959) é um economista estadunidense, de origem de judeus iranianos da Stern School of Business da Universidade de Nova York, desde 2009. É também presidente do grupo de consultoria RGE Monitor, especializado em análise financeira.
No início dos anos 2000, Roubini foi apelidado Dr. Doom ou Doutor Catástrofe em razão das suas previsões econômicas catastróficas - ou, pelo menos, muito mais pessimistas do que as da maioria dos economistas, na época.
Em 2005, segundo a revista Fortune, Roubini afirmou que “o preço dos imóveis residenciais surfava em uma onda especulativa, que brevemente faria afundar a economia”. Naquela época, foi qualificado de Cassandra. Agora, é considerado um sábio. Suas previsões atuais são igualmente apocalípticas: uma recessão persistente, com mais de dois trilhões de dólares de perdas em créditos e uma crise bancária sistêmica. “O FDIC gastou 10% das suas reservas para socorrer IndyMac, e esta foi a primeira onda de falências”,  diz Roubini.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.