sábado, 26 de julho de 2014

Alguns indicadores (recado do Saker)

25/7/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
Caros amigos,

Tenho de encarar algumas “questões organizacionais de fundo” que estão tomando muito do meu tempo, então ainda não posso escrever hoje um Relatório de Situação completo. Espero fazer isso no fim de semana. Mesmo assim, queria anotar algumas coisas que me parecem importantes.

1) Estamos todos, todo o tempo, lidando com propaganda, contrapropaganda e contra-contrapropaganda. Mesmo assim, há alguns indicadores nos quais se pode acreditar no quadro geral da guerra na Novorrússia.

Todos já leram que Yatseniuk renunciou. Mas será que também já sabem que a KGB dos Ukies (chamada SBU) está investigando três altos comandantes militares, acusados de alta traição?! Pois está. Já começou o jogo de “a culpa é sua” pelo desastre no caldeirão sul, em Kiev.

De fato, quem queira ler relato detalhado sobre o quanto as coisas estão muito ruins para os Ukies por lá, e se ler russo, clique aqui (se não lê russo, use um tradutor automático, que é suficiente). Tenha em mente que quem escreve é um Ukie que chama a resistência de “terroristas” e compara a Rússia ao ocupante nazista da IIª Guerra Mundial. Ainda assim, a imagem que se obtém daquele relato “ao vivo” é de um total desastre militar.

Pessoal! Se os Ukies estivessem ganhando, não haveria renúncia, nem jogos de “a culpa é sua”, nem relatos de desastres militares. Todas as evidências apontam para o total colapso do Banderastão, desabado sob o peso da própria estupidez e ódio cego.

2) Parece que a OTAN está pirando, em surto de medo que os Ukies sejam empurrados de volta para bem dentro do Ocidente. A OTAN, servindo-se de seu estado-escravo-colônia preferido na Europa central está considerando a possibilidade de construir um quartel-general avançado na Polônia, para uma projeção de poder na direção oriental, i.e., a Ucrânia. Não concordo com eles, ninguém invadirá o Banderastão; para as razões, leiam minha anotação seguinte, a última de hoje.

3) Vocês perceberam algum ator protagonista, potencialmente importante, se não crucial, que está totalmente ausente da ação nessa guerra? Já adivinharam sobre quem estou falando?

Províncias (oblasts) da Ucrânia
Onde está o resto da Ucrânia, especialmente ao leste do rio Dniepr? O que está acontecendo nas regiões de Carcóvia, Dnepropetrovsk, Zaporozhie, Mikolaev, Kherson e Odessa? E quanto às regiões de Poltava, Chernigov e mesmo de Kiev? Acertou quem respondeu: nada. Nada de insurgência local, nada de guerrilha, nada de desobediência civil, nada de protestos, nada de sabotagem, nada-de-nada.

Como é possível? Bem... com certeza porque há ali campanha efetiva de terror, especialmente em Carcóvia e Odessa. Nas duas cidades, campanha gigante de terror já meteu centenas de pessoas nas prisões, ou sequestradas, ou “desaparecidas”, torturadas, ameaçadas e assassinadas. Mas... e daí? Será que alguém pensa que os esquadrões-da-morte de Kolomoiskii seriam mais cruéis e mais efetivos que esquadrões-da-morte nazistas da IIª Guerra Mundial? Porque mesmo durante toda a ocupação nazista houve constante e muito efetivo movimento de resistência partisan em todo o território da Ucrânia, e que infligiu ENORMES danos às forças alemãs.

Até aqui, os únicos atos de sabotagem de que eu soube foram explosões de gasodutos da Rússia para a União Europeia, e o mais provável é que tenham sido obra do Setor Direita. Assim sendo, aí está o fato: a maior parte da Ucrânia do Leste NÃO SE UNIU à resistência de Donetsk e Lugansk.

Em termos práticos, isso significa que, ante a escolha entre (I) resistir contra a Junta nazista e unir-se à Resistência, ou (II) rezar para sobreviver no Banderastão, a maior parte do leste da Ucrânia escolheu a segunda via. Isso, por sua vez, limita severamente o âmbito de uma possível reversão das forças Ukies. Se a Rússia não acredita que agora uma intervenção militar seja necessária agora em Donetsk/Lugansk (e os fatos em campo parecem comprovar essa conclusão); e que a ajuda clandestina basta (e os fatos em campo parecem comprovar também essa conclusão), então todos podem ter absoluta certeza de que Putin não mandará tanques para Lvov, nem mesmo para Kiev. Quanto aos líderes novorrussos, podem continuar a escrever “até Kiev” em seus tanques, mas não acontecerá sem apoio militar dos russos.

A Gazprom pode paralisar  o fornecimento de gás para a Naftogaz
Claro que com a economia Ukie já agora claramente ruindo (oficialmente o dinheiro acabará dia 1º/8/2014!), é possível que haja protestos e até insurreições no resto do Banderastão, em breve. Mas eu, pessoalmente, não aconselharia ninguém na Rússia ou em Donetsk a fazer confluir um contra o outro, os movimentos de libertação nacional da Novorrússia e o descontentamento econômico gerado pela crise no resto da Ucrânia.

Lamento ter de dizer, mas parece que, se a Junta nazista em Kiev conseguir criar algum milagre econômico, nesse caso a maior parte da Ucrânia não terá objeções contra viver em estado nazista odiador de russos. É desgraça para eles, claro, mas será triste e duro teste de realidade para a Rússia: se é verdade que muitos ucranianos provavelmente não gostam muito da Junta nazista, eles tampouco se interessam muito pela Rússia: e só se interessam, mesmo, pelo próprio bem-estar. Se receberem dinheiro suficiente, nada farão, por mais que os nazistas dos esquadrões-da-morte aterrorizem e assassinem todos que mantiverem qualquer identidade russa. A Novorrússia, se vier a acontecer, não será muito maior que as duas regiões, de Luganks-Donetsk.

Por hora é isso. Tenho de dar conta de muito trabalho (no espaço virtual e no espaço de carne e osso). Estarei outra vez online hoje, mais tarde da noite.

Saudações,


The Saker

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