terça-feira, 27 de maio de 2014

Ucrânia: Anatol Lieven sobre o quadro maior

27/5/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Uma palestra-conferência (vídeo em inglês  no fim do parágrafo) proferida por Anatol Lieven, do King's College, em Londres, dia 14/5/2014. Como sempre, Lieven, que conhece bem o leste europeu, oferece perspectiva sã e realista e, portanto, expõe a loucura absoluta das políticas “ocidentais” contra Ucrânia e Rússia. São cerca de 100 minutos, a fala do conferencista e as perguntas e respostas, mas valem cada minuto.


Além da Ucrânia, há um ponto importante sobre o qual Lieven fala nas perguntas e respostas, não sobre a Rússia, mas sobre a China. No vídeo, em 1h25', Lieven fala sobre falsas “garantias de segurança” dadas por EUA e Reino Unido, e sobre como ninguém – no final das contas – garante segurança alguma. Esse fato bem conhecido enfraquece as tais “garantias”.

Com essa ideia em mente, Lieven fala sobre a China (1h27’40"):

Acho que os norte-americanos foram terrivelmente tolos, nesse ponto. O que fizeram enfraquece a credibilidade deles em outras alianças (...) Se os EUA estendem à China o tipo de atitudes e de políticas que têm tido para a Rússia ao longo da última geração, nesse caso, senhoras e senhores, nos veremos numa outra vasta guerra internacional a qual porá em ruínas a economia do mundo e, com ela, provavelmente, muitas democracias em todo o planeta, incluindo a nossa democracia. Espero que o fato de que a política dos EUA que faça tal coisa muito merece o resultado que colherá sirva de consolo e conforto aos nossos descendentes.

Não é medo descabido. As “garantias de segurança” dos EUA já estão inflamando a situação (A Guerra Fria cada dia mais quente na Ásia), no mesmo momento em que se vai configurando devastadora guerra ciber e financeira contra a Rússia.

Políticas ensandecidas, dos EUA para a Ucrânia, empurraram Rússia e China (e o Irã) para uma aliança estratégica (informal) que já provoca mais que simples dor de cabeça aos estrategistas e planejadores norte-americanos. Pode(ria) uma potência marítima prevalecer sobre aliança de poder terrestre forte e autossuficiente?

Como observa o Carnegie Moscow Center:

Seja no Euro-Atlântico ou no Ásia-Pacífico, as relações entre as grandes potências vão-se tornando mais contenciosas, com uma coalizão eurasiana ainda frouxa emergindo para reduzir a dominação dos EUA sobre a política global. Nada que se assemelhe à aliança sino-soviética dos anos 1950s, mas a consolidação do pivô russo para a Ásia é importante resultado da primeira fase da crise na Ucrânia, que continuará a remodelar a paisagem estratégica global.

Seguinte: os EUA têm de agradecer a Victoria Nuland e a Hillary Clinton – que meteu lá a Nuland, como vice-secretária de Estado para a Europa – por essa escandalosa loucura-total.


[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como  “Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça  Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog  Moon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:


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