quinta-feira, 15 de maio de 2014

A lógica estranha dos EUA e da UE: o referendo do leste ucraniano não é democrático, mas o regime de Kiev, imposto através do golpe é?

13 de maio de 2014,.[*] Mahdi Darius Nazemroaya Global Research
Traduzido por mberublue

Trabalho dos apuradores do referendo. Ao fundo a bandeira de Donetsk
Fraude. Farsa. Antidemocrática. Ilegal. Realidade alternativa. Credibilidade zero. Absurdo. Assim, com essas palavras, os Estados Unidos e países membros da União Europeia falam dos referendos de 11 de maio de 2014 no leste ucraniano. Em linguagem alarmista e russófoba, EUA , União Europeia e OTAN culpam a Federação Russa pela organização da votação no leste ucraniano.

Jennifer Psaki
A super incompetente porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jennifer Psaki, contratada apenas pelo currículo nas campanhas do Partido Democrata, não por proficiência em relações internacionais ou assuntos externos, descreve o referendo realizado na região do extremo leste, em Donetsk e Lugansk, como nada além de repetição, pela Rússia, da “cartilha da Criméia”. Papagueia o que diz o chefe dela, o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

William "vago" Hague

O Secretário do Exterior da Inglaterra, William Hague, declarou que os votos não teriam peso; que teriam credibilidade zero. Anunciou que as votações no leste ucraniano “não cumprem as normas, mesmo as simples normas de objetividade, transparência, equidade e não foram sequer conduzidas como devem ser eleições ou referendos”; que os organizadores não passariam de impostores fingindo atender vagamente as tais ‘normas’. Justamente, por causa do reconhecido talento para a retórica oca, o Secretário Hague ganhou o apelido de “William Vague” (“William Vago”). O modo vago de falar é usado deliberadamente para desacreditar o processo democrático ocorrido no leste ucraniano.

Antes do referendo, e dividindo o mundo entre nações “civilizadas” e “bárbaras”, John Kerry ‘declarara’ que nenhuma nação “civilizada” reconheceria o resultado da votação no leste ucraniano. O que o principal diplomata do staff americano pretensiosamente tentou, com essa linguagem etnocêntrica e pondo a nu o desespero de Washington, é que os EUA e seus aliados representam a nata da civilização e que nação que não siga os ditames de Washington estar-se-ia afastando desses limites e passaria a ser, portanto, “não civilizada”. Os países “não civilizados” aos quais ele se referia são a Rússia e seus aliados e parceiros como a Armênia, Belarus, Venezuela, Cuba, Bolívia, Tadjiquistão e Irã.

Ódio é amor. Guerra é paz. Os neonazistas são democráticos.

Que não se perca a ironia. Exatamente as mesmas palavras usadas pelo governo dos Estados Unidos e da União Europeia para descrever a votação nos referendos do leste ucraniano encaixam-se com precisão na descrição do regime liderado por Arseniy Yatseniuk, que foi instalado pela força, por violento golpe apoiado pelos EUA em fevereiro de 2014. É flagrante o uso claro de dois pesos e duas medidas pelos Estados Unidos e seus aliados nas suas condenações aos referendos nas regiões de Donetsk e Lugansk.

Quando um processo perfeitamente democrático ocorre de forma pacífica na Ucrânia, com o povo votando de verdade, os Estados Unidos e a União Europeia irônica e comicamente declaram que o referendo “não tem legitimidade democrática”.

Pode se pensar o que se queira sobre a legitimidade dos referendos no leste ucraniano, mas tiveram grande apoio popular e alta participação. Os ucranianos do leste reuniram-se em massa em longas filas de votação, apesar de o regime em Kiev ter usado táticas para amedrontá-los. Grandes multidões se reuniram para votar, mesmo que o regime não eleito de Yatseniuk e apoiado pelos EUA – e que incorporou oficialmente gangues de bandidos ultranacionalistas armados que executaram o golpe de fevereiro deste ano como parte do aparato militar e de segurança – tenha usado aquelas milícias armadas dentro das cidades a fim de interromper a votação. Feriram e mataram civis desarmados neste processo, ao tentar interromper a votação, sob a alegação de uma “operação antiterrorismo” do regime apoiado pelos Estados Unidos.

Dizem que uma foto fala mais que mil palavras. Seguem-se fotografias que devem bastar para fazer calar o ruído que fazem os manipuladores de opinião instalados em Kiev e seus mestres em Washington e na União Europeia. 











Cédula de votação

Urnas tranparentes

Urnas transparentes
O regime de Yatseniuk não apenas teve a audácia de questionar a legitimidade das autoridades locais no leste ucraniano, mas tentou também estabelecer ali uma espécie de lei marcial. 

Se o movimento na Praça EuroMaidan foi movimento democrático, e teve a ver com o direito de os ucranianos escolher líderes populares, por que os ucranianos do leste não poderiam escolher seus próprios líderes populares? Por que Yatseniuk teriam algum ‘direito’ de impor aos ucranianos o seu próprio regime? E por meios violentos?! Tudo isso seria compatível com as palavras ditas por Yatseniuk, Timoshenko e respectiva gangue?

EUA e UE sempre foram contra conceder poder real ao povo.

Não se pode esquecer que, questões de legalidade à parte, sempre que o autêntico “poder popular” está em jogo em lugares como o leste ucraniano, ou o Barein, e o povo comum está lutando por seus direitos, os Estados Unidos e a União Europeia invariavelmente se opõem: e invariavelmente apoiam tiranos opressores, contra a população.

Os que Yarseniuk chama de “terroristas” são cidadãos pacíficos e desarmados que se organizam no leste da Ucrânia para fazer valer seu desejo; e governos e a rede de imprensa-empresa em todo o ocidente dão apoio aos golpistas instalados em Kiev e já os chamam de “insurgentes”. É manipulação deliberada do termo, com o fito de equiparar todo o povo da Ucrânia Oriental a amotinados, o que justificaria suspender todos os direitos democráticos no país. “Amotinado” é quem se rebela contra autoridade legítima. Mas, na Ucrânia, não há autoridade legítima.

Os transgressores e criminosos são, isso sim, a Junta neonazista de Yatseniuk e seus patrocinadores estrangeiros. O regime títere que ilegalmente ocupa os gabinetes do governo e seus supervisores em Washington e na União Europeia não têm autoridade nem moral nem legal para pregar sermões sobre referendos ou sobre democracia, depois de violentar a Ucrânia e mutilar a democracia ucraniana.

A mídia ocidental, que tenta a todo o tempo minar a Ucrânia Oriental não consegue mostrar os fatos reais nem ali, nem na metade ocidental da Ucrânia. Tentam distorcer os fatos que aconteceram no leste ucraniano. Tentam inculpar a Rússia pelo incêndio que eles próprios atearam na Ucrânia, usando estes acontecimentos como justificativa para suas reais intenções em longo prazo, de paralisar a Rússia e seus aliados, que agora estão surgindo.

São mentiras deslavadas sobre a votação no leste ucraniano, numa tentativa de desacreditá-la. Mesmo levando-se em consideração suas falhas e falta de uniformidade – que pode ser facilmente observado nas imagens do processo de votação – é extraordinário, ainda mais depois que o governo ilegal de Kiev tentou obstruir a votação, que a comunidade da Ucrânia Oriental tenha conseguido oganizar e concluir os referendos. Voluntários usaram escolas e prédios públicos para o processo de votação.

Um dos truques sujos usados pelo regime de Yatseniuk foi bloquear o acesso das autoridades no leste ucraniano a censos mais atualizados e a listas de eleitores. Por esse motivo, as autoridades locais foram obrigadas a valer-se de registros eleitorais mais antigos. O regime em Kiev também deve ser responsabilizado por essa falha e não apenas as autoridades locais da Ucrânia Oriental. Se o referendo não foi mais justo ou mais bem organizado, a responsabilidade cabe ao governo da junta neonazista de Yatseniuk.

Em Kosovo, na Sérvia, província predominantemente albanesa e onde não houve referendo, as posições da União Europeia e dos Estados Unidos foram totalmente diferentes e eles reconheceram a independência da província sem qualquer consulta ou votação popular.

Os ucranianos do leste, tomando suas próprias decisões, querem dissociar-se do regime de Kiev, imposto pelo golpe. E não se pode esquecer dos ucranianos ocidentais. Na metade ocidental do país, muitos ucranianos estão reféns das milícias e demais forças que sequestraram sua república.


A posição adotada pelos EUA e pela União Europeia, na Ucrânia 2014, envergonha o ocidente. 
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[*] Mahdi Darius Nazemroaya é cientista social, escritor premiado, colunista e pesquisador. Suas obras são reconhecidas internacionalmente em uma ampla série de publicações e foram traduzidas para mais de vinte idiomas, incluindo alemão, árabe, italiano, russo, turco, espanhol, português, chinês, coreano, polonês, armênio, persa, holandês e romeno. Seu trabalho em ciências geopolíticas e estudos estratégicos tem sido usado por várias instituições acadêmicas e de defesa de teses em universidades e escolas preparatórias de oficiais militares. É convidado freqüente em redes internacionais de notícias como analista de geopolítica e especialista em Oriente Médio.  
Atualmente, em viagem pela América Central, está com a Frente Sandinista de Libertação Nacional, em sua base em León, na Nicarágua. Esteve como observador internacional em El Salvador, no primeiro turno das eleições em El Salvador, onde esteve em contato com funcionários do governo salvadorenho.

Um comentário:

  1. Essa politica norte americana na Ucrania faz parte do programa neoconservador de destabilizar, destruir Russia. Dividi-la em tres republicas independentes, como expressou Brzezinsky. em seu artigo publicado em 1977, A Geostrategy for Eurasia.Derrotados no ano passado na sua tentativa de atacar Siria, usando o pretexto do uso de gaz Sarin, o governo norte esta tentando utilizar a Ucrania, como forma de forcar Putin abandonar Assad. Como essa aventurana Ucrania tambem parece estar caminhando rumo ao fracasso, os EUA estao planejando acirrar os eventos na Siria. Primeiro foi atacar Ucrania, para compensar a derrota na Siria, agora e atacar Siria para compensar derrota na Ucrania.

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