quinta-feira, 20 de março de 2014

Hoje, todas os homens e mulheres livres do mundo venceram

18/3/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Sentimos que vencemos; o Líbano venceu; a Palestina venceu; a nação árabe venceu, e todas as pessoas oprimidas, ofendidas nesse mundo também venceram.
Nossa vitória não é a vitória de um partido.
Repito o que disse dias 25/5/2000 em Bint Jbeil:
“Essa não é a vitória de um partido ou de uma comunidade; é uma vitória para o Líbano verdadeiro, para o verdadeiro povo libanês e de todos os homens e mulheres livres no mundo”.
Não distorçam essa grande vitória histórica.
Não a prendam num partido, num clã sectário, de comuna ou de região.
Essa vitória é grande demais para que a compreendamos.
As próximas semanas, próximos meses e anos confirmarão isso.

Sayyed Hassan Nasrallah, Divine Victory Speech [Discurso da Divina Vitória], 2006

The Saker
Passados os últimos dias, realmente inacreditáveis, que viram desenvolvimentos que se sucederam em fantástica rapidez, é hora me parece de refletir com calma e cuidado sobre o que considero momento histórico de extraordinária magnitude. 

Em termos formais, esse evento será lembrado como o Discurso do Presidente Vladimir Putin da Rússia, aos Deputados do Parlamento Russo, membros do Conselho da Federação Russa, governadores de regiões da Rússia e representantes da sociedade civil, no Kremlin. De fato, é claro, foi muito mais que isso. Foi a fala da Nova Rússia ao mundo e, especialmente, aos muitos que rejeitam o modelo social, econômico e político encarnado no atual Império Anglo-Sionista, codinome “O Ocidente”, inclusive os que vivem no chamado “Oeste”.

A grande desconexão entre o 1% e o 99%

Nas horas que se seguiram ao discurso de Putin, diverti-me constatando a total desconexão entre o que eu acabava de ouvir e a reação do povo da Rússia de um lado, e, de outro lado, o modo como a imprensa-empresa cobria o evento. Na Rússia, políticos importantes comparavam o que acontecera ali à vitória contra a Alemanha nazista em 1945; repetiam e repetiam que o que acabara de acontecer criava uma nova ordem, e que a natureza do sistema de relações internacionais havia mudado para sempre. Pois a imprensa-empresa ocidental só sabia falar sobre a pompa da cerimônia na qual, para aqueles jornalistas, Putin teria justificado a anexação da Crimeia. Será que ouviram outro discurso, diferente do que eu ouvira?

Mas, então, começaram as reações dos leitores de meu Blog, que, em números sempre crescentes, escreviam que havia assistido ao discurso de Putin com lágrimas nos olhos. [1] Muitos elogiavam Putin em termos que fariam os responsáveis pelas Relações Públicas do Kremlin corar, embaraçados. O que estava acontecendo?! Bem evidentemente, não se tratava apenas de meus leitores terem avaliado só os conteúdos da fala de Putin e manifestarem seu pleno acordo com aquelas posições. Não. Meus leitores estavam tomados de uma profunda reação emocional a algo que haviam experimentado como emoção profunda, almas e entranhas, reação a algo que ecoara profundamente dentro deles. Por quê? Bem poucos daqueles leitores têm qualquer conexão com a Rússia, nem raízes russas de qualquer tipo. Alguns serviram nas forças armadas dos EUA contra os vietnamitas apoiados pelos soviéticos. A maioria tem idade suficiente para lembrar vivamente a Guerra Fria e saber como era viver sob alvo das armas nucleares dos soviéticos. Pois até esses rejeitavam total e completa e absolutamente a formulação homogeneizante distribuída pela imprensa-empresa. Todos adotavam ponto de vista completamente diferente.

Por quê?

Devo dizer aqui que, desde que meu blog ganhou maior visibilidade (mais ou menos há cerca de seis meses) passei a receber muitos e-mails de, literalmente, todos os cantos do mundo, e muitos desses e-mails eram muito emocionais, escritos visivelmente “com o coração nos teclados”, e muito frequentemente me davam a impressão de que meu correspondente mal continha uma quantidade imensa de dor, frustração, não raras vezes, de ira, ao mesmo tempo em que deixava fluir mais livremente uma ainda muito maior gratidão e apreciação pelo que eu tentava fazer com, e obter mediante, esse blog. E, outra vez, pus-me a pensar: O que estaria eu fazendo, para acionar tantas emoções e ser objeto de tanta gratidão?!

Afinal de contas, jamais quis que meu blog servisse como “agrada-multidões”. Sempre quis ser, apenas, blog de “anonimato ralo”, em que um sujeito solitário deixa falar a própria cabeça, tentando estimular uma livre troca de ideias. Pois mesmo assim, alguns leitores chegaram a escrever que meu blog “mudou a vida deles/delas”. Como assim?! Por quê?! Como?! A reação deixou-me muito intrigado, digo-o sinceramente.

E foi quando, então, entendi.

Muita gente andava faminta, morrendo de fome, literalmente à míngua de informação correta, verdadeira. E mesmo quando não concordavam com o que eu escrevia, o que acontecia com frequência, mesmo assim continuavam gratos pelo fato de eu não trabalhar por nenhuma agenda nem política nem empresarial; e eu simplesmente escrevia as coisas como eu as via, escrevendo sempre com sinceridade. Entendi afinal que muita gente percebe claramente quando lhe mentem, mas as pessoas simplesmente não têm os meios para chegar à verdadeira história, nem, sequer, têm os meios para chegar aos fatos como acontecem e poder reunir os pontos, cada um por si.

No caso do meu blog, o fato de eu ser fluente em cinco línguas significava que podia ajudar muita gente a superar a barreira do idioma; e meu passado como analista militar, que conheceu “por trás do palco” a verdadeira cara do Império Anglo-Sionista, tornava mais fácil para mim desmascarar muitas, mesmo que não todas, as mentiras da imprensa-empresa.

Por fim, o fato de eu não ter agenda política nem filiação partidária de nenhum tipo, embora tenha opinião firme – e frequentemente idiota – sobre vários assuntos, sempre significaria que eu não estaria tentando “vender meu peixe”. As coisas sempre foram ditas aqui como eu bem as entendi, e absolutamente nunca fez diferença alguma para mim o que as pessoas pensassem das minhas ideias.

Um dos muitos efeitos positivos do “anonimato ralo” (defino como “ralo” o anonimato suficiente para conseguir que os leitores se concentrem nas ideias, não nas personalidades; anonimato suficiente para não ser perturbado por idiotas, mas anonimato que absolutamente não me esconde de quem faça algum esforço, mesmo muito modesto, para me identificar) é que ajuda a mostrar que absolutamente não estou tentando vender, sequer, o meu nome. Não. O que aqui se passava era coisa mais básica, e uso uma imagem para me explicar melhor: não é que a comida que eu cozinhava fosse excepcionalmente saborosa; é que meus convidados chegavam realmente mortos de fome; e, como dizem os irlandeses, “o melhor tempero é a fome”.

Acho também, muito fortemente, que essa “fome” explica a reação muito forte e muito emocional que muita gente teve, depois de ouvir a fala de Putin. Claro que era mais que Crimeia, Ucrânia, mais, até, que a Rússia. Esses foram os gatilhos que levaram a acionar uma reação russa que ninguém sequer imaginava seriamente que fosse possível. Mas muitos sentiram que algo muito mais importante acabara de acontecer.

Do quê, afinal, estou falando? Voltemos ao discurso de Putin, para analisar mais de perto alguns dos principais segmentos (o discurso pode ser lido, traduzido, no Blog redecastorphoto; e há vídeo de Russia Today, ing. [NTs]). Insisto que quem não ouviu nem leu o discurso, que o leia do começo ao fim; sendo possível, leia e assista ao vídeo, na íntegra, a seguir (com tradução simultânea em espanhol):


A mensagem de Putin ao mundo

Como era de prever, a fala de Putin começou por discutir os recentes eventos na Crimeia, inclusive os resultados do referendo. Falou sobre o que Crimeia e Sebastopol significam para a história, a cultura e a nação russas, e lembrou os sofrimentos que o povo tártaro padeceu durante o período soviético. Delineou as circunstâncias nas quais Nikita Khrushchev, por sua conta (e ilegalmente) transferiu a Crimeia, da Federação Russa para a Ucrânia e como, depois do fim da União Soviética, a Ucrânia padeceu sob governos de líderes corruptos. Explicou como os legítimos protestos do povo ucraniano foram literalmente sequestrados por outros agentes, diferentes e violentos: 

Quero reiterar que compreendo os que saíram à Praça Maidan levando seus slogans pacíficos contra a corrupção, contra a administração ineficiente do estado e contra a pobreza. O direito ao protesto pacífico, eleições e outros procedimentos democráticos existem exclusivamente para a finalidade de substituir governantes que não satisfaçam ao povo. Mas os que estavam por trás dos recentes eventos na Ucrânia tinham uma agenda diferente: estavam preparando já outra derrubada de regime; queriam o poder para eles, e nada os deteria. Recorreram ao terror, ao assassinato, à violência nas ruas.

Aquele golpe foi executado por nacionalistas, neonazistas, russófobos e antissemitas. (...) Não há como não ver as intenções bem claras desses herdeiros ideológicos de Bandera, que foi cúmplice de Hitler na IIª Guerra Mundial.

Essa referência à IIª Guerra Mundial não é apenas exagero retórico de político, para provocar reação da plateia; é muito mais importante que isso: é declaração clara, sem ambiguidades, de que hoje, como durante a IIª Guerra Mundial, a própria existência da Rússia como país, cultura e nação está sob risco. Claro, a ameaça à Rússia não vem de meia dúzia de bandidos nacionalistas armados de porretes em Kiev, nem vem do novo regime no poder, dentre outras razões porque esse tal novo regime é completa ficção:

Também é óbvio que não há agora autoridade executiva legítima na Ucrânia, nenhum governo com que se comunicar. Muitas agências do governo foram tomadas pelos golpistas, mas não conseguem controlar o país; de fato, eles mesmos – e é importante destacar isso – são controlados pelos radicais. Em alguns casos, é preciso autorização especial dos militantes na praça para encontrar alguns ministros do atual governo. Não é piada. É a realidade. Os que se opuseram ao golpe foram imediatamente ameaçados de sofrerem repressão.

Assim sendo, de onde vem o real perigo e quem é o real agressor que está ameaçando a Rússia, no mínimo tanto quanto Hitler na 2ª Guerra Mundial? Antes de responder essa pergunta, gostaria de anotar que Putin reconheceu, muito abertamente, a ação dos sempre citados “homens polidos vestidos de verde e armados”. Disse que (negritos meus):

Sim, o presidente da Federação Russa recebeu autorização da Câmara Alta do Parlamento para usar Forças Armadas na Ucrânia. Mas, falando em termos estritos, ninguém ainda se serviu dessa permissão. As forças armadas da Rússia jamais entraram na Crimeia: elas já estavam lá, amparadas e em perfeita concordância com os termos de um acordo internacional válido e vigente. Sim, ampliamos nossas forças lá. Mas – e quero que todos ouçam bem isso – em nenhum momento excedemos o número limite de soldados das Forças Armadas russas na Crimeia, que os tratados estipulam em 25 mil soldados. Não houve, sequer, necessidade de fazê-lo.

Assim, fica esclarecido o mistério dos “homens polidos vestidos de verde e armados”: “em termos estritos”, foram uma “ampliação” das forças russas na Crimeia, sem exceder o número máximo de soldados permitidos pelo acordo com a Ucrânia. Em outras palavras, o número de soldados das forças especiais Spetsnaz GRU mandados para a Crimeia estava dentro do que determina o tratado, e as outras forças russas vistas lá eram, realmente, forças locais de autodefesa, não eram militares russos. Formulação, com certeza, muito elegante.

Putin, então, citou a decisão da Corte Internacional de Justiça da ONU e dos EUA na questão da secessão do Kosovo:

A lei internacional Geral não inclui nenhuma proibição a declarações de independência (da CIJ-ONU) e Declarações de Independência podem, e muito seguidamente violam, legislação doméstica. Mas isso não faz das independências nacionais violações da lei internacional (dos EUA).

E acrescentou: 

Por algum motivo, há coisa que os albaneses do Kosovo (pelos quais tenho integral respeito) podem fazer, mas russos, ucranianos e crimeanos não podem fazer... E fica-se sem entender por quê.

Aqui, já nos aproximamos do núcleo do argumento do presidente Putin: o Império só sabe usar a Lei Internacional quando precisa de uma folha de parreira para esconder partes de seu projeto de hegemonia mundial; quando nem isso é possível, o Império ignora todas as leis e usa a força bruta:

Não se trata sequer de haver dois pesos e duas medidas que se usem caso a caso. Trata-se de inacreditável, primitivo, brutal cinismo. Ninguém deve sequer tentar tão simploriamente desvirtuar qualquer coisa para favorecer os próprios interesses, dizendo hoje que uma coisa é branca; e amanhã, que é preta. (...)

Depois do fim da bipolaridade no planeta, acabou-se a estabilidade. Instituições internacionais chaves não se estão fortalecendo; ao contrário, em muitos casos, estão em degradação.

Nossos parceiros ocidentais, liderados pelos EUA, preferem não se deixar guiar pela lei internacional; preferem, como orientação, a lei das armas. Com o tempo, acabaram por se autoconvencer do próprio exclusivismo, do próprio excepcionalismo; que poderiam decidir os destinos do mundo; que só eles e sempre eles, estão sempre certos. Fazem o que bem entendam: aqui, ali, acolá, por toda parte usam força bruta contra estados soberanos, construindo “coalizões” baseadas no princípio de “se você não está conosco, está contra nós”. Para dar a essa agressão ares de legitimidade, forçam as necessárias ‘resoluções’ nas organizações. E se por algum razão o ardil não funciona, então simplesmente ignoram e atropelam o Conselho de Segurança da ONU e a ONU inteira. (...) Entendemos o que está acontecendo; entendemos que são ações contra Ucrânia e Rússia, e contra também a integração eurasiana. E, isso, quando a Rússia esforça-se para construir um diálogo com nossos colegas do ocidente.

Vivemos a propor cooperação em todas as questões chaves; queremos reforçar o nível de confiança e que nossas relações sejam igualitárias, abertas e justas. Mas não vimos passos recíprocos. Ao contrário, mentiram para nós incontáveis vezes; tomaram decisões pelas nossas costas, nos impuseram fatos consumados. Aconteceu com a expansão da OTAN para o oriente, e aconteceu também com o deslocamento de infraestrutura militar para junto das nossas fronteiras. E continuam a nos dizer a mesma coisa: “Bem... isso não diz respeito a vocês.” Fácil dizer. Aconteceu também com o deslocamento para cá de um sistema de mísseis de defesa. Apesar de todas as nossas apreensões, o projeto está em andamento e andando rápido. Aconteceu com a infindável confusão que criam sobre a emissão de vistos, promessas de concorrência comercial livre e justa e livre acesso aos mercados globais.

Todos os dias nos ameaçam com sanções, mas já enfrentamos muitas limitações, algumas bastante significativas para nós, nossa economia e nossa nação.

Por exemplo, ainda nos tempos da Guerra Fria, os EUA e, na sequência, outras nações, limitaram a lista de tecnologias e equipamentos que podiam ser vendidos à URSS, e criaram a lista da Comissão de Coordenação de Controle de Exportações Multilaterais. Hoje, essa lista foi formalmente eliminada, mas só formalmente; na realidade muitas limitações ainda estão vigentes.

Em resumo, temos todas as razões para assumir que a infame política de contenção, dos séculos 18, 19 e 20, continua ainda hoje. Vivem tentando nos encurralar porque temos posição independente, porque a defendemos e a mantemos, e porque damos às coisas os nomes reais e não nos envolvemos em hipocrisias. Mas para tudo há limites.

E, com a Ucrânia, nossos parceiros ocidentais cruzaram a linha, jogaram sujo, agiram irresponsavelmente e sem seriedade.

Impressionantes palavras, vindas de presidente de uma superpotência nuclear: Putin não apenas denuncia a total, completa hipocrisia do Império Anglo-Sionista; ele também a apresenta como continuação direta de três séculos de políticas anti-Rússia pelas potências europeias ocidentais! Não apenas denuncia o duplifalar do Império; Putin ridiculariza abertamente a incompetência dos governantes ocidentais:

Afinal, eles sabem que há milhões de russos vivendo na Ucrânia e na Crimeia. Teriam de não ter nenhum instinto político e nenhum bom-senso para não antever a consequências de suas ações. A Rússia viu-se numa posição da qual não poderia recuar. Se se comprime a mola além do limite dela, ela fatalmente escapará à compressão e saltará com força. Não esqueçam disso, nem por um instante.

É verdade. Não se consegue atinar com o quê, no mundo, andaria pela cabeça do “alto comando do Império” quando decidiram usar nazistas na Ucrânia, como usaram a al-Qaeda no Afeganistão: será que realmente supuseram que a Rússia se renderia outra vez? Será que supuseram que a Rússia teria tal opção?! Na opinião de Putin, não. Nada disso sequer passou-lhes pela cabeça!

É em momentos de virada histórica, como esses, que uma nação demonstra a própria maturidade e fortaleza de espírito. Os russos mostraram essa maturidade e essa fortaleza de espírito, pelo apoio unificado que garantiram a todos os seus compatriotas. A posição da política externa da Rússia nesse assunto obtém sua firmeza do desejo de milhões de russos, de nossa unidade nacional e do apoio das principais forças políticas e públicas.  (…) É claro que enfrentaremos oposição externa, mas essa é decisão que temos de tomar nós mesmos.

Estamos prontos para consistentemente defender nossos interesses nacionais, ou continuaremos para sempre a ceder, a nos recolher e retirar, sabe-se lá para onde? (…)

A Rússia, agora, também terá de tomar uma difícil decisão, considerando os vários aspectos domésticos e externos. O que pensa o povo russo? Aqui, como qualquer país democrático, as pessoas têm diferentes pontos de vista. Mas sei que a absoluta maioria do nosso povo claramente apoia o que está sendo encaminhado.

Resumamos o que temos até aqui. Putin, nesse trecho, disse clara e abertamente que:

1) Não há limite para a hipocrisia, as mentiras, o mal, a estupidez e a natureza agressiva do Império Anglo-Sionista.

2) A própria natureza desse Império implica ameaça existencial à Rússia.

3) O povo russo está unido em sua determinação de resistir contra aquele Império.

Digo aqui bem francamente: para mim, isso soa muito parecido com uma declaração de guerra.

Não necessariamente guerra à quente, com soldados combatendo uns contra outros, mas algo além de uma Guerra Fria na qual o status quo seja opção aceitável.

Putin está sugerindo que a próxima guerra será guerra civilizacional, guerra cultural e, até, guerra moral, uma guerra na qual um lado se ergue contra o mando absoluto de um hegemon mundial cínico, e a favor de um mundo multipolar no qual todos os países submetem-se ao mesmo conjunto de regras e princípios.

Mas, ainda mais importante que um conjunto de regras e princípios, o tipo de sistema internacional que a Rússia vem buscando é sistema no qual cada nação, cultura e religião terá liberdade real – não liberdade só “por teoria” – para viver como queira. Foi o que Putin já dissera claramente em 2013, em seu discurso presidencial anual à Assembleia Federal, quando disse:

Hoje, muitas nações estão revisando seus valores morais e normas étnicas, erodindo tradições étnicas e as diferenças entre povos e culturas. A sociedade é agora convocada não só a reconhecer o direito de todos à liberdade de consciência e de visão política e à privacidade, mas também a aceitar sem questionar, por estranho que pareça, a igualdade entre o bem e o mal – conceitos cujos significados são opostos.

Essa destruição de cima para baixo de valores tradicionais não leva só a consequências negativas para a sociedade: ela é também essencialmente antidemocrática, posto que se constrói sobre ideias abstratas, especulativas, contrárias ao desejo da maioria, a qual não aceita as mudanças que acontecem ou a proposta “revisão dos valores”. Sabemos que há cada vez mais pessoas no mundo que apoiam nossa posição de defender valores tradicionais que estão nas fundações morais e espirituais da civilização em cada nação, há milhares de anos: os valores das famílias tradicionais e tribais, a vida humana real, incluindo a vida religiosa, não só a existência material mas também a espiritualidade, os valores do humanismo e da diversidade global. Claro, sim, essa é posição conservadora.

Mas, usando as palavras de Nikolai Berdyaev, o ponto do conservadorismo não é que ele impeça movimentos para cima e para adiante, mas que ele impede movimentos para trás e para baixo, para a escuridão caótica, e a volta a um estado primitivo.

É bem claro que essa última sentença manifesta o que a Rússia vê ao examinar o nível de degradação civilizacional e cultural a que chegou o Império Anglo-Sionista e que foi imposto aos povos da Europa e dos EUA.

Além disso, quando Putin diz que:

Essa destruição de valores tradicionais de cima para baixo não leva só a consequências negativas para a sociedade: ela é também essencialmente antidemocrática, posto que se constrói sobre ideias abstratas, especulativas, contrárias ao desejo da maioria, a qual não aceita as mudanças que acontecem ou a proposta “revisão dos valores.

Ele está claramente afirmando que o Império Anglo-Sionista não é governado pelo povo que vive sob aquele Império, mas por minorias, grupos de interesses “especiais”, por lobbies e gangues que agem por trás das cortinas e que impõem sua própria agenda perversa ao resto do povo.

Outra vez, em resumo: o presidente da Rússia lançou aberta declaração de guerra contra a elite, o 1%, que atualmente está no controle do Império Anglo-Sionista.

Essa será guerra multinível, que combinará o “soft Power” (resistência cultural, resistência religiosa, resistência informacional, guerra econômica e financeira) e o “hard Power” (um exército pronto para combater contra EUA/OTAN, se for preciso; o uso da energia-como-arma, contra a guerra econômica).

Numa muito irônica virada histórica, sobretudo para uma sociedade capitalista que ridicularizou Marx e repudiou o conceito de guerra de classes, essa guerra será, muito profundamente, uma guerra entre classes na qual oligarcas de diferentes países se apoiarão uns nos outros, e na qual o povo comum, normal, os 99% trabalharão juntos, por exemplo, nos “campos de batalhas virtuais” da Internet.

O campo crucial de batalha: “operações de informação global” 

Operações de Informação [Information operations, IO (ing.)] é a expressão usada pelos militares norte-americanos para “operações de apoio direto e indireto para os militares dos EUA”. As operações psicológicas, PSYOPs [ing.] são subconjunto das IOs. Para o que aqui nos interessa, é preciso porém estender o conceito para além das operações militares, para todo o pleno espectro das políticas de segurança nacional de um país e, no nosso caso, também para o “estado profundo” que controla as rédeas no Império Anglo-Sionista. Falarei portanto de Operações de Informação Global [ing. Global Information Operation  (GIOs)], cujo coração é a empresa-imprensa ocidental, codinome “mídia corporativa ocidental”.

Durante parte da minha vida, eu, como outros analistas militares, ganhamos a vida lendo, dentre outras coisas, a imprensa soviética diária. Não só Pravda ou Izvestia, mas também publicações, jornais, revistas, periódicos especializados, ainda mais entediantes. Sempre que podia, ouvia as rádios soviéticas e jamais perdi chance de assistir à TV soviética, principalmente aos programas “de notícias”.

Naquele tempo, eu era jovem, ingênuo e perfeito idiota, e acreditava sinceramente que a União Soviética fosse ameaça mortal à Europa Ocidental, e que o único anteparo que protegia os estados europeus (vale dizer “nós”, o “mundo livre”) contra ao avanço dos monstruosos, maléficos comunistas era o poder militar da aliança da OTAN.

Examinando agora, em retrospectiva, a quantidade astronômica de lixo que ocupava o meu cérebro, sinto-me, sinceramente, envergonhado da minha credulidade total. Mas naquela época eu era dedicado soldado da Guerra Fria, cujo lema era “conhece o teu inimigo”. Ah, e isso, eu fazia bem feito e, sim, conheci meu “inimigo” realmente muito, muito bem. Quis explicar tudo o que disse até aqui, antes de declarar o que segue:

Em totais honestidade e sinceridade, tenho de dizer que, comparada à moderna empresa-imprensa ocidental, a imprensa soviética era muito mais pluralista, muito mais diversa e muito mais confiável.

Pura verdade! A imprensa soviética apenas não falava de alguns assuntos. Mas, de fato, e diferente nisso da imprensa-empresa ocidental que conhecemos, a imprensa soviética JAMAIS SUPÔS QUE PUDESSE MENTIR ilimitadamente, a ponto de pôr-se a “noticiar” como “verdade” e como “fato”, o que todos soubessem ser absoluta, indiscutível mentira.

Por um lado, o público-leitor soviético era muito mais bem educado. Todos nós, inclusive eu, tivemos aulas obrigatórias de marxismo-leninismo em escolas soviéticas, das quais fazíamos o possível para escapar, mas que, fosse como fosse, nos aproximaram bem decentemente de conceitos como dialética, materialismo histórico e economia. Todos esses assuntos habituam o sujeito a pensar. Não quero dizer que o povo soviético não fosse enganado por mentiras – podia ser e foi – mas aquelas mentiras que ouvíamos tinham de ser pelo menos 50% críveis, e tinham de aparecer em cenário plausível.

Bem ao contrário disso, e para público “criado” em frente a telas das redes CNN, BBC ou MTV as mentiras não precisam conter nem uma dose mínima de bom-senso (como se viu tão impressionantemente na cobertura que a imprensa-empresa deu à guerra de 8/8/2008 e, agora, aos eventos na Ucrânia): o duplipensar previsto no livro 1984 de Orwell está aí sobre nós: branco pode ser dito preto e vice-versa e não há problema algum.

Atrevo-me a afirmar que, comparado ao que oferece a imprensa-empresa que conhecemos, até o Völkischer Beobachter [Observador Popular] dos nazistas continha mais informação que, digamos, o New York Times, o Wall Street Journal ou a BBC (e dos jornais do grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão), desses, então... NEM SE FALA!!!!) cujo nível de mentiras descaradas, deslavadas, só se compara, talvez a Der Stürmer [O Atacante, semanário alemão antissemita, editado em Nuremberg entre 1923 e 1945].

A primeira vez em que percebi esse nível sem precedentes de absolutas mentiras da imprensa-empresa foi durante a guerra de EUA/OTAN na Iugoslávia (Croácia, Bósnia, Kosovo), mas acho que, de lá pra cá, a coisa piorou muito. Fato é que a moderna imprensa-empresa russa é extremamente diversificada e os russos, quando expostos à cobertura que a imprensa-empresa ocidental dá aos atuais acontecimentos na Ucrânia, ficam sem entender. Simplesmente não conseguem compreender como uma sociedade que, vista de fora, parece ter todas as características de sociedade livre e pluralista admite “aquilo”.

Nos velhos duros tempos da URSS, era simples: havia censura pelo Estado. Mas no ocidente não há censura pelo Estado, nada de Glavlit, nada de Goskomizdat, mas, mesmo assim, a imprensa-empresa ocidental é, de longe, muito mais monolítica, monocórdica, desonesta, que, até, a imprensa oficial do Partido na URSS. Mas há uma diferença crucial entre a URSS e o Império Anglo-Sionista de hoje: a Internet.

Dito em termos simples, a Internet é a única mídia global que não é controlada nem por governos nem pelas corporações (controle que, na prática, é o mesmo controle). Sim, sim, há numerosas tentativas, tanto por governos como por empresas, para mudar isso, mas, pelo menos por hora, a informação ainda circula livremente pela Internet. E isso introduziu mudanças interessantes:

1) um único cidadão, com um mínimo de meios para viver, tem agora como opor-se, de modo significativo às mentiras das grandes empresas ou de governos; o caso de Alain Soral na França é típico dessa interessante tendência;

2) a resistência contra o Império está hoje geograficamente descentralizada, como esse blog mostra tão claramente, pela espantosa diversidade de seus leitores;

3) é absolutamente impossível suprimir totalmente a informação: o mundo soube dos massacres e das atrocidades cometidas pelos insurgentes wahabistas na Síria, apesar do empenho de toda a imprensa-empresa para que ficassem ignorados;

4) documentos oficiais com baixo nível de clandestinidade ou segredo têm sido frequentemente expostos por indivíduos que conseguem vazá-los (Assange, Snowden, Manning), sem que ninguém consiga impedir os vazamentos;

5) número crescente de pessoas conseguem escapar à exposição na imprensa-empresa, a qual, hoje, subsiste principalmente de fundos oficiais;

6) mesmo quem ainda assista à TV ou leia jornais impressos ou online, sabe, de plena consciência de que estão ouvindo/lendo mentiras.

Tudo isso significa que estamos vivendo numa nova realidade na qual o Império Anglo-Sionista global é alvo de uma resistência global que não tem fronteiras, não conhece nacionalidades nem religiões: gente dos mais diferentes países, nações e religiões unem-se contra um hegemon que pesa sobre eles todos, não apenas por teoria, como em “Proletários de todos os países, uni-vos”, mas real e concretamente, e todos colaboram ativamente uns com os outros.

No discurso de ontem (19/3/2014), Putin falou a essa resistência global contra o Império e suas Operações de Informação Global(GIOs).

Claro que, em primeiro lugar, Putin falou ao povo russo, da Crimeia e da Ucrânia, mas visava também mais longe, a todos os provavelmente muitos milhões que fariam o esforço necessário para assistir ao discurso por YouTube, ou que leriam uma transcrição (ou tradução) de seu discurso.

Porque tudo isso é, claro, muito maior que simples luta pelo poder sobre uma relativamente pequena península no Mar Negro: ontem, pela primeira vez, um líder poderoso e determinado disse abertamente ao Império:

Conhecemos você; entendemos o que está tentando fazer; e não permitiremos que faça o que planeja fazer. De fato, rejeitamos tudo que você, Império, prega. Nunca, de modo algum, admitiremos que faça o que pensa fazer. E hoje temos os meios para fazê-lo parar!

Lágrimas emocionadas avistadas pelo mundo

Acho que estamos entrando numa nova era pela qual muitos de nós esperamos há muito tempo. Era em que uma resistência que até aqui só foi local, acabou por encontrar alguém capaz, não de comandá-la, não; mas capaz de representá-la e de inspirá-la. Sinceramente, não creio que Putin tenha desejado isso. Putin, com certeza, teria preferido estar no papel do presidente Xi Jinping, da China, que apoia Putin integralmente, mas prefere evitar confrontar diretamente o Império, pelo menos até que a China se torne realmente poderosa.

O Irã e o Hezbollah resistem abertamente há muitos anos, mas simplesmente não têm os meios para alcançar muito além do Oriente Médio.

Quanto à resistência na América Latina (Venezuela, Equador, Cuba, Nicarágua, Bolívia) não deu sinais de ser realmente capaz de mobilizar líderes mais hesitantes (Brasil, Chile, Argentina) ou estados que são declarados fantoches dos EUA (Colômbia).

O que se viu na recente votação no Conselho de Segurança da ONU, na qual só a China se absteve, e todos os demais membros votaram contra a Rússia, é que, em escala global, a Rússia está só e nenhum outro governante teve coragem, até agora, de expor-se ao lado de Putin.

Mesmo eu, que acompanhava a carreira de Putin bem atentamente desde 1999, só em 2008 consegui obter um quadro integral do que Putin é ou quer ou faz. Mas, sim, sei que ainda havia muitos céticos: Putin era mesmo o que parecia ser, ou estaria apenas metido num sofisticado jogo de “policial bonzinho/policial durão” com Medvedev, cada um dos dois jogando para o próprio público cativo?

Quando a Rússia foi convidada para o G8 e quando foi aceita na Organização Mundial do Comércio, muitos atentos e cuidadosos observadores discutiram se Putin seria mesmo tão “anti-império” como dizia ser, ou se estaria apenas envolvido numa dura barganha por melhores condições dentro do sistema internacional do Império. Espero que, hoje, esses céticos já tenham percebido que Putin é “verdadeiro” e que é agora o líder de fato da resistência global contra o Império Anglo-Sionista.

Como mencionei acima, muitos leitores deste blog, que absolutamente não têm conexões com a Rússia, escreveram, ontem, que haviam assistido ao discurso de Putin com lágrimas nos olhos. Daí resultou discussão emocionada sobre lágrimas e emoções noticiadas em várias partes do mundo (Alemanha, EUA, Uruguai, Áustria, Canadá e, claro, na Rússia), em que se falava, metaforicamente, de “tempestade de poeira nos olhos”...

Um correspondente anônimo que não quis usar o eufemismo da poeira nos olhos, escreveu simplesmente:

Por aqui não era poeira. Chorei sinceramente, pela esperança de toda a humanidade, em todo o mundo, de que se possa viver em paz, em respeito mútuo, com fartura e prosperidade para todos, nesse belo planeta. Acredito, sim, que começa a nova era.

Em outras palavras: Putin – ouvimos bem o que você disse!

Conclusão – Vitória que pertence a todos os homens e mulheres livres

Primeiro, digamos bem claramente: o que aconteceu na Crimeia é definitivamente vitória, mas apenas uma, numa guerra muito mais vasta que está longe do fim.

A primeira regra em todas as lutas é jamais subestimar o inimigo e nunca, como dizem os franceses, “vender a pele antes de matar o urso”. Nada está resolvido e, se estivermos mesmo no começo do fim do Império, mesmo assim será o começo do começo de um processo longo e perigoso. Há Impérios que morrem mais ou menos pacificamente, destruídos pela ruína econômica e pelos excessos. Mas outros há que têm de ser destruídos numa orgia de violência.

Embora nos meus maus dias eu às vezes sonhe com ver um cabo do exército russo plantar uma bandeira russa no topo do Capitólio, como Meliton Kantaria fez no Reichstag, não me parece que haja muito o que festejar, se a coisa acontecer em plena noite de um inverno nuclear. Assim sendo, se trata de derrubar o Império Anglo-Sionista, sem derrubar junto o resto do planeta.

As partes do planeta que já foram “liberadas” (Rússia, Bielorrúsia, Cazaquistão, China, Irã, etc.) têm de resistir, se preciso pela força, para permanecer livres.

As partes onde ainda se luta (Síria, Líbano, Venezuela, etc.) têm de perseverar na luta. E todo o resto do mundo tem de continuar na resistência não violenta, no campo ideológico e informacional contra o Império Anglo-Sionista e suas mentiras.

Podemos usar a bem conhecida imagem de um enxame de abelhas que ataca um grande animal: individualmente, cada abelha pode fazer pouco, mas em ataque coordenado, as abelhas podem derrotar e até matar animal muito maior.

Até lá, sim, já temos muito a comemorar de nossa vitória comum, de todos, essa semana, parafraseando as palavras de Hassan Nasrallah naquele seu discurso “A Divina Vitória”, de beleza, pode-se dizer, absoluta:

Sentimos que vencemos; o Líbano venceu; a Palestina venceu; a nação árabe venceu, e todas as pessoas oprimidas, ofendidas nesse mundo também venceram. Nossa vitória não é a vitória de um partido. Repito o que disse dias 25/5/2000 em Bint Jbeil: Essa não é a vitória de um partido ou de uma comunidade; é uma vitória para o Líbano verdadeiro, para o verdadeiro povo libanês e de todos os homens e mulheres livres no mundo. Não distorçam essa grande vitória histórica. Não a prendam num partido, num clã sectário, de comuna ou de região. Essa vitória é grande demais para que a compreendamos. As próximas semanas, próximos meses e anos confirmarão isso.

Há também uma canção sobre a guerra como metáfora de toda a resistência contra o mal e a brutalidade, canção muito popular na Rússia, que tem o título de “Um Brinde”, que pode ser ouvida (com letra traduzido) a seguir:


Brindemos à vida, venha irmão, até o fim
Brindemos aos que estiveram antes, conosco
Brindemos à vida! Malditas sejam todas as guerras!
Relembremos os que
Aqui estiveram, antes, conosco.
Um brinde a eles, um brinde a nós
E à Sibéria e ao Cáucaso
À luz das cidades distantes
À amizade e ao amor
À sua! À nossa! Um brinde
Aos soldados embarcados e aos Spetsnaz
Às medalhas em combate
Brindemos, brindemos, meu velho amigo!

Nesse espírito, um brinde a vocês, todos os meus leitores e amigos na Resistência. Desejo a todos coragem e firmeza na longa luta que temos à frente. Mas, sim, hoje, é dia de celebrar. É!

The Saker



Nota dos tradutores
[1] Reação semelhante registrou-se
(a) também em vários blogs brasileiros com os quais a Vila Vudu e a redecastorphoto mantem contato. E reação semelhante está registrada.
(b) ATÉ no portal G1 da rede Globo, Brasil. O portal, surpreendentemente, traduziu e publicou a íntegra do discurso. Vale a pena ler os comentários de leitores (pelo menos os que estavam publicados dia 19/03/2014, atualizados às 20h56). A matéria dita “jornalística” de O Globo, como sempre, absolutamente não presta, não se recomenda e não se repete e, sim, está em total desconexão com os leitores, telespectadores e, no geral, o grande público para o qual a Globo escreve e com o qual se deveria comunicar, mas, felizmente para a democracia, não se comunica tanto quanto pensa que se comunique.


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