sábado, 12 de outubro de 2013

Novas ordens de Ayman al-Zawahiri à al-Qaeda: “Não atacar nem cristãos nem xiitas”

10/10/2013, [*] Radwan Mortada, Al-Akhbar (trad. do árabe ao ing.)
Traduzido da versão em inglês pelo pessoal da Vila Vudu

O líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri distribuiu novas instruções, recebidas como ordens, para a próxima fase da luta. O emir da organização internacional mudou de tom e ordena agora que o grupo evite agressões a xiitas, cristãos, hindus e sufistas, no contexto de “varrer o pecado”; e que todos se concentrem no ataque contra as forças infiltradas dos EUA.

Ayman al-Zawahiri, líder máximo da al-Qaeda
De modo geral, os emires recebem fidelidade e obediência, mas os emires jihadistas na Síria são diferentes. O grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante [orig. Islamic State of Iraq and the Levant, ISIS] não gostou da ação de mediação empreendida pelo chefe da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, para resolver a disputa contra a Frente al-Nusra, preferindo “deixar as coisas como estavam”. O Emir do Estado Islâmico do Iraque e Levante, Abu Bakr al-Baghdadi, separou-se de seu antigo emir, e proclamou que “o Estado [ISIS] permanecerá”.
Zawahiri anunciou uma nova abordagem em relação ao trabalho da al-Qaeda, deixando para trás o mote anterior, que priorizava “os apóstatas próximos”, em vez de combater “infiéis distantes”. E anunciou uma nova palavra de ordem: “Ataque a cabeça do cão, e ele baixará o rabo” – na versão de um dos jihadi.
Exame mais atento da segunda mensagem de Zawahiri – a primeira foi distribuída em junho passado – intitulada “Orientações Gerais para Atividades Militares” [ing. General Guidelines for Military Activities] revela profunda mudança no movimento da organização. De mais importante, que a nova mensagem pode ser interpretada como uma crítica ao trabalho do grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante – que continua a matar seus detratores.
Inúmeras páginas jihadistas estão distribuindo a mais recente mensagem de Zawahiri, produzida pela Fundação Sahab de Produção para a Mídia [org. Sahab Foundation for Media Production], usada oficialmente pela al-Qaeda. Na mensagem, Zawahiri falou de duas principais questões que têm de ser encaminhadas na atual fase: uma é a questão militar; a outra tem relação com a “conclamação” [orig. the “call”].
A ação militar visará, doravante,
(...) primariamente aos cabeças dos infiéis internacionais: EUA e sua aliada, Israel. Em segundo lugar, visará aos aliados locais dos cabeças dos infiéis internacionais, que governam nossos países – disse Zawahiri.
Tomar os EUA como nosso alvo significa desgastá-los e exaurir seus recursos, até que acabem como a União Soviética e tenham de retirar-se daqui, de volta às próprias bases, por causa das perdas militares, humanas e econômicas. Assim se enfraquecerão as garras que mantêm cravadas na carne de nossos países, e seus aliados tombarão, um após o outro.
Os golpes dos mujahideen no Afeganistão e no Iraque consumiram os EUA – disse Zawahiri. Por causa da ameaça à segurança dos EUA depois de 11/9/2001, os EUA começaram a inflar a fúria popular [na região], e essa fúria explodiu ante seus colaboradores.
Em sua mensagem, dirigida à “Nação Islâmica” da al-Qaeda, Zawahiri mencionou que muitos países estão assistindo a um renascimento das atividades da al-Qaeda.
O confronto em al-Sham [Síria] é confronto contra colaboradores dos EUA que não permitirão que uma entidade islâmica exista, muito menos se for entidade da Jihad. A história sangrenta das tentativas dos EUA para erradicar o Islã está bem à vista e é bem conhecida.
Apesar de falar de “colaboradores dos EUA que governam nossos países” e falar de atacar seus agentes locais, Zawahiri entende que “é diferente, de um local para outro”. Em princípio, o conflito não deve ser conflito direto contra eles, exceto nos países onde a confrontação seja necessária”.
Quanto a Jerusalém, o confronto básico e principal é contra os judeus. É preciso toda a paciência possível com os governantes locais na autoridade de Oslo. Zawahiri também disse que: o confronto contra [governantes locais] no Afeganistão está relacionado à luta contra os norte-americanos.
Quanto ao Paquistão,
(...) complementa a luta contra os norte-americanos, pela libertação do Afeganistão, criando-se assim uma região segura para mujahideen no Paquistão, para em seguida tentar criar um regime islâmico no Paquistão.
O objetivo da luta no Iraque é livrar áreas sunitas, dos herdeiros xiitas dos EUA – acrescentou Zawahiri.
Na Argélia,
(...) onde a presença dos EUA é pequena e desprezível, a luta é contra o regime, para enfraquecê-lo e ampliar a influência da Jihad no Maghreb Islâmico, nos países da costa oeste da África e nos países sub-saharianos.
Na Somália,
(...) a luta é contra os colaboracionistas, porque são a ponta de lança da ocupação pelos cruzados.
Zawahiri deu algumas orientações aos mujahideen, os quais, para ele, são “vitais nessa fase de acumular dividendos e expulsar o pecado”. Conclamou-os a “não lutar contra grupos desviantes como os rawafid” [termo pejorativo usado para designar os xiitas], “os ismailis, o grupo Qadiyania e os sufistas desviantes, a menos que ataquem os sunitas”.
Zawahiri entende que as lutas devem
(...) limitar-se às frentes ativas [contra os grupos acima], mostrando que já estamos em posição de autodefesa e que se deve evitar atacar os não combatentes e famílias deles nos locais de moradia ou casas de oração e culto, nas festividades ou nas reuniões de caráter religioso. Mas a denúncia de suas falsidades e de seus desvios de ideologia e comportamento deve prosseguir.
Zawahiri põe todos esses grupos
(...) sob controle e comando dos mujahideen; esses grupos devem ser tratados com sabedoria, depois que aceitarem a conclamação; com consciência, sem suspeitas, promovendo a virtude e combatendo o vício, por tanto tempo quando seja necessário, enquanto não causarem maiores danos, e a ação deles não ameaçar expulsar os mujahideen dessas áreas, nem haja risco de revolução das massas contra eles.
Zawahiri conclamou os muçulmanos a
(...) tomar como alvos os interesses da aliança sionistas-cruzados ocidentais em qualquer ponto do mundo; esse é um dos seus deveres mais importantes.
Zawahiri ordenou que
(...) evitem atacar cristãos, sikhs e hindus em terras islâmicas. Se forem beligerantes, a resposta deve ser equivalente à agressão, não maior. Temos de deixar bem claro que não iniciamos nem iniciaremos qualquer confrontação, porque estamos ocupados no combate contra os cabeças dos infiéis internacionais, e temos todo o interessem em viver em paz e harmonia quando a nação do Islã estiver erguida, o mais depressa possível, pela graça de Deus.
Em suas diretivas, Zawahiri ordenou que,
(...) sempre que possível, se evite matar não combatentes ou combater contra eles, ainda que sejam as famílias dos que lutam contra nós.
Conclamou seus seguidores a não atacar muçulmanos com bombas, sequestros ou mortes, e a não se apropriar de dinheiro ou danificar propriedades.
Não ataquem o inimigo em mesquitas, mercados e locais de reunião nos quais o inimigo mistura-se com muçulmanos que não nos agridem.
Quando à “conclamação”, ela
(...) visa a conscientizar a nação para a invasão dos cruzados, elucidando a significação da unidade e de que só a lei de Deus prevalece; para alcançar a irmandade de todos os islâmicos e a unidade das terras islâmicas – como prelúdio à volta do califato.
Esse é trabalho “em duas frentes” – Zawahiri explicou.
A primeira é educação e conscientização para a vanguarda jihadi, que carrega a tarefa de estabelecer o califato e continuará a fazê-lo. A segunda é elevar a consciência das massas, incitando-as, e mobilizando-as para que se levantem contra seus governantes e a favor do Islã e dos que lutam pelo Islã.
Zawahiri conclamou os muçulmanos a
(...) assumir que atacar os interesses da aliança sionistas-cruzados ocidentais em todos os pontos do mundo é um dos seus principais deveres.
Que os muçulmanos
(...) empreendam todos os esforços necessários para libertar prisioneiros muçulmanos, por todos os meios necessários, inclusive ataques a prisões ou sequestros com reféns de países que participem na invasão de terras muçulmanas, para usá-los como item de troca.
Em todos os locais onde haja chance de reduzir o conflito com os governantes locais, usá-lo para conscientização, para obter informação, para instigar a resistência, para arregimentar e alistar e para coletar fundos e apoiadores – deve-se investir nisso, no mais alto grau. Nossa batalha é longa e a jihad carece de bases seguras e de reforço contínuo, de homens, dinheiro e expertise.
Zawahiri também falou das desavenças com outros grupos islâmicos.
Desentendimentos com outros grupos islâmicos não podem levar-nos a negligenciar a confrontação com o inimigo e com os oponentes do Islã, nem militarmente nem politicamente.
Disse que:
(...) é necessário apoiar os grupos islâmicos, elogiá-los por todas as ações manifestações e declarações corretas, e aconselhá-los nos erros que cometam. Respostas e conselhos devem ser baseados em abordagem científica séria e devem-se evitar ataques e provocações. 
Se um grupo do campo islâmico está engajado em combate ao lado do inimigo infiel, sua luta deve ser combatida com a mínima luta possível para pôr fim à aliança, com o objetivo de não prolongar a luta entre muçulmanos e o sofrimento dos que não se aliam ao inimigo.
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[*] Radwan Mortada é um jornalista libanês, editor do jornal Al Akhbar e repórter da Aljadeed TV. É especializado em grupos fundamentalistas islâmicos notadamente a al-Qaeda e seus tentáculos pelo mundo. Também cobre assuntos ligados à segurança interna do Líbano. Eventualmente produz documentários como free-lancer

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