segunda-feira, 13 de maio de 2013

Síria: “Bem-vinda pausa na loucura norte-americana”


11/5/2013, Eric Margolis, Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Leia também:
Sobre o início das conversações de paz na Síria em: 10/5/2013, Kerry não conseguiu incendiar o rio Moscou, MK Bhadrakumar, Asia Times Online, traduzido.

Eric Margolis
A terrível guerra civil na Síria empurrou as duas maiores potências nucleares para uma rota de colisão, em que disputavam uma pequena nação do Levante, sem qualquer importância estratégica para Washington. Esse quadro não é admissível.

Notícias de que EUA e Rússia se reunirão conferência de paz, para discutir o que farão, ainda em maio, são bem-vindas: essa conferência já deveria ter acontecido há muito tempo. Como disse sabiamente Benjamin Franklin, “não há guerra boa, nem paz ruim”.

Moscou clama há dois anos por essa reunião. Washington sempre rejeitou a ideia, na esperança de que os ‘rebeldes’ sírios, que os EUA apoiam, conseguissem chegar ao poder. Mas agora, com a situação que se vê, cada dia mais distante desse ‘projeto’ dos EUA, parece que, embora ainda relutantemente, os EUA começam a aceitar contribuir para um esforço diplomático que ponha fim à guerra norte-americana, antes que toda a região se converta num único grande incêndio.

A Síria é o mais recente exemplo do que Henry Kissinger disse certa vez: “muitas vezes, é mais perigoso ser aliado, que inimigo, dos EUA”.

Bashar al-Assad
O governo Assad em Damasco foi, por décadas, aliado tácito do Ocidente, porque reprimia os extremistas islamistas, mantinha em paz a fronteira com Israel e interrogava prisioneiros que os serviços de inteligência dos EUA despachavam para lá. Damasco sequer reagiu com vigor, na defesa do próprio território nas Colinas do Golan, quando Israel anexou ilegalmente a região, depois da guerra de 1967 entre árabes e israelenses.

Mas nem esse bom comportamento ajudou a Síria, quando EUA, Grã-Bretanha, França e Israel decidiram que querem cortar a cabeça do Irã, principal aliado dos sírios. Quando se recusou a unir-se à aliança ocidental liderada pelos EUA e pelas petromonarquias conservadoras, contra o Irã, o presidente Bashar al-Assad selou o próprio destino.

O grito que se ouvia dos militares norte-americanos passou a ser “A estrada para Teerã passa por Damasco”. E a Síria foi condenada a ser destruída, exatamente como o Iraque foi destruído.

Na Síria, Washington estimulou e fez incendiar a mesma animosidade entre muçulmanos sunitas e xiitas, que já lhe fora muito útil no Iraque. Diferenças teológicas foram convertidas em furiosa rivalidade política, movimento construído tendo por alvo também o Irã, para gerar guerra entre sunitas e xiitas em todo o mundo muçulmano.

O que começou na Síria como manifestação pequena e pacífica contra o governo de Assad, e que foi reprimida, foi rapidamente inflada até se converter em rebelião nacional. Repetindo o pequeno levante, produto de aplicada engenharia ocidental, que derrubou Muammar Gadaffi da Líbia, o Ocidente e seus aliados árabes rapidamente armaram, treinaram e dirigiram os insurgentes sírios. E, como na Líbia, a faca de duas lâminas, operante no centro de tudo, foram grupos islamistas armados.

A França, a potência colonial que governou a Síria, teve papel discreto, mas importante, porque forneceu aos rebeldes, desde o início, equipamentos de comunicação e armamento antitanques. A França parece interessada em dar nova vida à sua influência colonial na África Ocidental, no Sahel, no Líbano e na Síria.

Os EUA mantiveram-se por trás das cortinas, fornecendo dinheiro, financiamento, armamento avançado e apoio político. E delegaram à Turquia quase todo o serviço braçal.

Mas tudo isso feito... e passados dois anos de combates ferozes, nada do que estava previsto aconteceu. Um presidente Obama cada dia mais cauteloso, ainda reluta em envolver soldados norte-americanos em campanha direta, em solo, no Oriente Médio – e por boas razões. Os militares norte-americanos estão perigosamente ‘diluídos’ por todo o planeta, e o Tesouro dos EUA sobrevive de dinheiro emprestado por China e Japão. Mas Obama está sendo pressionado por Republicanos pró-guerra, pela extrema direita dos religiosos extremistas e fanáticos e por outros, interessados em que Israel destrua a Síria e, na sequência, também o Irã.

Obama e o tamanho do "pepino" 
Efeito disso, Obama tergiversa, enquanto jorra sangue sírio; e a guerra de Washington já ameaça alastrar-se para a Jordânia, o Líbano e o Iraque (nesse caso, pela segunda vez, depois da “Missão Cumprida” cenografada de Bush). Semana passada, Israel lançou pesados ataques aéreos contra alvos militares sírios – claro ato de guerra – e matou cerca de 80 soldados sírios.

Ainda não se sabe se Israel tentava destruir um comboio que estaria transportando foguetes de longo alcance, do Irã para seu aliado libanês, o Hezbollah, como disseram fontes israelenses; ou se Israel tentava destruir a força aérea e os blindados sírios, tentando derrotar o governo Assad.

Segundo parte da mídia, Israel não comunicou ao governo americano seus planos para atacar a Síria. Aqui em Washington, muitos funcionários da segurança perguntam-se se Israel conseguirá arrastar os EUA também para uma guerra contra o Irã, usando o mesmo “procedimento”.

O que se sabe com certeza é que o Ocidente está destruindo a Síria. Como se viu no Iraque, também a Síria parece estar sendo castigada pela ousadia de manter política independente e por não se ter curvado aos desígnios e planos ocidentais para o Oriente Médio.

A Síria está sendo usada como, nas cortes europeias, usava-se um servo, o qual recebia as chineladas, quando algum príncipe comportava-se mal: estaria apanhando em substituição ao Irã, país cujas riquezas naturais o tornam altamente importante para o Ocidente.

Como “recado” bem claro a Teerã: eis o que acontecerá a vocês, se não cancelarem todo o seu programa nuclear.

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