domingo, 3 de março de 2013

Entrevistas históricas: Eleanor Roosevelt entrevista Nikita Kruschev


Enviado por Evaristo Almeida (Economia & Política)
(Kruschev, Eleanor e a intérprete)
Cynara Menezes
Blog Socialista Morena
Eleanor Roosevelt (1884-1962) foi uma primeira-dama e tanto. Durante o mandato do marido Franklin (1882-1945) era tão independente que se sentia à vontade para emitir opiniões contrárias às do presidente, e as publicava em jornais e revistas. Mulher à frente de seu tempo –há evidências inclusive de que era homossexual – Eleanor se tornaria ao longo dos anos, mesmo após enviuvar, uma figura de referência na América. De 1936 até sua morte assinou uma coluna reproduzida em diversos jornais americanos. Definitivamente, não era para decoração.

Em junho de 1957, Eleanor denunciou que a Secretaria de Estado norte-americana lhe havia negado a autorização para viajar à China e entrevistar alguns líderes comunistas. Mas em outubro ela conseguiria ir à União Soviética, onde obteve um furo de reportagem: entrevistou durante três horas o líder do Partido Comunista, Nikita Kruschev (1894-1971), para o extinto jornal New York World-Telegram. A globetrotter Eleanor estava para completar 73 anos. Kruschev, o homem que sucedeu Stalin, era dez anos mais novo e estava de férias em Ialta, no mar Negro, quando concordou em falar.

A conversa entre o líder soviético e a ex-primeira-dama é fascinante e elucidativa. Primeiro por expor, sem disfarces, o comportamento norte-americano em relação ao comunismo, seu pânico quase infantil de que ele pudesse se espalhar pelo mundo. E também por mostrar a gênese dos conflitos que duram até hoje no Oriente Médio. Quem armou qual país? Eis aí onde tudo começou. Vejam os conflitos na Síria atualmente: quem são os maiores envolvidos na suposta tentativa de promover a paz? Estados Unidos e Rússia. Nada é por acaso.

Eleanor tenta colocar Nikita contra a parede, mas Kruschev faz o mesmo. Por vezes é ela quem se esquiva da pergunta, por vezes é ele quem foge. Ninguém se dobra, exatamente como seus países, em plena Guerra Fria. Dois anos mais tarde, Nikita Kruschev visitaria os Estados Unidos e seria sua vez de ser recebido por Eleanor Roosevelt. Ficaram amigos? Nem tanto, mas souberam se sentar para conversar, embora discordassem nos mínimos aspectos. Em um artigo, Eleanor contou ter achado o líder soviético “extremamente articulado” e, como pessoa, “alguém difícil de não se gostar”. Ao final, tomaram café e comeram frutas, doces e bolos oferecidos pela mulher de Kruschev, Nina.

Com todos os problemas da União Soviética, a entrevista deixa patente a falta que faz um líder de superpotência capaz de questionar de igual para igual o poderio norte-americano. Quem desempenha papel semelhante hoje no mundo é Hugo Chávez e seus colegas bolivarianos na América do Sul, mas os países que governam não têm o peso que a União Soviética tinha. Kruschev, porém, errou em sua previsão de que era o destino histórico do comunismo se espalhar pelo mundo…

A entrevista foi publicada em quatro artigos. No último deles, também muito interessante, Eleanor aborda especificamente a questão dos judeus soviéticos. Há estudiosos que apontam uma ascendência judaica nos Roosevelt, que eram primos.

***

3 October, 1957

NEW YORK—A melhor maneira de começar esta série de artigos sobre a União Soviética é deixando Nikita S. Kruschev, líder do Partido Comunista, falar por si próprio. Pediram para submeter minhas questões antes da entrevista, mas o sr. Kruschev não as tinha diante de si quando apareci. E ele respondeu todas as perguntas, apesar de estar falando de forma completamente espontânea.

O primeiro artigo irá abordar somente uma parte das respostas gravadas e, como eu as tenho em russo, só posso dar a vocês a tradução como a recebi de minha intérprete, a sra. Anna Larova, que me contou que tinha traduzido para o meu marido em Ialta.

Abri a entrevista pedindo a ela para dizer ao sr. Kruschev o quanto eu tinha apreciado que tivesse reservado tempo para me ver durante suas férias, e acrescentei que gostei e achei muito interessante minha viagem por seu país. O sr. Kruschev respondeu: “Políticos nunca deixam obrigações políticas de lado”.

Aqui estão minhas perguntas e suas respostas: continue lendo...

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