sábado, 8 de dezembro de 2012

Jornalistas progressistas reúnem-se em off, com Obama. Algum problema?


7/12/2012, Erik Wemple, Washington Post
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Entreouvido na Vila Vudu:
Se há verdade sob o sol no mundo do capital, é que nenhum jornalismo-empresa jamais foi ou algum dia será promotor da democracia dos muitos, como já ensinaram Gabriel Tarde e Gramsci. Não é nos EUA, nem é – muito menos –, no Brasil, onde as empresas-imprensa são as mais burras & broncas & reacionárias & incompetentes do continente e, ao que parece, da galáxia. O que aí vai, nesse artigo traduzido, vai como um alerta: – nenhum político do campo progressista, no Brasil, cometa a ESTUPIDEZ de supor que haveria “jornalistas progressistas” empregados de empresas-imprensa udenistas, golpistas e reacionárias, os quais mereceriam tratamento especial. Não há; se houvesse, já teriam sido demitidos. Mas mesmo que haja ainda algum, e enquanto não for demitido, os OUTROS jornalistas empregados e fascistas sinceros – encarregar-se-ão de DETONAR os “companheiros” pressupostos “progressistas”. Há abundante discurso pronto para ajudar a fazer isso, amparado na ideologia, na má consciência do jornalismo liberal. ISSO, precisamente, é o que se vê já feito, nos EUA, hoje, na matéria abaixo.
Portanto, a palavra-de-ordem tem de ser: em nenhum caso se deve dar entrevista (nem boa-tarde!) a qualquer dos veículos ou jornalistas do Grupo GAFES (Globo-Abril-FSP-Estadão-RBSul), mesmo que o jornalista seja, pessoalmente considerado, pressuposto “democrata” ou pressuposto “amigo da gente”.


Arianna Huffington, do Huffington Post é, em geral, franca e cooperativa e tem prazer em falar sobre sua empresa e seu jornalismo.

Erik Wemple
Quer dizer... Exceto quando ela é convidada para encontro secreto na Casa Branca, com o presidente Obama. “Foi encontro em off. Não há portanto o que comentar” – respondeu o porta-voz do Huffington Post, Rhoades Alderson, ao ser perguntado se sua chefe podia atender ao telefone.

Ante a negativa, esse blog suplicou, observando que só queria fazer perguntas de rotina sobre o processo jornalístico no Huffington, agora que a jornalista-proprietária participava de reuniões em off com o presidente dos EUA”. “Entendi, mas a resposta é a mesma” – disse Alderson.

A mesma resposta pronta. Jornalistas ganham a vida trabalhando a favor da abertura, da partilha de informações, de falar com funcionários públicos e informar o grande público. Mas, nesse caso, os “convidados de Obama” não estão, exatamente, informando muito. Nesse caso, apesar de jornalistas, nada informarão ao grande público.

Praticamente toda a linha de frente do horário nobre da rede MSNBC lá estava, na Casa Branca – Al Sharpton, Ed Schultz, Rachel Maddow, Lawrence O’Donnell – na 3ª-feira à noite. Mas não falam sobre o assunto. Dois nomes da página de opinião do Washington Post – Jonathan Capehart e Greg Sargent – sentaram-se àquela mesa. E recusam-se a comentar, com um bom colega de trabalho, o que lá se passou. 

Um porta-voz de Josh Marshall de Talking Points Memo, também suspeito de ter participado da reunião, respondeu o seguinte: “Foi reunião em off. Josh não comentará”. Markos Moulitsas do afamado Daily Kos, outro suspeito de ter estado lá, também não fala: “Desculpe, mas não discuto sobre as pessoas com quem me encontro ou deixo de me encontrar. Obrigado. Markos” – respondeu esse, por e-mail, ao Erik Wemple Blog.

Barack Obama
O silêncio que cerca esses “progressistas influentes” – como a Casa Branca os chama – pode ter aberto um precedente histórico. Talvez seja a primeira vez em que a Casa Branca reúne-se com jornalistas, e a opinião pública obtém mais informação da Casa Branca... que dos jornalistas. A Casa Branca, pelo menos, distribuiu a seguinte nota:

Essa tarde, na Casa Branca, o presidente encontrou-se com jornalistas progressistas influentes, para conversar sobre a importância de impedir qualquer aumento de impostos sobre as famílias de classe média, fortalecer nossa economia e adotar abordagem equilibrada para a redução do déficit.

Os progressistas influentes de hoje não são, absolutamente, pioneiros. Há muitos casos de reuniões off-the-record entre jornalistas e presidentes. Uma delas aconteceu em 2006, plenamente off, entre apresentadores conservadores de programas de rádio e o presidente George W. Bush. Foi “parte de intensa campanha do Partido Republicano para arregimentar e reenergizar um exército crucialmente importante de apoiadores que não davam sinal de estarem tão completamente “fechados” com a Casa Branca como no passado” – segundo o New York Times.

Karen Tumulty, veterana repórter de política do Washington Post lembra que a Casa Branca de Clinton tinha o hábito de convocar repórteres para sessões off-the-record com o presidente, como encontro de apresentação dos que estavam começando a cobrir a Casa Branca ou uma ou outra viagem internacional. “O presidente reunia os novos repórteres e discutia longamente com seis, oito deles” – conta Tumulty. É cena que parece muito mais inocente do que a que se viu na 3ª-feira, e que, nos termos em que foi apresentada pela própria Casa Branca, mais parece situação para “fazer a cabeça” [orig. lobby] de gente que já dá sinais de pensar como a Casa Branca de Obama, sem qualquer atenção à transparência, porque nunca se saberá se os jornalistas progressistas não se porão, doravante, a apenas repetir o que ouviram do presidente.

Obama pede "off the records" 
O silêncio forçado sobre o que lá se passou só estimula a especulação; estímulo que esse blog aceita, com prazer. Talvez Schultz, da rede MSNBC, tenha dito ao presidente: “Nós, aqui reunidos em torno dessa mesa, estamos com o senhor, presidente.” Talvez o presidente tenha manifestado sua frustração por aqueles jornalistas esquerdistas não atacarem a oposição com fúria suficiente. Talvez alguém tenha falado do canal Fox News, e os demais, em volta da mesa, lá ficaram, balançando a cabeça. Talvez o presidente tenha pedido conselhos ao grupo, embora jornalista que assistiu a outras reuniões off-the-record na Casa Branca no passado, diga que, isso, é pouco provável: “Meu palpite, baseado na minha limitada experiência, é que presidentes, em geral, interessam-se mais por se explicar, do que por ouvir conselhos” – diz. Tanto quanto se sabe, os convidados pressionaram o presidente para que “abrisse tudo”, tudo on the record, apesar de, hoje, se sentirem obrigados a não comentar os próprios esforços.

Mas... basta de falar mal de jornalistas importantes e seletos. O verdadeiro problema aqui é um presidente que teme a exposição pública, ou teme, no mínimo, grupos de repórteres famintos por respostas. A sempre citada professora da Towson University, Martha Joynt Kumar, reuniu números que comprovam a baixa disponibilidade de presidentes para conferências de imprensa e sessões de perguntas & respostas com jornalistas. Verdade seja dita: Obama ultrapassa muitos em termos de entrevistas concedidas (568, comparadas às 190, de George W. Bush; às 187, de Bill Clinton; às 294, de George H.W. Bush; e às 224, de Regan, no mesmo período de governo).

David Leonhardt, diretor da sucursal do NYTimes em Washington, observa que “não tenho notícias de o Times ter sido algum dia convidado para entrevistas on-the-record com o presidente Obama, desde 2010”. Nenhuma regra do Times proíbe conversas em off com presidentes. Sessões mais aprofundadas, diz Leonhardt, produzem dividendos que se veem na matéria publicada. “Acho que leva a conversas mais ricas e a melhor cobertura”, continua. “Mas não me canso de repetir que a cobertura será sempre melhor, se o repórter não se deixar envolver nessas conversas, e o mesmo vale para conversas com o presidente”. “A dinâmica é a mesma, com outros altos funcionários”, diz Leonhardt.

Então, está dito.

Conspirações off-the-record com Obama fedem, por duas razões. (1) Se o presidente diz algo que é notícia a um dos convidados, a notícia, com certeza, vazará da sala. As reuniões off-the-record com Clinton, diz Tumulty, “começaram a ficar problemáticas depois de um certo ponto, porque detalhes sempre vazavam, ou um ou outro repórter conseguia algo que estivesse procurando, e a notícia logo aparecia”. O off, em outras palavras, era tempo perdido. E (2) se o presidente nada diz que seja notícia, que mereça ser publicado... para que servem as reuniões em off? Quer dizer: tempo perdido, também.

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