quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

General McChrystal já está empregado numa fábrica de armas dos Emirados Árabes


“Conhecimento Internacional” [só rindo]

13/12/2012, Aram Roston, US Army Times
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Aram Roston 
Em 2010, a população dos Emirados Árabes Unidos era estimada em 8,2 milhões de habitantes, dos quais apenas 13% nativos dos Emirados – e a grande maioria constituída de trabalhadores asiáticos migrantes.
Os EAU são hoje o 9º maior importador de armas do mundo, segundo o Stockholm International Peace Research Institute, grandes compradores de fornecedores do Departamento de Defesa.
Entre janeiro de 2008 e junho de 2012, o valor revelado do total das licenças aprovadas pelo governo britânico para vendas de armas aos EAU foi de 2.546.370.458 de Libras esterlinas [8.657.659.557 de Reais].


De um pequeno conjunto de escritórios poucos quilômetros ao sul do aeroporto Reagan, em Washington, uma pequena empresa, praticamente desconhecida, chamada Knowledge International [Conhecimento Internacional] LLC faz negócios anuais de $500 milhões de dólares.

É uma das empresas do grupo Emirates Advanced Investments, que faz negócios com o Departamento de Defesa; o grupo pertence à família real dos Emirados Árabes Unidos. Mas, diferente de outras empresas da rede, como a rede C4 Advanced Solutions, de Abu Dhabi, a empresa Knowledge International é empresa norte-americana.

Com autorização plena como vendedora e corretora de vendas de armas, a empresa envia instrutores norte-americanos e armas para os Emirados Árabes, acompanhados de todas as indispensáveis autorizações e licenciamentos emitidos pelo Departamento de Estado e pelo Departamento da Defesa.

Stanley McChrystal
O Conselho Estratégico Consultor da empresa reúne alguns dos mais afamados comandantes de guerra em solo dos EUA: general de exército [aposentado] Bryan “Doug” Brown, que comandou o Comando de Operações Especiais dos EUA; general [aposentado] James Conway, ex-comandante do Marine Corps, muito em evidência, como figura carismática, durante a invasão do Iraque em 2003; e o general de exército [aposentado] Stanley McChrystal, que comandou a Força Internacional de Suporte à Segurança da OTAN, comando do Afeganistão.

Ex-general das Forças Especiais, com carreira considerada brilhante, McChrystal foi o arquiteto da estratégia de guerra do presidente Obama no Afeganistão em 2009. Mas caiu em desgraça em 2010, depois de a revista Rolling Stones publicou entrevista em que fazia comentários sobre funcionários do governo Obama.

A controvérsia o pôs nas manchetes, obrigou-o a demitir-se e abriu caminho para a crítica contra a doutrina da contraguerrilha no Afeganistão. Mas não impediu McChrystal de seguir o caminho sempre trilhado pelos generais de quatro estrelas nos EUA, na direção de empresas privadas fornecedoras do Estado.

O general recentemente aposentado fundou o McChrystal Group, empresa de consultoria, e foi indicado para a presidência do Conselho de Administração da empresa Siemens Government Systems, grupo alemão; além de já ter assento assegurado no Conselho das empresas JetBlue e Navistar.

Mas, diferente dessas empresas, a Knowledge International [Conhecimento Internacional] é empresa privada discreta, sempre distante dos holofotes. A empresa-mãe, EAI, mantém relacionamento próximo com o governo dos EAU e controla grandes negócios de compra de armas para os militares dos EAU.

Procurado para comentar a notícia, o gabinete de McChrystal encaminhou a consulta a Daniel Monahan, diretor-gerente de Knowledge International.

Por e-mail, Monahan escreveu:

O general McChrystal é um grande americano e trouxe à nossa empresa seu consistente compromisso com a excelência. Valorizo seus conselhos e a capacidade para ver soluções simples em cenários em geral muito complicados. Beneficiei-me muito, ao longo do ano passado, das suas opiniões e de seu aconselhamento.

A biografia de McChrystal, muito aguardada, My Share of the Task [Minha parte da tarefa], deve ser lançada dia 7/1/2013.

Al Hammadi
O registro da empresa mostra que a Conhecimento Internacional foi registrada em Delaware em 2010, como propriedade de Hussein Ibrahim Al Hammadi, CEO da EIA, educado nos EUA. Hammadi, segundo um dos telegramas diplomáticos distribuídos por WikiLeaks, “é coronel aposentado do Comando das Operações Especiais dos Emirados Árabes Unidos, com laços próximos com a família real Al Nahayan, de Abu Dabi”.

EAI não respondeu nosso telefonema, nem mensagem enviada por e-mail.

A principal missão da Conhecimento Internacional era ajudar a organizar as forças terrestres do exército dos Emirados Árabes Unidos, pelos moldes do exército dos EUA.

“Estamos focados na transformação – transformação total – das forças armadas deles. Há várias empresas lá, já fazendo isso, mas somos a primeira empresa, nos EUA, de propriedade de cidadãos dos EAU” – disse Monahan, em entrevista.

Ex-piloto da Força Aérea, Monahan foi alto conselheiro militar para assuntos europeus e eurasianos, segundo a biografia divulgada pela empresa. Além de ter trabalhado como vice-diretor de operações do Gabinete Militar da Casa Branca.

Monahan disse que, até aqui, a Conhecimento Internacional tem tido papel limitado nos esforços dos EAU para desenvolver tecnologia avançada. “Ainda nada temos em andamento no campo ‘ciber’” – disse ele.

Monahan disse que a empresa tentou construir um negócio de equipamento para fibra ótica, para sua empresa-irmã nos Emirados Árabes Unidos, C4 Advanced Systems, mas a transação não prosperou.

Quanto ao papel do conselho estratégico, Monahan disse que McChrystal, Brown e Conroy têm reuniões trimestrais e já visitaram juntos, uma vez, os Emirados Árabes Unidos. Não conseguimos fazer contato com Brown e Conroy.

Ricos em dinheiro do petróleo, e situados do outro lado do Golfo Persa, de frente para o Irã, os Emirados Árabes Unidos compraram quantidades gigantescas de armas, e dependem pesadamente de estrangeiros – incluindo empresas norte-americanas e europeias – para treinamento e operação do armamento comprado.

Eric Prince (Blackwater)
Alguns dos contratos de treinamento já estiveram nas páginas dos jornais, como grandes escândalos. Em 2011, o New York Times escreveu sobre os $529 milhões que o Tesouro gastara, com envolvimento do fundador da Blackwater, Erik Prince, para treinar um batalhão de mercenários colombianos numa base localizada nos Emirados Árabes Unidos.

Os EAU são hoje o 9º maior importador de armas do mundo, segundo o Stockholm International Peace Research Institute, grande comprador de fornecedores do Departamento de Defesa. Um dos recentes negócios entre governos foi o acordo firmado, com os EUA, no valor de $3,5 bilhões de dólares, para comprar sistemas de mísseis “Terminal High Altitude Area Defense

Que os EAU sejam aliados dos EUA é questão controversa. Quando a empresa Dubai Ports World, empresa estatal dos EAU, tentou assumir o controle dos seis principais portos dos EUA em 2006, o negócio gerou oposição que se transformou em tempestade política. O senador Carl Levin (D-Mich.) considerou o negócio “estarrecedor”; e o deputado John Boehner (R-Ohio) manifestou “profunda preocupação”. 

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