segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Vazamentos, debates, eleições: quem deseja que os EUA ataquem o Irã?


21/10/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Vazamentos” pelos veículos da grande imprensa-empresa nunca são ingênuos e obrigam a lembrar que onde há fumaça há fogo. Dessa vez, em mais um movimento clássico, foi o New York Times  [1] que publicou, no sábado, notícias “vazadas” de que o Irã estaria interessado em conversações diretas com os EUA.

Eleições EUA 2012 - Obama vs Romney 
O modo como a questão nuclear iraniana apareceu no New York Times, exatamente na véspera do debate dramaticamente decisivo entre os candidatos Barack Obama e Mitt Romney sobre questões de política exterior, mostra bem o peso, dentro dos mais altos escalões do establishment norte-americano, do chamado “partido da guerra” – que vota por mais guerras e opõe-se a qualquer tipo de negociação diplomática entre Washington e Teerã.

O “vazamento” pelo NYT ajuda a torpedear contatos EUA-Irã que, obviamente, já estão em andamento. Dado que só meia dúzia de pessoas, dos mais altos escalões do governo dos EUA, sabem desses contatos absolutamente não divulgados até agora, o “vazamento” é, também, ato de sabotagem contra o governo Obama, para favorecer a candidatura Romney; e só pode ter partido de peixões realmente muito grandes em Washington, interessados em guerra.

A Casa Branca tratou de desmentir o mais rapidamente possível o tal “vazamento”: repetiram que Obama não tem qualquer intenção de manter conversações diretas com o Irã. [2] A resposta visa a neutralizar o veneno que pinga da matéria publicada no NYT a qual, mesmo que não tenha sido produzida para esse fim específico, muito ajudará Romney, no debate de hoje, a repetir que Obama estaria “afrouxando” contra o Irã.

Ali Akbar Salehi
Mas, se se leem as entrelinhas, a Casa Branca também escreveu que “em princípio, sempre é favorável a conversações diplomáticas”.  [3] Ora! E qual seria o problema de haver conversações diretas EUA-Irã, se se sabe que, de fato, só conversações diretas podem pôr fim àquele impasse sem solução?

A grande questão é que um Obama que favoreça mais a via diplomática que a guerra contra o Irã não tem, hoje, a reeleição garantida nos EUA. O NYT não está longe da verdade: parece haver número significativo de cidadãos norte-americanos que, sim, estarão votando a favor de mais guerra.

O Irã também reagiu com negativa pro-forma  [4] à matéria do NYT, mas também do lado iraniano da mesa houve entrelinhas: o ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi deixou entrever a informação de que os contatos estão “em pausa”, por causa das eleições presidenciais nos EUA; depois das eleições, sim, a via política será novamente ativada. Mencionou especificamente o final de novembro, como momento previsto para que se retomem as negociações.



Notas de rodapé
[1] 20/10/2012, Xinhuanet, China, em: U.S., Iran agree to one-on-one nuclear negotiations – media”.
[2] 22/10/2012, Sydney Morning Herald, Margareth Talev, em: No deal for nuclear talks with Iran after US election”.
[3] 21/10/2012, Associated Press, Mathew Daly, em: White House prepared to meet one-on-one with Iran”.


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MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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