quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Em terra de bandidos você tem que ser “gangster” (Vitória de Pirro)*




Texto de Jair Alves - dramaturgo
Enviado por Ana Engelen
Original no Portal Macunaíma




 


O provérbio acima grafado no título foi usado pelo dramaturgo, Bertholt Brecht , na peça a “Ascensão e Queda de Arturo Ui”, uma parábola dos anos trinta, sobre o regime Nazi-fascista ambientado na cidade de Chicago explorando as contradições de um sistema mafioso à margem da Lei na realidade norte-americana.

A frase original quase intraduzível para a língua portuguesa, se não é exatamente essa (é algo parecido) e seu significado inequívoco. Esta fala próxima do paradoxal parece ter sido entendida pela maioria da população brasileira que nesse outubro continua escolhendo, via de regra, aquilo que melhor lhe parece.

Por mais que se juntem interesses econômicos inconfessáveis, protegidos por sigilos em que a Lei (ora a Lei) não alcança, a mesma população (estamos escrevendo de maioria) não se seduziu aos alardes de uma “nova moralidade” e vai votar ao seu bem estar o que, convenhamos, está mais do que certo.

Longe deste humilde “escrevinhador” em achar que esta maioria seja conivente com “o malfeito”, ela sabe perfeitamente que a ruptura com uma suposta legalidade pode se originar em dois caminhos distintos, um que leva à Libertação e um outro a Submissão.

É justamente a população quem sofre com Sistemas que criados à margem da Lei, tais como Máfia do botijão de gás; da Internet Banda Larga, clandestina; dos produtos pirateados, só para falar em alguns exemplos.

Esta não é a realidade particular dos juízes togados, protegidos justamente pelo pacto social que garante a todos o Império da Democracia. Garante mesmo? Lembro a pergunta que não quer calar, “como ficam os demais, aqueles que estão marginalizados pelo sistema?”. Poderia ser comovente conhecer, como uma nota ao pé da página, a vida pública desses juízes togados desde os bancos escolares, passando por universidades e o seu engajamento pela paz social e que ontem foi demagogicamente evocada pelo relator “mão pesada”.

Algumas páginas deste livro, provisoriamente intitulado “A República Brasileira”, foram arrancadas na construção desse enredo.

Já durante 2003 circulou à “boca pequena”, entre os oposicionistas, que o ex-presidente FHC havia se reunido em seu apartamento em Higienópolis, em São Paulo, com agentes do governo de Washington para discutir e tomar providencia para que um “mirabolante plano” não fosse colocado em prática pelo superministro, José Dirceu, que seria “tomar o poder” pelas vias legais que engessaria a oposição garantindo, assim, sempre maioria no Congresso.

Para dar mais veracidade a “denúncia”, não a da reunião no bairro chic da cidade de São Paulo, mas a do tal plano citava que lideranças dentro do Partido dos Trabalhadores, como o, hoje, presidente Rui Falcão estava preocupado com a ação da corrente majoritária liderada por Lula e José Dirceu, que obrigavam parlamentares da mesma corrente a destinar de seus proventos mensais uma parcela para financiar atividades políticas extraparlamentar. Não é difícil observar que, se verdadeiro este procedimento, já se tratava de um “antimensalão”.

Neste caso era um parlamentar dando dinheiro e não recebendo. O episódio caiu no esquecimento quando Carlinhos Cachoeira (sim, ele mesmo) entregou uma fita de vídeo para um inexpressivo senador do PSDB que afoitamente procurou a Revista Época, em busca de “celebridade”.

Houve, portanto, uma mudança de foco. Descobriu-se que um dos personagens dessa trama sórdida era Waldomiro Diniz, assessor da Casa Civil, indicado por Antoni Garotinho, à época um aliado ao Governo Lula.

Além de abortar o”plano de conspiração” contra o Governo Lula que deveria estourar às portas das eleições municipais de 2004 e não dar celebridade ao denunciador, que jamais se reelegeu, obrigou José Dirceu a dividir seus poderes com o, hoje, Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo que passou a responder pela Secretaria de Coordenação Política e Relações Institucionais, com status de ministro.

Ou seja, no inicio de 2004 José Dirceu perdeu poderes políticos dentro do próprio governo, justamente no período alegado por Roberto Jefferson da onipresença do ex-ministro e, agora, condenado pelo STF.

Que está faltando algum pedaço nessa história, todos sabemos, o que demandara novas histórias mal contadas nos próximos capítulos. Não faltarão, como não faltam,  acusações, às vezes grosseiras, de que o ex-presidente Lula tem tudo a ver com este caso.

Outra pergunta que não quer calar: o que exatamente concluiu, a ação Penal que condenou Waldomiro Diniz e os seus antigos aliados? Provou que nem José Dirceu tinha conhecimento do passado escuso de seu ex-assessor, como, também o Partido dos Trabalhadores ou membros de sua direção tinha algum envolvimento com este caso; já Roberto Jefferson, este sim!

Cremos que a população, ainda que por intuição, captou o sentido dos versos de um (este, sim) extraordinário poeta, João Cabral de Mello Neto, quando escreveu lá no final da década de cinquenta: não se faz só com palavras à vida”. Não tão brilhante, um outro poeta e presidente do STF enfatizou, ontem, a respeito da vida a paridade entreDeus e a Política”, chegou a afirmar: “Deus no Céu e os políticos na terra”.

Que mundo vive este senhor, às portas dos setenta anos? Com toda certeza, ele Preside um Tribunal de um Mundo onde nós não vivemos. A maior parte da população, tampouco.

Sim, mas ainda existem os poetas, os artistas e, um deles, certa vez compôs: “poetas, seresteiros, namorados correi. É chegada a hora de escrever e cantar, talvez as derradeiras noites de luar”.

Tempos depois (FINAL DA DÉCADA DE SESSENTA) esse nosso pequeno mundo por nome BRASIL, fora assaltado por tenebrosas transações e um Império onde a Lei de nada valia. Alguns sobreviveram para reproduzir e cantar outros tempos, estes, sim, verdadeiramente novos.

Não sem razão que, em Salvador, hoje na terra de todos os santos, e aqui em Sampa onde se cruza a Ipiranga com a avenida São João, o artista em foco escolheu no presente, o caminho da Libertação de todos os homens:Este samba vai pra Dorival Caymmi, João Gilberto e Gilberto Gil...!”.

(*) O julgamento da AÇÃO PENAL 470 não se encerra nesta QUINTA FEIRA, como gostariam os promotores deste evento às portas das eleições de 2012, com prejuízos inequívocos ao Governo Federal. Ainda teremos novos desdobramentos, com resultados ainda a se conferir.

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