segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Como Chris Poole (do 4Chan) comanda sem um vintém sua rede gigante


18/10/2012, Parmy Olson, Forbes
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Comentário do Zé-do-Ki, direto do balcão: Ah, é! Ah, é! Agooora, vai! Acooorda Estadão! A revista Forbes já quer ser o 4Chan! \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/

Parmy Olson
Mesmo que você jamais tenha ouvido falar de Christopher Poole, certamente já ouviu falar de sua página na internet, 4chan. Se não ouviu falar do 4chan – página gigante, super abastecida de produtos criativos, às vezes tolos, às vezes repugnantes –, certamente já ouviu falar do movimento digital que 4chan disparou há, já, vários anos, os Anonymous. Seja como for, as duas comunidades reúnem milhões de pessoas e ambas já chegaram às manchetes da imprensa internacional. Fato é que, por trás do palco, o fundador de 4chan sempre comandou sua página original, de fato, com orçamento mínimo; de fato, sem um vintém.

4chan não tem empregados em tempo integral, [não emprega jornalistas, nem editores], nem desenvolvedores nem administradores de sistemas. Poole e um desenvolvedor de sistema que trabalha em tempo parcial administram uma página na internet que já se aproxima de 20 milhões de visitantes/mês, absolutamente sozinhos.

“De fato, não dá dinheiro” – diz Poole no Web Summit em Dublin, Irlanda, vestido, como sempre com suas tradicionais calças largas cinza escuro e camiseta cinza claro. 4chan não conta com investidores – o que talvez nem surpreenda, dada total liberdade de conteúdo que, não raras vezes, inclui muita pornografia.

Chris Poole fala sobre o 4chan durante a conferência
Digital Life Design (DLD) em 22 de janeiro de 2012 
Há quem diga, na tech-indústria, que a página nunca passou de mais uma “bootstrapped” [1] [butestrepada?] ao longo dos últimos nove anos de existência, e que depende do fundador para sobreviver. Em certo sentido, 4chan nada tem de “iniciante”, como projeto que Poole manteve ao longo dos anos, para a imensa comunidade que ali se reuniu. “É um hobby”, diz Poole, que atende pelo apelido “moot” na página, onde é adorado por muitos usuários.

Depois da palestra para os desenvolvedores aqui reunidos, Poole desabou num sofá próximo, com ar exausto. Problemas de fuso horário. Dali só sai para as raras conferências nas quais veja algo interessante a aprender, ou para encontrar alguém que considere interessante. Poole também está ocupado em malabarismos para organizar uma outra empreitada, dessa vez com dinheiro às veras. Em 2011, Union Square Ventures investiu $3 milhões numa página colaborativa que Poole fundou, chamada Canvas Networks. Mas os anos de 4chan ensinaram-lhe lições valiosas, a principal das quais é que o segredo é não complicar.

Poole diz que as pessoas têm um impulso incontrolável de “trabalhar com redundâncias”. Em outras palavras, é uma obsessão por começar negócios em que se reúnem mais dinheiro, sistemas e partes móveis, do que as realmente necessárias. “Em todos esses casos, um desses itens sempre dará xabu” – ensina.

4chan, por sua vez, roda em apenas cinco servidores e só há dois meses teve sua primeira Application Programming Interface (API). Nos últimos nove anos, as quedas que houve foram provocadas por erros do próprio Poole ou por fatores externos que ele não controlava, como um ataque distribuído de negação de serviço [orig. Distributed Denial of Service (DDoS)], comandado por detratores. Poucos problemas tiveram algo a ver com mau funcionamento ou má operação de software ou hardware.

A página exige manutenção mínima (de fato, super mínima). Todas as páginas são iguais, para todos os usuários, absolutamente sem diferença alguma. A página nada arquiva; não arquiva nenhum conteúdos. A cada (mais ou menos) 24 horas, 4chan apaga todos os comentários e imagens postadas depois da última “limpeza”. “É uma das raríssimas páginas que absolutamente não tem memória” – diz Poole. “Dia seguinte, tudo é esquecido para sempre”.

A memória-zero ajudou Poole a evitar multas monstros. Das dezenas de milhares de postados no 4chan todos os dias,, muitos incluem links para páginas torrent de música e filmes, além de softwares “pirateados”. Mas, quando a intimação judicial aparece em sua caixa de mensagens, o link “criminoso” já foi apagado há muito tempo. “Não tenho recursos, como YouTube, para processos de $1 bilhão contra Viacom” – diz ele. Daí aprendeu que “Só armazene o que você precisa absolutamente armazenar. As pessoas tendem a armazenar tudo”.

Ensina também que programadores e criadores iniciantes devem-se habituar a comprar material usado. Assim como há vasto mercado para cadeiras de escritório de segunda mão (graças ao número de programadores e criadores iniciantes que compraram cadeiras novas e deram-se muito mal), há também vasto mercado para servidores de segunda mão. Como carros, os servidores perdem grande parte do valor no minuto em que são tirados da prateleira. “4chan não existiria sem eBay” – diz Poole. Diz também que comprou todo seu hardware naquela página; e há anos, no tempo em que ainda não tinha idade para dirigir e sua mãe tinha de levá-lo “a picos muito pirados” onde se vendia hardware de segunda mão.

Outra das lições que Poole aprendeu e ensina é parar de tentar resolver problemas que nada têm a ver diretamente com o que você quer fazer. Houve tempo em que 4chan rodava seu próprio DNS; e aquela configuração dava-lhe muito trabalho. “Eu tinha um servidor primário DNS e, se alguém derrubasse aquele servidor, derrubava toda a página”. Poole e alguns apoiadores até chegaram a tentar escrever um sistema captcha próprio, para o 4chan, mas “foi a pior ideia possível”. Hoje, o serviço de hospedagem de redes Cloudflare cuida integralmente do DNS do 4chan e de mitigar os ataques DDoS.

“Trabalhar absolutamente sem dinheiro pode ser uma bênção”, disse Poole na conclusão. “Se você vive sem recursos, é obrigado a olhar com lente de aumento tudo o que você tem. Aprende-se a pensar de modo completamente diferente. O dinheiro não faz sumir os problemas”. E com essa Poole sumiu da sala, à procura do almoço e, depois, uma merecida sesta.



Nota dos tradutores
[1] Orig. Bootstrapped, “ser morto ou eliminado por golpe fraco ou mal aplicado, especialmente a facadas. Na origem, o adjetivo aplicou-se a um dos personagens de “Piratas do Caribe”, Norrington, o qual, conhecido e afamado por ser espadachim habilidosíssimo e invencível, acaba morto, em total anticlímax, por adversário amalucado e hiper incompetente, de nome Bootstrap Bill” (imagens em: “Bootstrap” Bill Turner).

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