segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Mídias sociais nos protestos: há “recrutadores” e “espalhadores”


20/12/2011, Science Daily (in Scoop it!)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

ATENÇÃO: Comentário conclusivo do pessoal da Vila Vudu
O artiguinho abaixo não é nenhuma brastemp. Mas ajuda a confirmar o que muitos já sentem e percebem, intuitivamente e pela prática na blogosfera, nas listas de discussão e no Twitter:

(1) se nós ficarmos REPETINDO matérias dos colunistas do GAFE (Globo/Abril/FSP/Estadão) e seus blogueiros empregados, mesmo que se suponha que os estamos “criticando”, e mesmo que os espinafremos de cima a baixo, nós estaremos fazendo o trabalho de “espalhadores” do que aqueles caras escrevam (a coisa pode ser muito diferente, contudo, se RIRMOS deles, mais do que ficarmos furiosos ou indignadinhos); e
(2) se queremos recrutar pessoas para um movimento discursivo CONTRA os colunistas do GAFE e seus blogueiros empregados, temos de inventar alguma ação discursiva que não seja só criticar (e nem se os pode xingar muito!) e REPETIR o que eles escrevem.

A ideia segundo a qual quem leia o que o Noblat publique, imediatamente “VERÁ” que o que o Noblat escreve é bullshit é ingênua. De fato, todos nós JÁ SABEMOS TUDO que o Noblat e escreverá sobre praticamente TODOS os assuntos (pelo menos, enquanto o blog dele continuar a ser blog do Globo). 

O Noblat não escreve para informar sobre coisas que as pessoas não saibam (se escrevesse alguma coisa que todo o GAFE também não esteja escrevendo igualzinho, o Noblat estaria fazendo concorrência ao patrão e seria demitido).

O que o Noblat escreve tem duas funções:

(a) ele escreve para dar mais argumentos e palavras AO PESSOAL já arregimentado pelo GAFE e seus blogueiros empregados; nesse sentido, o Noblat é “espalhador” (na classificação que o estudo abaixo propõe: ele não cria nada; só repete, pra espalhar; e
(b) para pautar a discussão social.

Se nós REPETIMOS o que o Noblat escreva, mesmo que para “criticá-lo” e responder a ele, nós estamos AJUDANDO o Noblat – que entra aqui só como exemplo: vale para todos os colunistas, jornalistas e blogueiros de repetição do GAFE– nas duas funções (a) e (b) acima!

Aí vai o artigo, pra começarmos a pensar um pouco sobre isso.
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Sandra González Bailón
Estudo feito pela Oxford University e publicado no jornal Scientific Reports descobriu que o grupo mais influente nas mídias sociais é um pequeno grupo de usuários, próximos do centro de uma rede. Esse grupo, descrito pelos pesquisadores como “de espalhadores”, tem papel crítico em disparar cadeias de mensagens que chegam a grande número de pessoas. Mas os participantes do início do protesto e os que iniciam o processo de recrutamento não têm posição central na rede: são iniciadores do movimento e os primeiros que se movem em pequenas redes locais. Esses disparam a atividade inicial online que, em seguida, passa a ser espalhada pelos “espalhadores”, mas há recrutadores espalhados por toda a rede, em todas as redes – sugere o estudo.

A pesquisadora Dra. Sandra Gonzalez-Bailon do Oxford Internet Institute (OII) na Oxford University, em colaboração com colegas da universidade de Zaragoza, Espanha, coordenados pelo Dr. Yamir Moreno, analisou dados de atividade no Twitter durante os protestos de massa na Espanha em maio de 2011. Esses protestos foram disparados por uma resposta à crise financeira, e resultaram em demandas por novas formas de representação democrática. O principal alvo da campanha foi uma manifestação de protesto organizado no dia 15 de maio, que levou milhares de pessoas às ruas de 59 cidades em todo o mundo. Depois da passeata, centenas de participantes acamparam em praças da cidade, até o dia 22 de maio, data de eleições locais e regionais, em manifestações massivas que se repetiram todos os dias durante aquela semana.

O pesquisadores acompanharam os tuítes de 87.569 usuários e rastrearam um total de 581.750 tuítes de protesto durante 30 dias. Descobriram que o crescimento do movimento aconteceu mediante dois processos paralelos: (1) o recrutamento, iniciado por pessoas que trabalhavam a favor do movimento desde os primeiros momentos, num processo que o estudo chama de “envio randômico”; e (2) a difusão da informação, que fez crescer o movimento a partir daqueles primeiros recrutadores; a difusão foi feita pelos “espalhadores”. 

Esses espalhadores estavam em pontos mais centrais da rede, não necessariamente porque tivessem grande número de conexões, mas porque eram conectados com usuários que também tinham boas conexões. (...)

Segundo Sandra Gonzalez-Bailon, “esse é o primeiro estudo empírico que tenta analisar os mecanismos por trás do recrutamento para protestos de massa por redes online. Mostra que a mobilização de grandes massas não depende da influência dos usuários centrais, embora esses sejam crucialmente importantes para o crescimento do movimento, mas da ação de muitos usuários em redes locais, menores, que acabam chegando aos grupos influentes de opinião que existam nas comunidades.”

“O motivo pelo qual se apóia uma causa depende de muitos fatores e está diretamente relacionado ao que acontece no mundo offline. Examinando o comportamento de usuários online das redes sociais, conseguimos estabelecer que muitos são influenciados pelo que fazem as pessoas à sua volta. Se são expostos a muitas mensagens que conclamam a agir, em curto período de tempo, é muito provável que respondam à urgência da convocação e unam-se ao movimento. Assim se criam bolhas de recrutamento que podem converter-se em cascata global com efeitos realmente dramáticos – como demontram as grandes manifestações de massa e as várias ocupações que se seguiram” – diz Sandra Gonzalez-Bailon.

Estudo completo
Sandra González-Bailón, Javier Borge-Holthoefer, Alejandro Rivero, Yamir Moreno. The Dynamics of Protest Recruitment through an Online Network. Scientific Reports, 2011; 1 DOI: 10.1038/srep00197

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