quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Turquia pronta para invadir a Síria


29/11/2011, *M K Bhadrakumar, Indian Puchline  
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

A Turquia e seus aliados ocidentais estão transferindo, para a Síria, os mercenários líbios que treinaram e armaram para depor Muammar Gaddafi. Cerca de 600 “voluntários” líbios já entraram na Síria. O jornal Daily Telegraph noticia que houve encontros secretos na 6ª-feira em Istambul, entre oficiais turcos, representantes da oposição síria e mercenários líbios. Infiltração de armas em grande escala, da Turquia e da Jordânia, já ocorre há meses, para criar condições para uma guerra civil na Síria, mas, até agora, não havia notícia de infiltração também de grande número de mercenários “voluntários”.

O movimento tornou-se necessário, porque o projeto de induzir grande número de deserções nas forças armadas sírias não produziu o resultado esperado (houve pouquíssimas deserções). A Turquia e as potências ocidentais precisam desesperadamente construir o mito de uma força síria “de resistência” contra o regime de Assad, sem o qual qualquer movimento contra a Síria estará exposto como o que realmente é, agressão nua e crua.

Moscou reagiu hoje: sugeriu firmemente que pode fornecer armas ao regime sírio, para sua autodefesa. O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, parou um a um milímetro de dizê-lo claramente. Disse que qualquer embargo de armas para a Síria seria “injusto”. Moscou confirmou que uma esquadra de combate russa navega para a base russa no porto sírio de Tartus, no Mediterrâneo oriental, bem próxima da fronteira entre Turquia e Síria. Lavrov criticou a interferência estrangeira na Síria, mas sem citar Turquia, Jordânia, etc.

As coisas parecem estar andando céleres para a invasão. Sinal claro disso é que o vice-presidente Biden dos EUA, estará em Ancara no fim-de-semana. Com toda a certeza, lá estará para dar aos turcos o “sinal verde” dos EUA, para que ataquem a Síria, sem medo. E o rei Abdullah da Jordânia viajou outra vez para Israel. É o “canal oculto” direto entre Arábia Saudita e Israel e aliado regional chave da inteligência ocidental.

Verdade é que a Turquia está tendo de engolir o medo do desconhecido, e se exporá muito abertamente, com a intervenção armada na Síria.

Hoje, pela primeira vez, o ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davotoglu sugeriu que a Turquia esteja em preparação para invadir a Síria; à espera, apenas, do “sinal verde” dos aliados ocidentais. Foi o que quase disse, pouco antes de uma reunião de ministros de Relações Exteriores da União Europeia e representantes da Liga Árabe (leia-se: Arábia Saudita e Qatar).  

O dia dessa fala de Davutoglu, 29 de novembro, ficará marcado na crônica da República Turca que Kemal Ataturk fundou. A “linha vermelha” que Ataturk fixou determinava que em nenhum caso a Turquia se deixaria envolver nas questões do Oriente Médio muçulmano e que, em vez disso, se dedicaria à “modernização” do país. Evidentemente, o governo islâmico, hoje no poder, entende que a Turquia já é suficientemente “moderna” e já pode voltar atrás e ir à guerra para reclamar seu legado otomano. 

Haver exército turco em ataque a país árabe – isso é virada histórica. Faz um século que os turcos foram vencidos pela “revolta árabe”. A coincidência pinga de ironia.

A revolta árabe contra os turcos foi instigada pela Grã-Bretanha. E a Grã-Bretanha, embora seja hoje poder muito enfraquecido, ainda desempenha papel seminal, com a diferença que, hoje, está empurrando os turcos de volta ao mundo árabe. Há cem anos, a Grã-Bretanha conseguiu empurrar os árabes contra os turcos. Hoje, os turcos dão as mãos a alguns árabes, contra outros árabes.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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