segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coincidência ou guerra suja contra o Irã?


14/11/2011, Kaveh L Afrasiabi, Asia Times Online 
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Teerã – Explosões que deixaram 17 mortos numa base militar a 60 km ao sudoeste de Teerã, que coincidiram com a morte suspeita do filho de um ex-comandante do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps (IRGC) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, dispararam especulações, no Irã, sobre se os dois eventos estão ou não conectados às recentes ameaças, pelos EUA, de que podem recorrer a execução sumária de altas figuras do IRGC.

O general Hasan Moghaddam, figura chave do programa iraniano de mísseis, morreu, com outros 16 membros do IRGC, no sábado, num prédio militar. Os Guardas Revolucionário disseram que a explosão foi acidental, quando militares transportavam munições. 

IRGC - Iranian Revolutionary Guards Corps (poster)
O Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos elogiou o general Moghaddam, dizendo, em declaração, que não esqueceriam “sua efetiva contribuição para o desenvolvimento das defesas do Irã (...) e seus esforços para implantar e organizar as unidades de artilharia e mísseis do IRGC”, principal eixo do aparelho de defesa e contenção do Irã, segundo notícias semioficiais distribuídas pela agência de notícias Fars. 

Praticamente no mesmo momento, Ahmad Rezai, filho mais moço de Mohsen Rezai, que comandou os Guardas Revolucionários Islâmicos na guerra Irã-Iraque dos anos 1980s, influente conselheiro do aiatolá Khamenei e candidato à presidência nas próximas eleições no Irã, foi encontrado morto num hotel em Dubai, em “condições ainda não esclarecidas”, segundo relatos oficiais. 

“Se mãos sujas de governos estrangeiros forem encontradas em qualquer desses incidentes, o governo iraniano passará a ser fortemente pressionado pela opinião pública para que vingue a morte desses dois mártires” – disse um cientista político da Universidade de Teerã, que pediu para não ser identificado. 

Antes, em resposta às ameaças dos EUA, de que assassinariam líderes iranianos, o general Amir Ali Hajizadeh, também comandante do IRGC, já dissera que os norte-americanos passariam a ser caçados na região, se os EUA realmente fizessem o que ameaçaram fazer. 

A depender do que seja revelado nas investigações que o Irã já iniciou sobre os dois incidentes, há graves possibilidades de que estejamos à beira de uma terrível nova fase nas difíceis relações entre EUA e Irã, com agravamento da instabilidade regional. 

Outro desenvolvimento que preocupa as autoridades iranianas é o recente aumento no número de ataques contra peregrinos iranianos que viajam ao Iraque, principalmente em ataques de beira de estrada contra ônibus de passageiros, como o que ocorreu no domingo, ferindo 13 iranianos, na área de Kadhmiyah, norte de Bagdá. 

Não faltam, no Irã, comentaristas e analistas que conectam entre si todos esses incidentes, como parte do mesmo esforço, pelos EUA, para desestabilizar o Irã, de um modo ou de outro. 

Embora a explosão na base militar tenha acontecido a cerca de 60 km da capital, as ondas de choque sacudiram a capital, o que só fez aumentar a ansiedade, depois das inúmeras ameaças, por Israel, de iminente ação militar contra o país, por conta do programa nuclear iraniano. 

Segundo o jornal Jame Jam, “O primeiro efeito da explosão na opinião pública iraniana foi lembrar as ameaças dos últimos dias, questão muito presente nas conversas de rua, em Teerã”. 

Mapa geopolítico do Irã
O Irã tenta manter estado de normalidade, não de emergência, mas há sinais de preocupação nas ruas de Teerã, Isfahan, Meshed, Tabriz, Shiraz e outras cidades e vilas pelo país, sobretudo entre os mais jovens, que cada vez mais se sentem ameaçados por governos estrangeiros. 

Nas palavras de um analista político, de um dos think-tanks em Teerã, “os inimigos do Irã estão empenhados em guerra psicológica total, agora tentando ferir a economia iraniana. As mais recentes ameaças israelenses provocaram algum pânico (não foi grave) na Bolsa de Valores, e pequena queda do valor do rial [moeda iraniana] contra o dólar norte-americano”. 

Em outras palavras, o Irã está sob ataque de uma guerra econômica, movida, também, pelas ameaças de ataque militar por EUA e Israel. 

Não se sabe por quanto tempo a atual situação poderá ser mantida, sem que se converta em grave crise econômica, problema importante que se liga aos programas nucleares e à diplomacia iraniana, à luz do mais recente relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, que acusa o Irã de prosseguir em seus planos para proliferação nuclear – acusação que o Irã rejeita de forma absoluta. 

Mas, apesar de o relatório não ter conseguido induzir novas sanções contra o Irã – a Rússia contestou o relatório, sobretudo o que a AIEA diz do envolvimento de um cientista russo, que comprovadamente nada jamais teve com o programa nuclear iraniano – os vários golpes de guerra suja contra o Irã, na forma de ameaças cada vez mais claras de ataques militares iminentes e a possível ação de grupos de agentes clandestinos, podem forçar o Irã  a adotar uma nova doutrina militar. Nesse caso, o país pode ter de abandonar a posição atual, de postura exclusivamente defensiva, para adotar posição mais ofensiva. 

“Até agora, Teerã tem-se mantido em atitude de máxima autocontenção, mas, se os inimigos continuarem com múltiplas agressões contra o país, acredito que todos veremos aparecer uma nova estratégia militar, de investirá mais no músculo militar, e que não se limitará a reagir às contingências que os inimigos do Irã insistem em criar contra o país” – disse o professor da Universidade de Teerã. 

A morte do jovem Rezai em Dubai está sendo investigada. Se se comprovar que resultou da ação de agentes estrangeiros, o assassinato terá forte impacto na opinião pública no Irã, que exigirá retaliação exemplar contra os assassinos. 

As maiores suspeitas recaem hoje sobre o Mossad israelense, que já se sabe que esteve por trás do assassinato, recentemente, de um líder do Hamás, em Dubai. Alguns analistas especulam que Israel jamais deixou de tentar desestabilizar o Irã, empurrar o país para a radicalização e enfraquecer as vozes moderadas, como a do general Mohsen Rezai, defensor empenhado da descentralização econômica. 

Ao assassinar o filho do general Rezai, provocando “dano colateral”, a intenção dos assassinos poderia ser empurrar os Guardas Revolucionários Iranianos para posição de confronto declarado, o que poderia levar a fuga de investimentos, de capitais etc. 

Evidentemente, até agora, nada permite que se descarte a possibilidade de simples coincidência entre a morte de Rezai (que pode não ter sido resultado de ação de agentes estrangeiros clandestinos) e o que também pode ter sido simples acidente, na explosão na base militar iraniana. Mesmo assim, nada impede que os dois eventos sejam usados como instrumentos para fazer crescer a especulação e os boatos, o que vai tornando cada dia mais difícil o ambiente da guerra psicológica que EUA e Israel movem hoje contra o Irã e enfraquece a posição dos moderados, dentro do Irã. 

Esse ambiente vai-se deteriorando rapidamente, o que tem levado muitos analistas, em Teerã, a prever desenvolvimentos cada dia mais graves e mais indesejáveis.

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