terça-feira, 4 de outubro de 2011

FALTA DE ASSUNTO

*José Flávio Abelha

O Correio da Manhã foi um periódico brasileiro, publicado no Rio de Janeiro, de 1901 a 1974. Fundado por Edmundo e Paulo Bittencourt, vangloriava-se por dar ênfase à informação em detrimento da opinião.

Caracterizou-se por fazer oposição a quase todos os presidentes brasileiros no período, razão pela qual foi perseguido e fechado em diversas ocasiões, e os seus proprietários e dirigentes, presos.

Foi em sua redação que o escritor carioca Lima Barreto se inspirou para compor as peripécias jornalísticas do personagem Isaías Caminha na obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha, o que tornou o autor em persona non grata ao periódico e seus redatores. Ali também trabalharam Otto Maria Carpeaux, Ledo Ivo, Renard Perez, Antônio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Márcio Moreira Alves, Holoassy Lins de Albuquerque, Vicente Piragibe, e o influente crítico Antônio Moniz Vianna, entre outros.

Em 14 de outubro de 1966, foi publicada uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre a música “A Banda” de Chico Buarque, em tom de crítica ao governo militar da época.

O Correio da Manhã não sobreviveu ao regime militar instalado em 1964 no país, por ser um feroz opositor do governo. Acabou sendo asfixiado pela prisão de sua proprietária Niomar Moniz Sodré e principais redatores e por falta de verbas publicitárias, quadro causado pela pressão do governo militar.

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HOJE, ninguém mais se lembra do velho e bom Correio, esquecimento fruto da chamada desmemória do povo, o que não é verdade. Este blogueiro está alinhavando um texto sobre essa tal de memória curta do povo.

Cansado de ouvir e ler sobre carregamentos de maconha, cocaína, e estupefacientes fabricados em grandes laboratórios europeus e a prisão dos traficantes, lembrei-me de um chiste sobre o saudoso Correio.

A grande guerra (39/45) já estava virando o segundo terço, os chamados aliados faziam conferências para a futura divisão do mundo pós-nazismo, quando um alemão pediu um encontro com Paulo Bittencourt, alegando ser motivo de uma reportagem que iria colocar o jornal no topo das vendagens, porém, condicionava seu segredo à conversa com o dono do jornal, o que conseguiu.

O jornalista recebeu o alemão e lhe perguntou com acentuada curiosidade, qual era o furo de reportagem. O alemão encarou com olhar firme o marido da Niomar Muniz Sodré e lhe confessou:

- Dr. Paulo, eu sou o único alemão vivo na face da terra. E sendo assim, acho que mereço uma reportagem especial.

Paulo Bittencourt, muito espantado, ainda ouviu:

- Sou assinante do Correio muito antes da guerra começar. Tenho, dia e noite, anotado todos os números, que o seu jornal anuncia, das vitórias dos aliados e as baixas alemãs. Baseado nos números publicados cheguei à conclusão de que sou o único alemão vivo, segundo o seu jornal.

Volto às anunciadas prisões de traficantes. Pelos números, o governo está alugando até hotéis para alojar tanto bandido. E o que é melhor, deve restar pouca gente ainda no tráfico. Ou não?

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MATOU, MAS VAI RECORRER DA PENA EM LIBERDADE!

Dois bandidos, travestidos de skinheads ou cabeças raspadas, vadios de berço esplêndido, obrigaram dois jovens a pular de um trem em movimento. Um pobre coitado morreu e o outro perdeu, se não me engano, o braço direito.

Um dos bandidos já foi condenado. O outro foi apenado em mais de trinta anos, PORÉM, vai recorrer da pena em liberdade!

Confesso que não entendi. Segundo os doutores do Direito, os tribunais podem, e manda o bom senso, quando muito, diminuir a pena, nunca, anular, o que seria a vergonha das vergonhas. Logo, o bandido deveria ficar na cadeia enquanto seus advogados batessem às portas dos tribunais. Se diminuída a pena, o cabeça raspada já teria cumprido parte dos anos que os sábios ministros acharam por bem adequar à situação. A ladainha, porém, vai rolar por anos e anos, o cabeça raspada vai ter sua crina de volta e as famílias das vítimas que se danem e que não se esqueçam de levar flores à sepultura do jovem assassinado.

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A mídia noticiou semana passada a prisão de um bandido, traficante com metros de folha corrida. O traficante, braço direito de um big boss da cocaína, atualmente passando uma temporada na prisão, estava curtindo as benesses de uma liberdade condicional com a devida tornozeleira eletrônica. Um belo e radiante dia jogou a engenhoca fora e saiu por aí gerenciando os negócios do boss, o que sempre fez. Dizem que, agora, vai cumprir o restante da pena na prisão. Ou Não?
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Ainda agora um jovem guiando um carrão importado de R$200 mil, sai de uma balada lá pelas seis horas da manhã, visivelmente trêbado, atropela quem encontrou pela frente e abalroa outro tanto de veículos. Vai recorrer em liberdade se pagar R$250 mil de fiança. Se o papai lhe deu duzentinhos para o carango, o que são 250 mil para deixar o filhinho ficar livre e aprontar outras?

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Um professor em Brasília mata a ex-namorada, leva o corpo para uma delegacia e se entrega. Chora, diz-se arrependido, e seu advogado alega a tradicional violenta emoção, a desculpa esfarrapada de todo canalha depois do crime. Até agora o seu maior castigo foi o gesto demagógico dos seus patrões: demissão sumária. A família da vítima, moça, bonita, estudante de direito, já deve estar preparada ou se preparando para a notícia corriqueira: o criminoso vai apelar em liberdade. Ou não?
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E muitos e muitos criminosos estão nas mesmas condições: estão apelando em liberdade.

Afinal, pra quê cadeia se o acusado tem residência fixa, emprego, é de família boa e não tem antecedentes criminais? Deixa o assassino em paz, pombas!

Esse negócio de cadeia é para favelado, preto e pobre, para aquele camelô que defende o leitinho das crianças nas esquinas vendendo DVDs e CDs da pior qualidade. Embora a imprensa diga que ele dá prejuízo de BILHÕES à nação e contribui para armar o tráfico, esquecendo que as armas nas mãos dos bandidos são mais sofisticadas e mais caras que a das forças de repressão e são todas, ou quase, desviadas das polícias, exército ou importadas dos EUA e da Europa.

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PERGUNTAR NÃO OFENDE

A campanha contra as sacolas de plásticos nas feiras, supermercados e que tais não está surtindo o efeito que o comércio esperava.

Sabe-se que as empresas compram bilhões de sacolas e elas custam milhões de reais, cujo custo é repassado, homeapaticamente, no preço das mercadorias, tão sutilmente que os fregueses não notam. São os milhões de reais diluídos em frações atômicas de centavos.

Gostaria de saber, se a pergunta não for considerada politicamente incorreta, para onde iriam os milhões economizados pelo comércio varejistas, caso os compradores aderissem à campanha.

E mais, trocar sacolas de plástico por sacolas de pano? Pano é feito de quê? Claro, de algodão. Não são descartáveis. Depois de certo tempo de uso, ficam sujas, ensebadas e só muita água (êpa! e a economia?) e sabão podem torná-las reutilizáveis.

De papel? Ele é feito de quê? De madeira, e lá se vão as nossas florestas. Tudo isto tem um nome: transferência de obrigação, de despesa.

Por falar em transferência de obrigação, lembrei-me do recente dia de se limpar as praias.

Deu gosto ver toda a garotada e até pais e mães, de vassourinha, pázinha, recolhendo lixo nas praias, mostrando, garbosos, na TV um belo gesto de cidadania.

Volto a ser politicamente incorreto. Isso é transferência de obrigação, de responsabilidade. Os governantes, aproveitando a onda da prática da cidadania, transferem para o povo as suas obrigações.

Não demora muito e a juventude vai estar domesticada para fazer a limpeza da rua onde mora, obrigação da administração que cobra impostos para tanto. De transferência em transferência, vão ser passadas para o povo um montão de obrigações que cabe aos órgãos públicos. Seria isso a tal de cidadania?

No interior de Minas um fazendeiro viu a ponte em uma estrada publica caindo aos pedaços e impedindo a passagem de veículos até leves. O que fez o tranqüilo mineirão? Construiu às suas expensas uma ponte decente e colocou uma placa, proibindo pessoal da prefeitura e políticos de se utilizarem dela.

Esse negócio de transferir para o povo obrigações que lhes cabe é a maior prova de incompetência administrativa. Ainda bem que estamos vivendo dias gloriosos de democracia. De quatro em quatro anos podemos trocar de administrador municipal e de vereadores...É só ter vontade e não ser analfabeto político.

Pior, só quando a administração federal PRIVATIZA empresas. Querem os leitores prova maior de incompetência? Se determinada empresa esta dando prejuízo, que se procure a razão, nunca presentear amigos com jóias da viúva. E quando as empresas dão lucros fabulosos? Bom, aí já é maracutaia que deveria ser punida com cadeia!

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ONDE ANDA O ECA?

Diz Mestre Aurélio que ECA é uma palavra que exprime sujeira, porcaria. O Larousse diz que expressa coisa nojenta, porcaria e que, talvez, venha de meleca.

Nada disso! Ledo engano, diria o velho Machado. No Brasil, ECA quer dizer Estatuto da Criança e do Adolescente. Isso mesmo.

Trata-se da carta de alforria da garotada. Através dela são conferidos direitos às crianças nunca pensados. Igual a muitas leis, o ECA foi feito meio de afogadilho, não se anotou na bula do remédio os efeitos colaterais.

Hoje, meninos estão andando armados e até matando professoras. Outros quebram computadores nas escolas, agridem colegas e mestres, tudo, sob o olhar dos encarregados da disciplina que fingem não ver por terem medo do que pode acontecer consigo: a mãe reclamar na delegacia, do disciplinador, da professora, do colega.

Uma hora o ECA vai ser revisto. Já está passando da hora e os seus protegidos já passaram dos limites, mas ninguém tem a coragem de alertar. Um dia, a casa pode cair.

Ainda agora o ENGENHÃO está sendo palco de dezenas de jovens acampados aguardando um lugar na turma do gargarejo para ver um cantor que vai se apresentar na próxima quarta feira. Uma semana de espera e de acampamento. A chuva da semana não impediu a garotada, embora tenham tido o desprazer de dormir com roupas molhadas, como disse um rapazinho, lençóis (?) e travesseiros encharcados, da curtição do acampamento.

A jornalista Lúcia Hippólito, âncora da CBN, comentou o fato, mas não se aprofundou na denúncia. Limitou-se a perguntar onde andariam os pais desses meninos.

Vou além. Onde andam os defensores da juventude? As ONGs, os procuradores, policiais, fiscais, onde andam? E os pais? Quem forneceu dinheiro, roupa de cama, barracas, alimentos? Esses filhos da mídia têm família? Trabalham? Estudam?

Onde anda o ECA e aqueles que fazem dele bandeiras eleitoreiras?

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RESTOS DA FALTA DE ASSUNTO

De quando em quando o reformador do mundo, aquele tipo criado pelo futurólogo Monteiro Lobato me ataca.

Depois de ver: uma orelha humana crescendo na barriga de um rato, uma vaca que vai dar leite vitaminado, pele humana fabricada em laboratório, fígado de porco sendo usado em transplantes, Células-Tronco Mesenquimais (CTM) da medula óssea que se renovam em várias linhagens de tecido conjuntivo, incluindo osso, cartilagem, tecido adiposo, tendão, músculo e estroma medular (fui ao mestre Google) e o exame de DNA que localiza até parentes do Rabi da Galileia, pensei nas nossas florestas.

Poderia, ou não, a nossa famosa e mundialmente reconhecida EMBRAPA isolar o que faz o eucalipto crescer rápido e o jacarandá, a peroba e outras madeiras nobres demorarem tanto, com uma qualidade e durabilidade que atravessa séculos?

Uma vez localizadas, não sei bem o nome, aquelas minúsculas partículas que proporcionam crescimento, qualidade e durabilidade e, cientificamente acasaladas, não produziriam uma árvore de crescimento rápido com uma durabilidade secular?

Teríamos madeira de lei com crescimento rápido alimentando as grandes indústrias, acabaríamos com os desmatadores criminosos e proporcionaríamos o reflorestamento da nossa Amazônia, da Mata Atlântica, acabando com essa lereia de estrangeiros desejarem tomar conta das nossas florestas sob o argumento fajuto de proteger biomas e outros bichos domésticos?

Patenteado esse acasalamento, o resto do mundo nos deixaria em paz.

Podem comentar: agora esse blogueiro derrapou na maionese.

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 *Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltda.. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante da JANELA DO ABELHA .   
Correspondência e colaboração, favor enviar para: jfabelha@terra.com.br  

Texto enviado pelo autor 

Ilustrações: redecastorphoto

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