sábado, 16 de julho de 2011

Quem são os verdadeiros Piratas da Somália?



Intrépidos...
Aventureiros...
Sedutores
Românticos...
E também um pouco loucos.
As histórias de piratas cativaram-nos desde sempre na literatura, cinema e televisão.
A pirataria é tão antiga como a própria navegação.
Mas... o que é um pirata?
O pirata é um bandido que se dedica ao roubo e ao saque marítimo.
Apropria-se daquilo que não lhe pertence e fá-lo fortemente armado e à margem da lei.
Por vezes contam com a proteção de um estado ou nação. e atuam em seu nome a coberto do que antes era denominado de "cartas de Corso". Nesse caso denominavam-se "Corsários".

"Os piratas somalis ampliaram o seu raio de ação"
"São dois dos piratas"
"O exército tentou capturar os piratas"
"Finalmente a fragata 'Canárias' alcança o batel e captura os dois piratas"
"Cerca de 60 piratas partilharam os despojos de 2 milhões e meio de euros"
"Houve fogo no 'Inters-Um-Dois' repelindo os piratas"
"Temos 63 piratas a bordo de momento"
"Os trinta piratas estão armados, consomem álcool e são muito agressivos"
"O inferno da Somália"

Na atualidade, a pirataria na Somália assola os meios de comunicação.
Mas... existirá tal pirataria? Em que consiste? E... quem são realmente os piratas? Para averiguá-lo é necessário retroceder até à origem "Piratas"

A Somália foi colonizada pela Itália e Inglaterra Consegue a sua independência em 1960, mas o governo democrático dura tão somente 9 anos.

Em 1969 o ditador Mohamed Siad Barré lança um golpe de estado e forma governo. Consegue-o com o apoio incondicional dos Estados Unidos. E não em vão: Graças a isso as principais companhias petrolíferas ianques conseguem contratos importantes para explorar o petróleo existente no país.

Situada no Corno de África, a Somália ocupa uma posição geoestratégica fundamental para as rotas de transporte marítimo que unem a Europa e a Ásia.
Mais de 20.000 barcos de carga atravessam anualmente as suas costas através do Golfo de Áden. transportando mais de 10% do comércio mundial e por ali transita também grande parte do petróleo extraído no Médio Oriente.

Há muito tempo que nações regionais e potências estrangeiras a disputavam
como ponto estratégico para as rotas de transporte marítimo.

O mandado militar de Siad Barré prolonga-se até 1988 quando o Movimento Nacional Somali se revolta contra a sua ditadura. O levante dá lugar a uma sangrenta guerra civil que se prolonga até 1991 ano em que Siad Barré se vê obrigado a abandonar o poder e a fugir do país.

Mas a sua saída não traz a paz. Ante o vazio de poder, vários clãs defrontam-se entre si para tomarem o controlo do país.

O que tem impedido a existência de um governo estável até à atualidade.

A guerra civil teve e tem consequências devastadoras para o povo somali. Mais de 300.000 mortos. Um milhão e meio de refugiados e uma fome terrível que afeta todo o país agrava pela persistente seca.

Hoje em dia, o frágil governo apenas consegue o controle da capital. Os confrontos entre as diferentes facções são constantes. A violência, o caos e a anarquia reinam nas ruas da Somália que é considerada o país mais perigoso do mundo.

Aproveitando-se desta situação caótica sem controlo nem governo um sem número de barcos de pesca procedentes de vários países começam a pescar sem nenhuma licença nas águas em frente à Somália. Incluindo as suas águas territoriais. Estes barcos, procedentes dos EUA, Ásia e da União Europeia praticam um tipo de pesca denominada: I.U.U.

Pesca ilegal, não declarada, não regulada.

A sua incessante e descontrolada atividade usando artes de pesca proibidas noutras regiões do planeta está a acabar com as reservas pesqueiras de um país que carece de autoridade e meios para proteger as suas costas

Na atualidade, mais de 800 barcos de distintos países pescam na zona. Estima-se que os lucros anuais gerados pela pesca ilegal ascendem a mais de 450 milhões de dólares.
A pesca de atum sofreu um vertiginoso e insustentável incremento nos últimos 10 anos.
Só a frota do atum, composta fundamentalmente por Espanha, com 60% das capturas e por França, com 40% captura na Somália umas 500.000 toneladas de atum por ano.

As frotas pesqueiras das grandes potências com a União Europeia à cabeça contribuem desta maneira para o empobrecimento de uma das regiões mais miseráveis do mundo.
Roubam a principal fonte de proteínas da sua população e acabam com a forma de vida e sustentos dos pescadores locais.
Desta forma, condena-se sem remédio a um país frágil que agoniza
e morre de fome.

Desde 1990 que a comunidade somali vem protestando reiteradamente na ONU e em diversos organismos internacionais. Os seus protestos nunca foram escutados nem atendidos

O grupo de supervisão para a Somália das Nações Unidas também constatou e alertou nos seus relatórios sobre a depredação sistemática da zona levada a cabo por frotas de pesca estrangeiras.

A ONU tampouco ouviu os seus próprios supervisores e não fez absolutamente nada para deter o saque.

Mas o pesadelo não termina aqui.

Desde a queda do governo, em 1991 outros barcos começaram a aparecer também na costa somali. A sua atividade é mais misteriosa. Os barcos entram nas suas águas territoriais vertem barris no mar e abandonam o lugar.
Esta atividade suspeita alerta os pescadores somalis, os quais tentam dissuadir os cargueiros que realizam os derrames, mas não têm êxito.
Os derrames continuam durante 14 anos. O conteúdo desses barris é um mistério até finais de 2004.

Ano em que um terrível tsunami assola o sudeste asiático. Quando a onda do tsunami chega à Somália centenas de barris são arrastados contra a costa. Os barris rompem-se e há fugas. O conteúdo sai à superfície e termina nas praias.

A gente da zona começa a adoecer. Infecções das vias respiratórias. Hemorragias intestinais... estranhas reações químicas na pele e mais de 300 mortes repentinas causam alarme entre a povoação. Após algum tempo ocorrem nascimentos com malformações e diversas enfermidades.

Nick Nuttall, porta-voz do programa do meio-ambiente das Nações Unidas, explicou que quando as embalagens se romperam pela força das ondas os contentores trouxeram à luz uma atividade espantosa:

"A Somália está sendo utilizada como vertedouro de resíduos perigosos desde o início dos anos 90, e continuou desde a guerra civil não-resolvida nesse país. O lixo é das mais diversas classes: há resíduos radioativos de urânio, o lixo principal, e metais pesados como Cádmio e Mercúrio. Também há lixo industrial, resíduos hospitalares lixo de substâncias químicas e o que se queira nomear.

O mais alarmante aqui é que se está descarregando lixo nuclear. “O lixo radioativo está matando potencialmente os somalis e está destruindo totalmente o oceano”. Ahmedou Ould Abdallah representante especial do ONU na Somália declarou à Al-Jazeera que as descargas de resíduos tóxicos continuam acontecendo na atualidade. O diplomata afirmou que possuía informações fidedignas de que são corporações europeias e asiáticas as que estão despejando químicos e resíduos nucleares nas costas da Somália.

Sim, as Nações Unidas enviaram os seus representantes para constatar a catástrofe. E sem qualquer embargo ou proibição, o capítulo foi encerrado. Por ora não existiu um único despacho judicial, detenção ou condenação por estes atos criminosos.

E isto não ocorre unicamente na Somália. As águas de outros países africanos como a Costa do Marfim, Nigéria, Congo ou Benim também são usadas como vertedouros tóxicos pelos países industrializados. Unicamente no ano 2011, chegaram a África 600.000 toneladas de resíduos tóxicos.

O continente africano converteu-se na lixeira de resíduos radioativos gerados pelos países ricos.

Um país devastado que morre de fome Os países ricos correm para lhes arrebatar a pesca e de passagem contaminar as suas águas com lixo tóxico e nuclear. Este é o contexto em que apareceram os homens que alguns meios de comunicação denominam de "piratas". Perante esta situação de absoluta impotência alguns pescadores reagiram de uma maneira desesperada. Começaram a aliar-se em pequenos grupos armados e usando lanchas rápidas tentam afugentar os barcos pesqueiros estrangeiros e dissuadir os navios que despejam resíduos nas suas águas.

"Há muitos anos conseguíamos pescar muitíssimo... o suficiente para comer e para vender no mercado. Mas depois chegaram os navios estrangeiros de pesca ilegal que muitas vezes despejam produto tóxicos que dizimam as reservas pesqueiras. Não me restou alternativa."

Chamam-se a si mesmos os "Guarda-Costas Voluntários da Somália" e contam com o total apoio da população local.

Segundo uma pesquisa, 70% da população somali apoia fortemente esta atividade como um meio de defesa das águas territoriais do país.

Um dos seus líderes, Sugule Alí, explicou os seus motivos:

“Parar a pesca ilegal e as descargas nas nossas águas. Não nos consideramos bandidos do mar. Consideramos que os bandidos do mar são os que pescam ilegalmente e despejam lixo.”

Mas inicialmente ninguém os leva a sério. As frotas pesqueiras estrangeiras continuam a pescar impunemente e as descargas tóxicas continuam. Tendo em conta que tudo isto ocorre num país cheio de armas e dividido em grupos rivais a estes pescadores rapidamente se unem ex-combatentes e acabam convertendo-se em grupos fortemente armados.

Pressentem um lucrativo negócio na captura destes barcos e na exigência de um resgate. Quando começam a reter barcos a zona vai-se esvaziando e as frotas estrangeiras deixam de chegar com tanta frequência. As grandes potências vêem agora ameaçadas em sua atividade de pesca lucrativa e vêem-se privados do seu particular e muito econômico vertedouro de resíduos tóxicos e nucleares.

A ONU, que ignorou sistematicamente as reclamações somalis agora atende às reclamações dos países afetados por estas ações. Espanha e França, países com importantes frotas pesqueiras na zona, encabeçam uma petição de uma reação militar conjunta. Desta maneira nasce a Operação Atalanta.
A missão dispõe inicialmente de 8 vasos de guerra, barcos de abastecimento e aviões de reconhecimento e vigilância. Após o fracasso inicial da operação, é ampliado o seu prazo e dotação, com mais de 20 navios e 1.800 militares. O custo estimado para o governo espanhol ascende a mais de 6 milhões de euros mensais.
A segurança privada dos atuneiros galegos e bascos ascende a meio milhão de euros mensais. O governo espanhol suporta metade desse custo por intermédio do Orçamento de Estado.

Recordemos a definição de pirata:

Roubam no mar, apropriando-se do que não lhes pertence.
Realizam as suas ações fortemente armados. E em algumas ocasiões contam com a proteção de um Estado ou de uma Nação. Mas.. Por que razão pescam ali estas frotas?
Não poderiam, por acaso, fazê-lo nas suas águas territoriais? Nos seus oceanos? Não... E a causa é terrível
Já não resta nada que pescar. Devastaram e saquearam todas as suas reservas. Os países ricos exterminaram a vida marinha dos seus próprios oceanos.

Os sistemas de pesca dos países capitalistas industrializaram-se. Os ecossistemas marinhos são explorados até ao limite com o intuito de maximizar os lucros. Destrói-se a capacidade de regeneração das espécies marinhas A cadeia alimentar é quebrada e as espécies extinguem-se.

Como denuncia a Greenpeace International pelo menos um quarto de todas as criaturas marinhas capturadas são atiradas de volta ao mar, mortas. Baleias, golfinhos, albatrozes, tartarugas... São o que a indústria pesqueira denomina frivolamente de capturas acessórias.

Desde os mares do Norte ao Golfo da Biscaia o Cantábrico e o Mediterrâneo esgotou-se e destruiu-se o habitat da maioria das espécies.

O professor de História do Pensamento Político José Carlos García Fajardo, afirma:

“Por isso as nossas frotas europeias foram à procura das ricas reservas de África, América Latina e Ásia. Em muitos países serviram-se de governantes sem escrúpulos da falta de meios para defender a pesca nas suas próprias águas ou de falsas joint ventures criadas para roubar as suas riquezas. No ano de 2006, tendo em vista proteger os seus recursos naturais o Senegal não renovou os acordos pesqueiros com os países da União Europeia. Mas parece impossível deter as frotas pesqueiras capitalistas. Estas burlam as leis criando joint ventures comprando licenças a outros países e agitando bandeiras de conveniência. Atualmente, através da Internet pode-se comprar uma bandeira de conveniência em alguns minutos e por menos de 500 euros. No Senegal, os barcos de pesca deixaram de ser úteis para a sua finalidade original e são agora usados para transportar imigrantes que procuram um futuro melhor em países europeus. Ironicamente os mesmos países que lhes arrebataram o seu futuro. Na Somália, os barcos deixaram de ser úteis para a pesca e são usado agora para a pirataria.”

A Conferência Global dos Oceanos anunciou que 75% dos bancos de pesca mundiais desapareceram. A FAO também alertou que 80% das reservas mundiais estão superexplorados e 30% das espécies marinhas se encontram abaixo do limite biológico de segurança.

Por tudo isso, diversos estudos científicos calculam que no ano 2048 estarão esgotados todos os recursos pesqueiros do planeta.

Documentário enviado por Raul Longo

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