segunda-feira, 18 de julho de 2011

Paquistão castigado

Prossegue o golpe da CIA contra o Paquistão: manipular o “fator interno”

13/7/2011, Tanvir Ahmad Khan, Pakistan News
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

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O Paquistão não pode reclamar de não ter sido avisado de que as atitudes de Washington em relação ao país endureceriam. Porque insiste em defender interesses no Afeganistão, o Paquistão converteu-se em único fator num complexo conjunto de elementos que pode ser mais facilmente manipulado por Washington, dado o muito que o Paquistão depende dos EUA e do FMI, num quadro de crescentes dificuldades econômicas, quando o país ainda é dominado por políticos acovardados e mais interessados a servir a interesses estrangeiros, ou aos seus pessoais interesses, que aos interesses do país.

O Paquistão tem longa história de graves distorções nas relações entre militares e civis, mas há poucos países nos quais tantos tanto se deliciem sempre que suas forças armadas são atacadas, sejam os ataques legítimos ou não.

O Paquistão é também o único país com competência nuclear, onde um grupo de intelectuais põe-se a escrever artigos “científicos” e colunas jornalísticas entremeadas de ironias e frases feitas, sempre que a imprensa ocidental ridiculariza ou faz pouco caso dessa competência.

Já escrevi mais de uma vez que a retirada dos EUA e da OTAN, do Afeganistão, inevitavelmente levaria a maior pressão sobre o Paquistão. Na véspera da recente visita do primeiro-ministro Gilani à China, escrevi que o Paquistão precisava ter planos de contingência, para o caso de reviravolta importante nas relações econômicas com os EUA previsíveis para futuro não muito distante; e que o país precisava muito discutir com a China os novos cenários geopolíticos e geoeconômicos. 

Não há dúvidas de que Washington está convencida e já declara ter provas irrefutáveis de que camaradas de Osama bin Laden estariam escondidos nos bosques do Paquistão. Muitos alertaram o país para o significado desse noticiário, e de um conseqüente endurecimento dos EUA. Muitos viram e disseram que os EUA de modo algum deixariam o Paquistão livre para desenvolver a política que bem entendesse e que mais provável seria que intensificassem uma diplomacia de coerção, se não de chantagem.

O mais recente disparo, nesse jogo de endurecimento, foi os EUA ‘suspenderem’ o auxílio militar de 800 milhões de dólares, em movimento para, nas palavras do New York Times, “castigar o Paquistão por ter ordenado que os instrutores militares norte-americanos deixassem o país, e para pressionar o exército a combater mais eficientemente os terroristas”. Essa ajuda, como diz o jornal, inclui cerca de 300 milhões para reembolsar o Paquistão por alguns dos custos de ter deslocado mais de 100 mil soldados para a fronteira afegã, para combater o terrorismo. E os EUA adiaram também a entrega de equipamento militar, indispensável para as mesmas operações, até que “as relações entre os dois países melhorem e o Paquistão decida perseguir mais agressivamente os terroristas”. 

A opinião leiga bem pode concluir que o general Kayani recebeu ‘ordens’ para sacrificar soldados e oficiais, mandando-os para o front sem o equipamento adequado, e para deixá-los lá, expostos, à espera de que os EUA cumprissem o compromisso de entregar o equipamento. 

A matéria do NY Times também deixa bem claro que os comentários do almirante Mike Mullen, comandante do estado-maior do exército dos EUA, sobre a morte trágica do jornalista Saleem Shahzad, anunciavam abordagem potencialmente muito mais confrontacional dos EUA, contra o Paquistão.

O problema dessa diplomacia de coerção, ou de chantagem, é que, longe de contribuir para que todos se concentrem na análise objetiva da situação, essa diplomacia de coerção vicia a atmosfera com fatores fortemente emocionais, como soberania nacional e orgulho e honra nacionais. Nesse caso específico, está em pauta a própria imagem das forças armadas do Paquistão. 

É lugar comum, na imprensa internacional, que Washington vê os militares paquistaneses como força mercenária que os EUA podem usar como lhes apraza. O general Musharraf não tinha qualquer necessidade urgente de desmentir essa ideia feita.

O general Kayani, trabalhando com um governo eleito e apesar da sempre volátil imprensa paquistanesa, não pode ser indiferente à tarefa de manter coesas as forças armadas e a opinião pública paquistanesa. Mas agora, pela primeira vez, já surgem dúvidas de que ele consiga suportar as pressões internas e, simultaneamente, atender as exigências dos EUA.

Em futuras operações militares, o governo do Paquistão terá de trabalhar duas vezes mais, para convencer a opinião pública de que o que decidir fazer estará sendo feito para atender interesses do Paquistão, não, simplesmente, por ter-se submetido ao diktat dos norte-americanos.

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