quarta-feira, 23 de março de 2011

WikiLeaks: Há menos de dois anos, Gaddafi “trocou gentilezas” com o gen. Ward, comandante do AFRICOM


Reference ID
Created
Released
Classification
Origin

Excerto do item SECRETO do telegrama 09TRIPOLI417
A íntegra do telegrama não está disponível.
Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.
[cabeçalho aqui omitido]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
 
ASSUNTO: AL-QADHAFI JÁ NÃO RELUTA EM ENGAJAR-SE COM O AFRICOM

1. (S) RESUMO. O líder líbio Muammar al-Qadhafi disse ao comandande do AFRICOM [Comando dos EUA na África] general William Ward, que o visitava, que a Líbia apoiou o estabelecimento de instituições africanas comuns, como um Ministério de Defesa Africano. Disse esperar que o governo Obama não insistirá numa política de intervenção na África; e que sentia que uma presença militar dos EUA na África poderia servir de gatilho para o terrorismo.  Al-Qadhafi disse esperar que o presidente Obama possa visitar a Líbia no início de julho para falar na cúpula da União Africana, e espera encontrar o presidente Obama também na conferência do G-8 na Itália mais tarde, no mesmo mês. Al-Qadhafi expressou desejo de cooperar com o AFRICOM nos campos do contraterrorismo e contrapirataria. O general Ward também se reuniu com o Ministro de Relações Exteriores da Líbia Musa Kusa [objeto de outro tel.] FIM DO SUMÁRIO. 

2. (S) Na tarde do dia 21/5/2009, Muammar al-Qadhafi recebeu o comandante do Comando dos EUA na África, AFRICOM, General William "Kip"  Ward (Gen. Ward) em sua tenda no complexo Bab al-Aziziyah em Trípoli, para reunião que durou pouco mais de uma hora. Também participaram da reunião o Secretário do Comitê Geral do Povo para Ligação e Cooperação Internacional da Líbia [ing. GPCFLIC) Musa Kusa, o Secretário Líbio para Assuntos dos EUA Dr. Ahmad  Fituri, esse embaixador, o ataché de Defesa dos EUA e um membro do staff do gen. Ward. 

3. (S) Depois de trocarem gentilezas, al-Qadhafi observou que em viagem anterior do Gen. Ward à Líbia, ele [Gaddafi] estava ausente, em visita à Mauritânia, onde se desenrolava uma crise política. “Cada vez que apagamos um incêndio na África, começa outro. Antigamente, dizíamos que sempre era conspiração dos EUA, mas hoje já não dizemos.” Al-Qadhafi iniciou então um longo monólogo no qual relatou os estágios da governança na África desde os movimentos de libertação nacional até as ditaduras, as eleições multipartidárias e concluiu que era tempo de estabelecerem-se instituições africanas comuns, como um Ministério da Defesa, que mais bem representaria os interesses africanos frente ao mundo. 

¶4. (S) Al-Qadhafi falou sobre o envolvimento dos EUA e da China no continente, caracterizando a abordagem dos chineses como “soft” [suave] e a dos EUA como “hard” [dura]. Previu que os chineses prevalecerão, porque a China não interfere em assuntos internos dos países. Criticou o que disse que seria uma tendência dos EUA de plantar bases militares junto às fontes de energia. Observou que os EUA fizeram isso no Golfo da Guiné e que esse movimento dispararia reações de terrorismo.

Sobre a questão palestina, al-Qadhafi questionou o que caracterizou como apoio dos EUA a Israel à custa da Palestina. Aconselhou os EUA que, em nome dos interesses dos EUA, deveriam apoiar os palestinos. Advertiu contra dar ouvidos aos conselhos de líderes árabes no Golfo e no Levante e ofereceu-se para desempenhar papel de mediador na Região, se interessasse aos EUA. O líder líbio concluiu seus comentários manifestando desejo de que o presidente Obama compareça à cúpula da União Africana na Líbia em julho e que se reúna com Gaddafi na Itália, durante conferência do G-8.  

5. (S) Em resposta à manifestação de respeito, enunciada pelo Gen. Ward, à soberania dos países africanos, al-Qadhafi disse que entendia a posição dos EUA, mas questionava a presença militar dos EUA no Djibouti; observou que o poder militar será usado pelos extremistas para justificar o terror. Identificou duas fontes de terrorismo: o wahabismo e a Suíça. Qadhafi disse que o sistema bancário suíço foi usado para financiar terroristas e propôs que a Suíça fosse dividida e os territórios distribuídos aos países vizinhos, conforme o idioma. 

6. (S) Sobre o tema da pirataria somaliana, al-Qadhafi disse que “entidades estrangeiras” violaram as águas territoriais da Somália. Solução para a pirataria somaliana será portanto um acordo entre os países que exploram as águas da Somália e os piratas. Al-Qadhafi ofereceu-se para identificar um porta-voz dos piratas e construir esse acordo. 

7. (S) Al-Qadhafi enfatizou que a Líbia, atualmente, preside a União Africana e há uma possibilidade de cooperar com o AFRICOM no combate ao terrorismo no Sahara e à pirataria; Disse que poderia “negociar sem reservas com a nova América”, agora que os EUA estão sendo governados por “um novo espírito de mudança”. 

8. (U) Esse telegrama foi lido e liberado pelo AFRICOM. [assina] CRETZ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.