domingo, 13 de março de 2011

Porta-voz PJ Crowley, do Departamento de Estado dos EUA renuncia, depois de criticar tortura do soldado Bradley Manning

Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

“Nos EUA, os Republicanos temem a voz das urnas e os Democratas a desprezam.”
David Frum, jornalista, pelo Twitter 

PJ Crowley
PJ Crowley, porta-voz oficial do Departamento de Estado, tombou vítima da própria espada, ao dizer que o tratamento dado a Bradley Manning, acusado [ainda sem qualquer prova] de ser a fonte que entregou a WikiLeaks os arquivos sigilosos de telegramas diplomáticos sigilosos, que continuam a ser divulgados, seria “contraproducente e estúpido”. 

A renúncia vem logo depois de Crowley ter feito aquelas observações, em seminário realizado no MIT, sobre o tratamento que Manning está recebendo numa prisão militar dos EUA.

Crowley disse textualmente: “O que o Departamento da Defesa está fazendo a Bradley Manning é ridículo, contraproducente e estúpido”. 

A frase obrigou o presidente Obama a manifestar-se pela primeira vez sobre o modo como o soldado Manning está sendo tratado na prisão de Quantico, base da marinha, na Virginia. Obama defendeu a tortura de Manning. Disse que havia sido informado pelo Pentágono de que os procedimentos eram apropriados.

Na carta em que apresenta sua renúncia ao posto, Crowley diz que assume total responsabilidade pelo que disse. Disse que considera os vazamentos “crime grave, nos termos da lei dos EUA”, mas não desmentiu críticas anteriores ao Pentágono.

Em palavras que podem ainda causar novas dificuldades para Obama, Crowley escreveu que seus comentários “visavam a lançar luz sobre o impacto muito maior, impacto talvez estratégico, de ações clandestinas empreendidas como rotina por agências de segurança nacional dos EUA, na imagem e na liderança global dos EUA. O exercício do poder nos tempos desafiadores que vivemos, e o trabalho da mídia, têm de ser prudentes e consistentes com a lei e os valores norte-americanos.” 

Quando Obama chegou à Casa Branca, disse que um dos objetivos chaves de seu governo seria recuperar a imagem global dos EUA. Denunciou, então, o tratamento degradante que o governo Bush dava aos prisioneiros, como ação contrária aos interesses nacionais dos EUA.

Em carta-resposta oficial, Hilary Clinton disse que aceitara “com tristeza” a partida de Crowley. “PJ serviu nossa nação com distinção por mais de trinta anos, em uniforme e como civil” – disse ela.

A renúncia do principal porta-voz significa que a indignação contra a tortura do soldado Manning já alcançou os círculos superiores do governo Obama. 

Manning está preso em confinamento (“solitária”) há dez meses. Tem sido submetido a condições especiais, alegadamente para evitar que se suicide. Essas condições implicam permanecer 23 horas por dia na cela sob vigilância ininterrupta, e completamente despido à noite.

O regime de segurança máxima ao qual está submetido na prisão de Quantico já foi denunciado como forma de tortura  por muitos, inclusive por Daniel Ellsberg, que vazou para a mídia os “Pentagon Papers” sobre a guerra do Vietnã [ver “A vergonhosa violência contra Bradley Manning”, Daniel Ellberg, 12/3/2011. A ONU também está investigando.

Muitos analistas já chamaram a atenção para o critério ambíguo que se vê por trás da renúncia de Crowley. Glenn Greenwald, repórter da revista Salon, que luta na vanguarda da denúncia contra os maus tratos infligidos ao soldado Manning, disse, pelo Twitter, que “torturar prisioneiros pode; manifestar-se contra a tortura de prisioneiros, é proibido”. 

Semana passada, o próprio Manning manifestou-se sobre como está sendo tratado. Disse que a tortura visa a castigá-lo, mesmo antes de qualquer acusação ou julgamento legal. Disse que, todas as noites, tiram-lhe todas as ropuas, desde o dia em que fez um comentário sarcástico, ouvido por um dos guardas, sobre o absurdo do regime a que já estava condenado.

Manning foi acusado de vários crimes relacionados ao vazamento de milhares de telegramas diplomáticos sigilosos dos EUA, além de vídeos e imensos arquivos sobre o Afeganistão e o Iraque. Foi preso em maio de 2010, numa base militar dos EUA próxima de Bagdá, onde servia como especialista dos serviços de inteligência.

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