segunda-feira, 7 de março de 2011

Obama, o revolucionário

5/3/2011, Vladislav Vorobyev, Rossiyskaya Gazeta, Moscou

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

 

“O jornal do governo russo, Rossiyskaya Gazeta, publicou no domingo artigo intitulado “Obama, o revolucionário”, com aquele toque inimitável de humor negro à moda russa, que beira sempre o exagero e o teatro do absurdo, mas que, de fato, traz à luz o que bem se pode chamar de “correlação de forças” na Líbia” [6/3/2011, “As armas secretas de Gadaffi”, MK Bhadrakumar, em: Gaddafi’s secret weapons
 
Obama dos EUA é hoje comandante da oposição líbia. À falta de líder local que assuma o lugar de Muammar Gadhafi no caso de ser deposto, Obama dos EUA assumiu a difícil tarefa de dar unidade ao pensamento dos revolucionários líbios.

Há poucos dias, uma verdadeira invencível armada de vasos de guerra dos EUA e Grã-Bretanha reuniu-se acintosamente em volta do bunker do qual o líder da Jamahiriya, “Estado das Massas”, continua a esgrimir para não perder a imunidade que sempre teve, assegurada pela lei internacional (a qual, como se sabe, há muitos anos tipifica o crime de destruir o próprio povo nacional).

Primeiro, Washington disse que os militares ali estavam exclusivamente em missão humanitária, para resgatar refugiados. Depois, o Pentágono admitiu que, de fato, todas as opções possíveis para resolver o problema que atende hoje pelo nome “Gadhafi” estavam sendo consideradas.

Em outras palavras, a frota dos EUA ali estava, já praticamente atracada em águas líbias, exclusivamente para poder cumprir instantaneamente a ordem presidencial, quando chegar, de destruir todas as instalações militares sob controle do líder da Jamahiriya líbia.

Mas... Obama vacila. Duas guerras no currículo, uma no Iraque e outra no Afeganistão, já é ruim que chegue. Mandar ainda mais soldados norte-americanos para morrer no deserto líbio é coisa que a Casa Branca claramente não quer fazer. Essa é a última opção na lista de cenários possíveis para livrar a Líbia do governo de Gadhafi. A primeira opção é sim, conseguir que milícias locais armadas até os dentes transfiram o poder para líderes líbios revolucionários. Já começam aí, os problemas!

Para piorar, é impossível conquistar Trípoli imediatamente, e não porque os mercenários de Gadhafi lá estejam, para defender a cidade até a última gota de sangue. Esse é o segundo problema. O primeiro problema é que a oposição não tem líder que lidere o exército na batalha decisiva. Então... a batalha foi adiada e continua sendo adiada. Enquanto isso, Gaddafi mata líbios.

Nessas condições, não resta outra saída a Obama, exceto liderar, ele mesmo, os revolucionários líbios. É isso, ou terá de ordenar que os soldados dos EUA bombardeiem Trípoli, Gaddafi resistirá e as chances de Obama ser reeleito lhes serão entregues em Washington, em muitos sacos de cadáveres de soldados norte-americanos, reduzidas, aquelas chances, a zero.

Desonrar seu currículo político e acabar afogado em areia líbia não estão, com certeza, nos planos de Obama. Por isso, precisamente, Obama optou por se transformar em voz da oposição líbia.

“A violência tem de parar. Muammar Gadhafi perdeu a legitimidade e tem de sair. Os que perpetrem violência contra o povo líbio serão julgados” – disse Obama em conferência de imprensa em Washington.

Mas nem o emprego de líder da oposição líbia é totalmente sem riscos. Afinal, já é difícil que chegue acompanhar, da Casa Branca, os desenvolvimentos na Líbia – mesmo com excelente serviço de inteligência, infalível, e quantidades astronômicas de satélites espiões zunindo sobre a cabeça de Gadaffi. Em outras palavras, exercer comando remoto de exércitos só é possível com a ajuda de legiões de conselheiros militares. Esse pessoal, com certeza, já está trabalhando na Líbia.

Grande risco. Se Gaddafi, de repente, captura um deles, que grande trunfo terá nas mãos! Será lançada massiva campanha anti-EUA. Resolve-se (talvez) o problema pelo lado de fora, mas nada garante que cidadãos armados, dentre os quais poucos são versados em táticas militares, consigam segurar a turma da Jamahiriya e o chefe dela, em futuro próximo.

Os Republicanos nos EUA contam exatamente com isso, para culpar o presidente Democrata, que será declarado incompetente, incapaz para reagir adequadamente em situação crítica. Atenção, oposição líbia: terão de trabalhar duro para justificar a confiança que, nos senhores, depositou o presidente dos EUA ou, em outras palavras: para reeleger Obama.

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