quinta-feira, 31 de março de 2011

O amor aos rebeldes líbios


por Yoshie Furuhashi [*]
'Obrigado NATO' diz o cartaz dos marginais líbios.




















O império multinacional montou um grande negócio para si próprio: utilizar o próprio dinheiro da Líbia para financiar rebeldes líbios a  combaterem contra a Líbia. Ali Tarhouni , economista formado nos EUA que acaba de ser nomeado "ministro das finanças" do "Conselho Nacional Interno de Transição"  (rebelde), explica o negócio :
"Neste momento não há crise imediata de falta de dinheiro. Temos alguma liquidez que nos permite fazer as coisas básicas", disse ele, tais como pagar salários e necessidades imediatas.

Ele acrescenta que muitos países concordaram em conceder crédito com a garantia do fundo soberano líbio e o governo britânico também concordou em dar aos rebeldes o acesso aos 1,4 mil milhões de dinares (US$1,1 mil milhões) que Londres não transferiu para Kadafi.
Deste modo, as despesas do império serão limitadas aos custos do bombardeamento, etc, os quais são de qualquer forma partilhados entre os seus membros. Se tudo correr bem, a administração Barack Obama, por exemplo, pode mesmo conseguir evitar ter de pedir um [orçamento] suplementar  a curto prazo [isto é, se os altamente suspeitos líderes rebeldes não embolsarem grande parte do dinheiro para si próprios, deixando de pagar seus empregados, como tem acontecido muitas vezes em casos como este). Uma esplêndida pequena guerra perfeita para a era da austeridade.

Mas por agora o membro do império que está a obter mais com esta guerra provavelmente não é a elite do poder dos Estados Unidos mas sim a classe dominante dos estados do Golfo. A Líbia é ouro imediato para eles: fazer a Líbia agrada o ocidente; mas o mais importante é que ajuda a desviar a atenção da sua repressão conjunta de intifadas internas, especialmente aquela grande no 
Bahrain . E acima de tudo, alguns deles aparentemente estão em posição de ganhar algum dinheiro."Rebeldes dizem que o Qatar está pronto para comerciar petróleo do Leste da Líbia" , segundo a Reuters. Doce petróleo  em retorno da propaganda  de  guerra da  Al Jazeera  e da participação do próprio Qatar  na guerra.

Não há melhor negócio do que o negócio da guerra.

Que os rebeldes líbios amam o império e vice-versa já é bem claro. É assim que 
Nicholas D. Kristof descreve quando os rebeldes líbios amam os americanos por bombardearem o seu próprio país.
Isto pode ser sem precedentes no mundo árabe: um piloto americano caído de paraquedas sobre a Líbia foi resgatado do seu esconderijo num curral de ovelhas por aldeões que o abraçaram, serviram-lhe refresco e agradeceram-lhe efusivamente por bombardear o seu país.

Apesar de alguns aldeões terem sido atingidos por estilhaços americanos, um deles disse entusiasticamente a um repórter que não guardava rancor. No mesmo momento, na quarta-feira em Bengazi, a principal cidade da Líbia oriental em cujas ruas quase certamente agora estaria a correr sangue se não fosse a intervenção liderada pelos EUA, residentes organizaram um "comício de agradecimento".
O que permanece misterioso é porque tanta gente de esquerda, árabes iranianos leigos  ou  religiosos , reformistas ou revolucionários, no ocidente ou no eixo de resistência caíram profunda e cegamente em amor pelos rebeldes líbios. Não importa quanto amem os rebeldes (que permanecem "revolucionários" aos olhos dos escravos do amor), não há sombra de evidência de que os rebeldes os amem ou de que eles correspondam . Não houve de facto nem mesmo um mínimo indício de namoro nessa direcção. Sem dúvida, o casamento dos rebeldes líbios com o império pode finalmente acabar num amargo divórcio, mas, se o Afeganistão e outros precedentes correspondem a alguma indicação, tal divórcio é improvável que leve a um caso de ressurgimento com qualquer coisa remotamente do interesse dos amantes não correspondidos dos rebeldes líbios.

Nos últimos dias, contudo, tenho notado que a máquina de propaganda da República Islâmica do Irão começou a 
mudar de direção em relação à Líbia. Talvez o establishment iraniano tenha finalmente percebido que os rebeldes líbios não são pró iranianos. Em contraste, os de esquerda e o Hezbollah, talvez mais abnegadamente idealistas do que responsáveis iranianos, ainda têm de perguntar aquela questão crucial da solidariedade internacional, a qual ao contrário da caridade é sempre uma rua de duas mãos:

Estão os rebeldes por nós ou contra nós?



Post Scriptum Khalifa Hifter , escolhido pelo "Conselho Nacional" rebelde para liderar o exército rebelde, revelou-se agora ser um desertor transformado em operacional da CIA , um homem que estava errado quando era pró Kadafi e desde então mais errado ainda.
[*] Editor da MRZine 
O original, em inglês, encontra-se em:  Loving the Libyan Rebels
Esta tradução encontra-se em:  Resistir

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