quarta-feira, 23 de março de 2011

Líbia: Proteger “civis” ou ajudar “rebeldes”?


Timothy Bancroft-Hinchey
Timothy Bancroft-Hinchey - Pravda.Ru


Na Líbia, certos membros da comunidade internacional caíram novamente na armadilha da “síndrome dos Balcãs”, quando o sentido de culpa por não ter agido mais cedo provocou uma reação instintiva, com consequências desastrosas: a farsa chamada Kosovo? Na Líbia, eles estão protegendo “civis” ou eles estão ajudando “rebeldes”?

Louvável que seja ter preocupações com a segurança dos seres humanos, é também o dever dos líderes da comunidade internacional pensar cuidadosamente antes de agir e não cair na armadilha da “síndrome dos Balcãs”, quando a culpa por não ter agido tempestivamente provocou uma reação instintiva, com consequências desastrosas: o insulto ao direito internacional chamado Kosovo. E desde quando é que uns bandos fortemente armados de islâmicos fanáticos barbudos se descrevem como “civis desarmados”?

No entanto, alguém na comunidade internacional nestes dias age ou reage pela bondade do seu coração, ou através do auto-interesse e a obrigação de proteger os grupos que o colocou no poder? Quão democráticas são as sociedades “democráticas”, quando o poder real é detido por grupos de barões cinzentos que puxam os fios de interesse empresarial por trás dos bastidores, e quando os governos são eleitos, dependendo do desempenho do líder do partido nas imagens televisivas?

Quão democrática e livre é a mídia, quando a informação é controlada e apresentada em um belo pacote arrumadinho em que a verdade muitas vezes é reprimida ou ignorada e mentiras e desinformação são manipuladas?

Louvável que seja ter preocupações com o bem-estar das pessoas; vamos, então, considerar algumas questões relacionadas com o ataque contra a Líbia, liderada pelos EUA, Reino Unido e França.

Em primeiro lugar, a situação interna no estado soberano da Líbia foi uma questão de uma revolta popular contra as normas opressivas de vida, enquanto uma claque de elitistas sangrou o país? Não, porque a riqueza da Líbia foi e será distribuída, enquanto Muammar Al-Gaddafi conserve a sua influência. Ou foi a situação na Líbia alimentada por “rebeldes” ajudados e incentivados e abastecidos a partir da fronteira no Ocidente (Tunísia) e Oriente (Egito), cujos governos haviam convenientemente “caído”? Vamos dar uma olhada onde a “rebelião” se iniciou.

Não começou em Trípoli, a cidade capital - onde Muammar Al-Gaddafi é tão obviamente ainda muito popular, iniciou-se na província tradicionalmente separatista de Cirenáica (Benghazi) e ao longo da fronteira ocidental.

Em segundo lugar, onde estão esses “civis desarmados”? É difícil imaginar que tipo de televisão David Cameron, Barack Obama e Nicolas Sarkozy estão assistindo, porque os “civis desarmados” que eu vejo mostram homens barbudos fortemente armados, quadrilhas de saqueadores e de bandidos gritando “Allahu Akhbar”. Agora, onde eu já ouvi isso antes?

Em terceiro lugar, o Ocidente errou ainda mais uma vez? Será que sem pensar claramente, eles foram enganados a armar aqueles cujas intenções não são nem democráticas, nem tão claras e, provavelmente, eventualmente anti-ocidentais? Lembrem-se dos mujahidin, os “libertadores” no Afeganistão, que destruíram os direitos das mulheres naquele país e, em seguida, passaram a se transformar no Talibã? A nota de agradecimento foi 9/11.

Em quarto lugar, a Resolução 1973 (2011) da ONU é suficientemente vaga para ter servido para se transformar numa grande dor de cabeça entre os membros da comunidade internacional. Só podemos imaginar as travessuras nos bastidores antes de sua aprovação apressada - era óbvio a partir das palavras do Ministro do Exterior francês Alain Juppé, que era para passar antes mesmo de ser votado.

A redação do seu Parágrafo n º 4, sobre a proteção dos civis, cita Nº 9 da Resolução 1970 (2011), que expressamente proíbe a exportação de armas para o Jamahiriya Árabe Líbia. Quem, então, está fornecendo armas aos “rebeldes”, está quebrando a lei internacional; os termos do § 4º da Resolução 1973 (2011) mencionam a autoridade à força da ONU “para proteger os civis e áreas habitadas por civis, sob ameaça de ataque na Líbia”.

Isso não vai contra os preceitos do direito internacional, em que os Estados membros são livres para se proteger em caso de insurreição armada? E onde é que se traça a linha entre “proteger os civis” e atacar as forças do Governo, permitindo que os “civis” avancem sobre Trípoli, como tem sido sugerido em numerosos meios de comunicação?

Em quinto lugar, como pode um grupo de pessoas com uniformes, equipados com armamento pesado, ser considerado “civis” e, portanto, como pode qualquer ataque militar substancial sobre as forças da Jamahiriya Árabe Líbia ser algo senão uma violação do direito internacional, ocasionando interferência na assuntos internos de um Estado soberano?

Em sexto lugar, o presidente Obama foi ao Congresso pedir autorização para entrar num ato de guerra, como ele deveria? David Cameron tem informado os seus cidadãos que unidades de maternidades acabam de ser fechadas num hospital; escolas foram fechadas, famílias foram insultadas e/ou atacadas por gangues de criminosos bêbados e drogados? Tudo porque a força policial foi brutalmente reduzida. Quanto dinheiro ele está gastando na aventura da Líbia?

Para aqueles que na Grã-Bretanha estão na lista de espera para uma cirurgia, para aqueles para quem não foi possível obter uma cama de hospital, que foram negados medicamentos oncológicos porque são caros demais e cujos subsídios de segurança social foram cortados, enviando-os à miséria, tenho o prazer de informar que o custo de uma missão por aeronave por hora é entre 35,000 e 50,000 libras esterlinas, ou 200.000 por avião, por dia. O custo de um papel secundário em uma operação de exclusão aérea prolongada na região é de 300 milhões de libras por ano. No mínimo.

Para fazer o quê? Ajuda um bando de saqueadores de fanáticos barbudos tomarem o poder nas portas da Europa?

Finalmente, quantos dos envolvidos nesta campanha maníaca se preocupou em pesquisar a enorme quantidade de ações que Coronel Al-Qathafi tem feito não só para o seu povo, mas também para a África? Por quê era agendada uma homenagem ao Muammar Al-Gaddafi ainda este mês na ONU, sobre seu registro em defesa de direitos humanos? Sobre a sua tolerância religiosa… Relatório que elogiou-o por proteger “não só direitos políticos mas também direitos econômicos, sociais e culturais”, elogiou-o pelo seu tratamento de minorias e pelo treinamento em matéria humanitária pelas forças de segurança.

Quantos deles afirmaram que ele foi uma das primeiras vozes que ressoaram contra Al Qaeda e o terrorismo internacional? Quantos já explicaram que recebeu o país mais pobre do mundo e transformou-o no país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África?

Mais uma vez, os mais beligerantes membros da comunidade internacional se precipitaram, caíram na armadilha da “síndrome dos Balcãs”, (quando Clinton queria retirar as atenções da sua braguilha). Desta vez, quem são os três líderes com problemas de popularidade nos seus países? Barack Obama, David Cameron, e Nicolas Sarkozy, cujas taxas de aprovação estão abaixo daqueles de Muammar Al-Gaddafi.

Extraído da Pátria Latina 
Original: Pravda (em inglês)

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