segunda-feira, 14 de março de 2011

A Grande Mentira - Parte II

Um breve ponto da situação.
Jigsaw

Temos em cima da mesa algumas peças soltas, mas ainda não é possível observar o desenho completo: é como um puzzle, um jigsaw como dizem os Ingleses.

Até agora temos algumas peças e outras aparecem nos lugares mais estranhos e chamam a nossa atenção.

É preciso cuidado: algumas peças são boas, algumas não. Algumas encaixam, outras forma construídas para ser encaixadas, mas não fazem parte do desenho original.

Há informação e contra-informação. Há contra-informação criada para nós, cidadãos, há contra-informação criada para outras pessoas.

Por exemplo: algumas peças falam de Illuminati, de Maçonaria, de tradições milenares, de estranhos rituais, duma estirpe real que conserva terríveis secretos. Contra-informação? Não necessariamente.

Pode ser tudo verdadeiro, mas não é este o problema. O que não podemos perder de vista é o objetivo final, que sempre foi, ainda é e sempre será apenas um: o dinheiro. Porque o dinheiro é poder, quem detiver a maior riqueza, detém o maior poder.

Neste aspecto, e para ter uma ideia do desenho, precisamos de pelos menos outras duas peças.
Vamos vê-las.

Nas mãos dos cidadãos

Uma vez, como vimos, no final do mês cada trabalhador recebia uma pequena percentagem da riqueza do próprio País. Era uma percentagem muito pequena, claro. Mas cada nota significava o seguinte: eu, cidadão, detenho esta pequena quantia de riqueza, parte da riqueza total do meu País.

Tecnicamente o termo “deter” não está correto, pois as notas não podem “pertencer” a ninguém, a não ser ao Estado; não por acaso, nas notas falava-se de “portador”, não de “dono”. Para tornar o discurso mais simples, podemos dizer que ter uma nota na carteira significava deter apenas “temporariamente” a mesma nota, justo o tempo de utilizá-la.

Mas este fato tem implicações em nada secundárias.
Se o Estado detiver as notas, isso significa que só o Estado detém a riqueza. Mas quem é o Estado? Nós, os cidadãos. Então, as notas significavam isso: eu, cidadão, utilizo uma nota, que pertence ao Estado, para representar uma riqueza (o ouro) que efetivamente me pertence.

De fato, o trabalho permitia entrar na posse duma percentagem real da riqueza do País (a nossa República), representada pelas notas por uma questão de comodidade.

A riqueza dum Estado estava realmente nas mãos dos cidadãos. 

Desde 1971, este “problema” foi resolvido: a riqueza foi retirada das mãos dos cidadãos e substituída por papel.

“Tá bom”, pode pensar o leitor, “é uma questão secundária: antes de 1971 com uma nota comprava um sanduíche, após 1971 com a mesma nota compro um sanduíche igual, para mim pouco mudou”.

Certeza? Mudou e mudou muito.

Uma guerra, um sanduíche

Imaginemos um caso limite e absurdo.
Uma guerra está se aproximando, o cidadão, cheio de medo, desconfia que após o conflito as notas terão perdido valor. Então que faz? Entra num banco e pede para que a mesma nota seja trocada com ouro.

Já sabemos:
- antes de 1971 o banco teria sido obrigado, por lei, a efetuar a troca.
- após 1971 o banco começa às gargalhadas.

Eis a diferença. Desde a decisão de revogar a convertibilidade, nas carteiras dos cidadãos há só papel: papel que pode ter um valor (e tem) agora, nas atuais condições, pois a nossa sociedade reconhece a este papel um determinado valor. Uma nota = um sanduíche, é uma convenção.

Mas se as condições mudarem?

Uma nota de 1938 tem um valor histórico, mas não prático: ninguém pode comprar um sanduíche com uma nota de 1938

Mas com o ouro a situação é bem diferente: o ouro tem um valor intrínseco, pois 1 quilo de ouro tinha um enorme valor em 1938 e o mesmo acontece agora (aliás, com as atuais avaliações do metal amarelo, agora vale ainda mais) .

Com a decisão de anular a convertibilidade, a verdadeira riqueza foi definitivamente retirada das mãos dos cidadãos: riqueza presente e também riqueza futura. Acham isso irrelevante?

Intervalo

Antes de proceder, um breve intervalo.

Aproveitamos para comprar as pipocas, responder ao celularl, e entreter-nos com uma breve divagação.

Tentamos responder a esta simples pergunta: se o dinheiro representa a riqueza, se a riqueza dum Estado é a riqueza de todos, se o Estado for o conjunto dos cidadãos, então isso significa que o dinheiro é de todos, correto?
Então porque ao pedirmos um empréstimo o banco cobre juros?

O banco, privado, utiliza o dinheiro (teoricamente de nossa propriedade) para ganhar dinheiro (os juros) que ficam exclusivamente com ele.
Acham isso normal?

Em primeiro lugar, nem deveriam existir bancos privados; que, de fato, são uma invenção relativamente recente. Se o dinheiro pertence ao Estado, isto é, a todos nós, porque um privado tem que gerí-lo e ganhar com isso?

A seguir. Se o dinheiro for de todos (e, em teoria, assim é) o cidadão deveria poder entrar no banco (do Estado) e dizer:
Querido Estado, preciso de 10.000 Euros para começar a minha nova atividade; assino o recibo, claro, não sou um ladrão, ora essa. Mas lembra duma coisa: quando a minha atividade começar a funcionar, tu, Estado (que depois sou eu também) ganhas com isso, pois a minha empresa vai criar emprego, mercadorias exportadas, consumo, riqueza.
Por isso não começar com a treta dos juros, pois vou devolver abundantemente este miserável empréstimo.
Claro, o mundo não poderia funcionar desta forma. Seria um absurdo, não seria?
Mas não é também absurdo que bancos privados enriqueçam com o dinheiro de todos?

Ops, o intervalo está no fim!

Um mundo melhor? Não, obrigado.

Falta ainda uma peça, muito importante.

Como vimos, em 1971 os Estados criaram uma situação muito particular: revogada a convertibilidade dinheiro = ouro, era possível criar dinheiro a partir do nada.

Foi, e ainda hoje é, uma medida controversa. Faz sentido “desligar” o dinheiro da riqueza? Faz sentido tornar o dinheiro a verdadeira (mas muito temporária e volátil) riqueza?

Não vamos discutir isso agora, pois o que conta neste discurso é outro princípio: em 1971 foram rasgados os acordos de Bretton Woods, os mesmos estabelecidos em 1944, e que desde então tinham governado a nossa sociedade.

O que conta, como vimos, é que para os Estados abriam-se novos percursos, novas possibilidades.
E aqui aconteceu algo de espantoso: os Estados disseram: “Não, obrigado”.

Criadas as condições para decisivos investimentos (como já dissemos: instrução, saúde, transportes, infra-estruturas...), as resposta foi: “Sim, engraçado. Mas, se não se importarem, vamos entregar tudo isso aos privados, pode ser?”.

Pode ser sim, é suficiente não dizer nada aos cidadãos.

E foi isso que aconteceu: a possibilidade de criar e gerir dinheiro foi delegada definitivamente aos privados. Não “todos” os privados, só alguns: nomeadamente os que fazem-se chamar “bancos”. Privados, óbvio.
E a coisa mais divertida é que nada foi dito aos cidadãos: em que dia o Presidente Nixon rasgou a convertibilidade dinheiro = ouro? No dia 15 de Agosto, no meio das férias.

Tu, cidadãos, fica na praia, pensa em divertir-te; eu trato do resto.
E, de fato, trataram.

Um pequeno problema

Bom, em verdade havia um pequeno problema.
As duas principais economias, a americana e a europeia, encontravam-se em situações diferentes: nos Estados Unidos o Banco Central era já privado (a Federal Reserve sempre foi privada), mas na Europa cada Estado continuava teimosamente a gerir a própria riqueza com o Banco Central Nacional. Uma situação incomodativa, sem dúvida.

Era preciso uniformizar, entregar toda a riqueza aos privados. Não era uma questão secundária: uma vez controladas as duas principais economias, com outras instituições teria sido possível estender o controle até as outras economias. É por isso que existe o Fundo Monetário Internacional, por exemplo, que reúne 184 Países.

Por isso, era preciso ultrapassar o obstáculo “Europa”. Mas isso não era tão simples: não era possível enviar todos os cidadãos para a praia, era preciso algo de mais refinado.

Desde 1950, no Velho Continente era ativo um movimento que mirava a criação dum grande mercado comum, uma federação de Estados, começada com a CECA, Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Poderia ter existido ocasião melhor para aportar algumas “leves” modificações?

Por exemplo: que tal pegar nesta boa ideia e convencer os cidadãos em adotar uma única moeda privada? O nome? “Euro”, de Europa, perfeito.
Depois é pintar retratos fantásticos, de paz, bem estar comum, de cooperação infinita: os ricos que ajudam os pobres, os pobres que ficam ricos, eis a promessa do Euro.

Os Europeus são aborrecidos, querem votar acerca de tudo e mais alguma coisa, sempre com esta história da democracia e bla, bla, bla.
Então eis o golpe de gênio: convencê-los em votar num projeto aparentemente bom (a União Europeia) para depois poder atual um plano muito mau.

Quem poderá queixar-se? Os cidadãos? Mas não foram eles que escolheram de livre vontade?

Assim foi criado o Euro.
Uma moeda nascida ainda antes do Estado, caso único na História. Mas não havia tempo a perder: era preciso que todos, Americanos e Europeus, usassem dinheiro privado. Os outros teriam seguido o exemplo ou poderiam ser controlados, sem problema.

Dinheiro privado

Dinheiro privado... Será possível?
Não “será”, mas “é” possível.
Observem uma nota de Euro: conseguem individuar as palavras “União Europeia”? Não, não conseguem, porque não aparecem: aparece apenas BCE, Banco Central Europeu.
Observem uma nota de Dólar: porque não aparece o Ministério do Tesouro? Aparece apenas Federal Reserve.

Em ambos os casos a resposta é simples: este não é dinheiro público, é privado.

As antigas notas nacionais deixavam bem claro que a nota pertencia a um determinado Estado: não era vaidade, era uma segurança, pois estava a significar que atrás da nota havia um Estado que garantia o valor dela, com as próprias reservas auríferas.

Quem está atrás do Euro e do Dólar?

O Banco Central Europeu é formado pelos Bancos Centrais Nacionais, os quais são detidos por bancos privados

A Federal Reserve é privada. Oficialmente os nomes dos acionistas da Fed são mantidos secretos (manter secretos os nomes dos donos da instituição que cria e gera o dinheiro dum País? E por quê?), na verdade há muito mais do que suspeitas: os donos da instituição são bancos privados e famílias de banqueiros.

O BCE produz dinheiro privado, tal como a Federal Reserve. Não é dinheiro criado a partir de riqueza, não é criado a partir de ouro: é papel, nada mais do que simples papel colorido, atrás do qual não há nada.

Perder a soberania

É difícil acreditar nisso.

O esquema foi bem estudado e nada foi deixado ao acaso. Quando nos anos '90 houve a passagem para o Euro, ninguém explicou o que teria significado abandonar o dinheiro nacional, perder a soberania monetária.

Repito: ninguém explicou isso, nem os governos, nem as oposições. Europeístas e antieuropeístas, todos empenhados em Grandes Discursos acerca dos Grandes Valores, a Democracia, o Futuro, a Unidade, o Homem, a Cooperação.
Poucos, muito poucos e não ouvidos os que perguntaram uma coisa muito simples: o que acontecerá ao meu País uma vez perdida a capacidade de gerir o próprio dinheiro? 

Nos Estados Unidos a passagem aconteceu numa época ainda mais remota, no principio do XXo. século com o Presidente Wilson o qual, mais tarde afirmou:
Eu sou um dos homens mais infelizes. Tacitamente arruinei o meu País. Uma grande Nação industrial está agora controlada pelo seu sistema de crédito, já não somos regidos por a livre opinião e o voto da maioria, mas pela opinião e coação de um pequeno grupo de homens dominantes.
E bravo Wilson. Pena ter lá chegado demasiado tarde.

Última peça: a dívida

Olhem, encontrei uma última peça! Mas não faltavam apenas duas? Pois, mas agora surgiu esta, olhem só: chama-se dívida.

Melhor observá-la bem, pois não parece uma peça secundária. E não, não é nada secundária. A bem ver, o mecanismo da dívida é muito importante embora o seu funcionamento seja bastante simples.
De fato, funciona assim:

Um banco privado emite dinheiro.
O dinheiro é emprestado a um Estado.
O Estado paga juros por este empréstimo.
O Estado gasta mais do que ganha, o que é bastante normal.
Por isso o Estado não consegue devolver o empréstimo e pede outro empréstimo para poder funcionar e pagar ao menos os juros.
A partir de agora, o Estado continuará a pedir cada vez mais dinheiro ao banco privado: para poder continuar a funcionar e para poder pagar os juros acumulados.
É uma espiral da qual o Estado nunca poderá sair. O banco privado conseguiu um refém: o Estado.
A espiral chama-se “dívida pública”.
E o Estado somos nós.

A Grande Mentira

Agora temos as peças necessárias para construir o nosso jigsaw.

·        Tudo começa em 1919, com o Federal Reserve Act assinado pelo Presidente dos Estados Unidos T.W. Wilson: a moeda dos EUA é emitida agora pelos privados.
·        Continua em 1971, dia 15 de Agosto, com a revogação da convertibilidade da moeda e ouro por o Presidente R. Nixon. Com esta medida o dinheiro já não representa a riqueza dum País, o seu ouro, mas torna-se uma riqueza volátil.
·        Com esta medida, a riqueza do País é retirada das mãos dos cidadãos.
·        A seguir, temos a supressão dos bancos centrais nacionais da Europa em favor de um só banco central, o BCE, privado, que emite moeda própria. 
·        Como resultado, os cidadãos perderam definitivamente qualquer contacto com o ouro do Estado e são obrigados a utilizar exclusivamente um meio de pagamento privado, sem valor intrínseco.
·        Entretanto, os bancos (já então todos privados ou controlados pelos privados) capturam os Estados no mecanismo da dívida pública e conseguem enriquecer cada vez mais.

Uma revolução? Uma guerra? Uma mega-reestruturação da dívida? Qual o problema? Os Estados ficarão apenas com um monte de papel. Os bancos com o ouro.

E o leitor terá que concordar: as duas coisas são bem, diferentes, não acha?

Eis a Grande Mentira, que tem um nome: dinheiro.
O dinheiro que utilizamos já não é público, é privado; já não é riqueza, é papel.

Os Estados abdicaram do papel deles de forma progressiva, mas inexorável. Pior: traíram os próprios cidadãos. Entregaram o ouro e o poder à poucos privados. Porque ouro e poder vão juntos.

Porque um Estado que não pode controlar a própria economia já não é um Estado: é uma ilusão de Estado.


Pensem um segundo nisso: o que pode fazer um Estado sem a capacidade de gerir o próprio dinheiro (que depois é o dinheiro de todos os cidadãos, é bom não esquecer isso)?
Pode gerir o sistema de instrução? E com quais recursos?
Pode gerir o sistema de saúde? E como?
Pode gerir um exército, uma política energética, o mundo do trabalho, a justiça, as próprias finanças, os transportes? Pode fazer planejamentos?
Uma vez perdida a posse da própria riqueza, um Estado deixa de existir. Continua a existir a Nação (por enquanto: ainda não perceberam o porquê da globalização?), mas o Estado morreu, porque palavras como “república” ou “democracia” são ocas quando não há poder.

Os Estados morreram porque foram vendidos. Mas nós somos os Estados: então nós cidadãos fomos vendidos, com as nossas riquezas e os nossos direitos.

Os partidos, os representantes, aquelas mesmas instituições criadas e eleitas para tratar dos interesses de todos, traíram a confiança dos próprios eleitores e venderam as vidas dos cidadãos aos bancos privados.

Hoje continuam a utilizar termos que perderam sentido, como Estado, República, Democracia; continuam a organizar rituais vazios como as “livres” eleições: tudo para criar uma aparência de legalidade, para que o cidadão não perceba a realidade, para preservar a Grande Mentira.

Pois é, querido leitor: fomos vendidos. Em troca de papel.

E temos que admitir: como negócio não foi grande coisa.

Ipse dixit.
"Can you tell me where my country lies?"
said the unifaun to his true love's eyes.
"It lies with me!" cried the Queen of Maybe
- for her merchandise, he traded in his prize.

Genesis, Dancing With The Moonlit Knight

Max, 14 de março de 2010

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