segunda-feira, 14 de março de 2011

Clay Shirky: sobre mídias sociais e revolução

SXSW  2011 – South by Southwest Festival Interativo de música e filme  11-20/3/2011, Austin, Te.

12/3/2011, Josh Halliday, Guardian, UK: SXSW 2011: Clay Shirky on social media and revolution
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Quando a realidade é rotulada como impensável, cria-se uma espécie de loucura em qualquer indústria, também na indústria dos jornais e televisões. Os patrões começam a operar movidos por alguma espécie de fé fundamentalista, e os empregados que se atrevam a sugerir que o que todos veem acontecer pode, sim, estar acontecendo MESMO, são despachados para o Setor de Inovação, onde podem ser esquecidos en bloc. Esse espantoso procedimento, de calar os realistas em favor dos delirantes, produz diferentes efeitos em diferentes indústrias. Na indústria dos jornais e televisões, aconteceu de os seus mais apaixonados defensores terem ficado totalmente incapazes – de fato, assim estão, até hoje! – de se planejar para um mundo no qual a indústria que conheceram está, visivelmente, sumindo.” 

(Clay Shirky, em: “Newspapers and Thinking the Unthinkable”, 

13/3/2009, Clay Shirky Blog


Havia uma lágrima no olho de Clay Shirky, e o pessoal peso-pesado que assistia à sessão do Festival SXSW Interativo de Música e Filme no centro de Austin irrompeu em aplausos espontâneos.

Aconteceu mais ou menos na metade da importante intervenção de Shirky, quando ele exibiu no telão uma foto em que egípcios cristãos dão-se as mãos para criar uma cerca humana de proteção antipoliciais, para que os muçulmanos rezassem, na praça Tahrir, no Cairo. Naquele momento, falar de “exigir governos mais sérios” foi convocação emocionada, que conquistou todos os presentes. “Sempre choro quando falo dessa foto” – admitiu um dos mais importantes pensadores da internet nos EUA.

Foi o momento mais emocionante do Festival SXSW – e fala que os críticos não conseguirão descartar sob o rótulo de “utopianismo digital”.

Shirky admitiu que “não entendera corretamente”, em escritos anteriores, o quanto a mídia social pode afetar diretamente a mudança política. É verdade que “as coisas estão só começando”, no que tenha a ver com avaliar o quanto as mídias sociais já afetaram as mudanças sociais. Mas já não há dúvidas de “a não-violência disciplinada [que já derrubou Ben Ali da Tunísia] não resultou naturalmente só de as pessoas terem aparecido na praça Tahrir na hora marcada.”

“Os governos sistematicamente superestimam a importância do acesso à informação” – disse Shirky.

“E, também sistematicamente, subestimam a importância do contato horizontal, de um pessoa com outra. Ganhar acesso a conversas entre amadores, não a conferências de especialistas, é muito mais estimulante, em termos políticos, que qualquer acesso a informação jornalística. Os governos temem os grupos sincronizados, não os indivíduos dessincronizados.

“A história da imprensa já nos deveria ter alertado para não crer na teoria de que a mídia seria intrinsecamente política, ou, mesmo, que as pessoas seriam inerentemente políticas. O fato de alguém falar ‘de política’ nas horas vagas não implica que todos os que falam se apresentariam na praça Tahrir, na hora em que a política virou assunto realmente sério.”

Sobre a imagem dos cristãos egípcios organizados para proteger os muçulmanos que rezavam, Shirky disse: “Só há política local. Se quisermos que nosso país ajude, não que destrua, o Oriente Médio, não podemos tolerar aqui, perto de nós, nenhum sentimento antimuçulmano.”

Perguntado sobre se tem esperança de ver EUA mais globais, mais tolerantes, Shirky disse que “Meu medo é que os EUA estejam entrando num período de fechamento, de dar as costas ao mundo. Gostaria de conseguir ser mais otimista.”

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