segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Estado de Direito e o império financeiro

31 de dezembro de 2010 | 


Alejandro Nadal - La Jornada

WikiLeaks anuncia grandes revelações dos maiores bancos dos Estados Unidos. Claro, sabemos que o mundo das finanças se impôs à economia real. Aí está a política macroeconômica, completamente subordinada às necessidades do setor financeiro. Mas WikiLeaks confirma algo mais grave: a supremacia do sistema financeiro sobre o Estado de Direito.

Uma coisa é uma grave crise econômica e financeira.Mas ainda mais grave é que o Estado de Direito está indo para o abismo, juntamente com as economias de milhões de pessoas. Por isso, é importante lembrar o seguinte:

mercadosPrimeiro, a crise explodiu no coração do sistema financeiro mais desenvolvido do mundo. Entre as causas da crise está um conjunto de operações financeiras duvidosas, que criou uma bomba-relógio e os seus efeitos se espalharam pelo mundo através da securitização e desregulamentação financeira.
Segundo, o sistema financeiro não foi alterado ou submetido a uma nova regulamentação ainda mais rigorosa. Nada no sistema financeiro dos EUA mudou significativamente. O pior é que ele mantém sua hegemonia sobre a economia real: as medidas de austeridade fiscal e política monetária adotadas nos Estados Unidos e Europa são testemunho disso.

Você não acha que os funcionários do Lehman Brothers, Goldman Sachs e Bear Stearns sabiam o que estavam fazendo? Um exemplo bastará para ilustrar isso tudo:

Os bancos de investimento nos Estados Unidos emitiam títulos “especialmente concebidos” para seus preços entrarem em colapso. Observe as palavras-chave “especialmente concebidos”. Lançados simultaneamente e apostando em outros títulos, a queda nos preços, conseguindo lucros astronômicos.  “Vender ativos-lixo e apostar contra eles no paralelo não é um sinal de duplicidade penal?  A resposta deve ser sempre afirmativa.

Nos meandros do sistema financeiro institucional dos EUA estão os bancos tradicionais, bancos de investimento, corretoras e empresas de rating. Dormindo na mesma cama estão as agências reguladoras, a Federal Reserve, as Bolsas de Valores, a SEC, órgão regulador das operações no mercado de ações e a CTFC, que supervisiona as operações nos mercados futuros de commodities.

E esta é a história:

Ao longo dos últimos dez anos, os bancos comerciais e os de investimento além das operações bancárias tradicionais praticaram operações que todos os analistas sérios de mercado as classificam como “fraudulentas” e , no mínimo, como “irregulares”.
Só que ninguém, nenhum governante, tomou medidas legais para punir esses criminosos e/ou para evitar que esses crimes sejam novamente cometidos. Muito menos prevenir contra quaisquer comportamentos criminosos no futuro.

Além de algumas medidas regulamentares cosméticas, não foram proibidas nem mesmo as gigantescas operações que estavam por trás da enorme bolha de preços no setor imobiliário. Tampouco foi feita qualquer investigação séria contra as personagens de Wall Street fraudadoras e causadoras do desastre

A lista de problemas que exigem atenção urgente dos Estados Unidos é conhecida. Em que país quatro maiores bancos concentram aproximadamente 60% de todos os ativos do setor bancário, e nada mudou para alterar esse nível de concentração e poder econômico. A multiplicação dos bancos foi esquecida. Tampouco se realizou uma reforma profunda da Freddie Mac e Fannie Mae (as duas gigantescas empresas quase públicas no mercado de hipotecas). Nunca foram proibidas as emissões da maioria dos derivativos mais perigosos (as armas de destruição em massa de Warren Buffet). Nenhuma tentativa foi feita para controlar e restringir os níveis de alavancagem dos bancos e agentes não-bancários. Finalmente, foram legalizadas as agências qualificadoras seguem sendo propriedade dos maiores agentes financeiros, que mantém o duplo jogo e conflito de interesses. Esses problemas também continuam por ser resolver.

Os indivíduos por trás das corporações do setor financeiro acumularam fortunas astronômicas e ainda o fazem, apoiados pelo pacote de “resgate financeiro” aprovado pelo fim da administração Bush. O mais surpreendente: suas operações sujas que permaneceram ocultas. Ao contario! Hoje sabemos tudo sobre o modus operandi desses intermediários financeiros e os seus cúmplices. Sabe-se tudo, mas ainda assim temos ZERO de investigações judiciais e ZERO de ações penais contra esses agentes financeiros criminosos.

Você acha que as divulgações futuras do WikiLeaks vai mudar as coisas?

Nos EUA, a tentativa de recuperar a república e remover o jugo do sistema financeiro foi truncado. A equipe econômica de Obama representa a opinião de que “falar de fraude é uma bobagem, o que importa é a macroeconomia.

Através de suas ações e omissões, a administração Obama mantém o caminho do desastre para a economia dos EUA e ajuda a desmantelar o que restava do Estado de Direito. 


Extraído de Attac – Madrid

Traduzido por Tafáci - redecastorphoto

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