terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vazamentos sugerem: Irã está vencendo Israel, no OM

7/12/2010, Juan Cole, Truthdig - 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O Irã está vencendo, e Israel está perdendo. Eis a surpreendente evidência a que se chega, se se observa o rumo que as coisas tomaram no Oriente Médio nos dois anos durante os quais foram redigidos a maioria dos telegramas do Departamento de Estado sobre dificuldades regionais do Irã.


Semana passada, o primeiro ministro sunita do Líbano, noutros tempos crítico virulento, fez calma peregrinação à capital iraniana. Deram em nada as esperanças israelenses de separar Irã e Síria. A Turquia, antes forte aliada de Israel, busca hoje melhores relações com o Irã e com os xiitas do Líbano.

A visita do primeiro-ministro libanês Saad Hariri ao Irã foi, em parte, tentativa de estreitar contato com um dos grandes parceiros estrangeiros do Partido da Resistência, o Hezbollah xiita. O pai de Hariri, Rafiq, for assassinado em misteriosa explosão em 2005, e, dizem os boatos, um Tribunal Especial da ONU criado para investigar o atentado, estaria em vias de acusar o Hezbollah. Muitos libaneses temem que, conforme o rumo que tomem as conclusões do Tribunal, volte-se a ouvir-se em Beirute o rugido das Kalashnikovs (porque os Hariris são muçulmanos sunitas ligados à Arábia Saudita, e seus seguidores podem atacar os libaneses xiitas, em represália). Mais de um terço da população do Líbano (4 milhões) são xiitas, mas os cristãos e os muçulmanos sunitas constituem a elite política já há dois séculos.

As conversações entre Hariri e os aiatolás em Teerã são tentativa para obter ajuda do Irã para controlar as milícias do Hezbollah (muitos xiitas libaneses veem o Irã como ‘comandante’ externo, assim como muitos sunitas veem a Arábia Saudita, e os cristãos veem a França e os EUA). As conversações visam também a reconfirmar as promessas iranianas de ajuda econômica a Beirute. Em troca, segundo fonte iraniana que falou à Agência France-Presse sob condições de anonimato, Hariri ofereceria seu apoio ao Irã “para o desenvolvimento de capacidades nucleares para finalidades civis e pacíficas.”

A ser verdade, é reviravolta de 180 graus. Segundo o New York Times, telegrama de agosto de 2006 relata que Saad Hariri disse que “[a invasão do] Iraque não foi necessário”, mas “[a invasão do] Irã é necessário”, e que os EUA “devem seguir em frente, se preciso for” para deter o programa de enriquecimento nuclear do Irã, no caso de as negociações se provarem infrutíferas. Em março de 2008, segundo outro telegrama vazado publicado na página do jornal Al-Akhbar, o ministro de Defesa do Líbano Elias Murr, cristão, dá conselhos sobre como os israelenses podem combater eficazmente o Hezbollah sem afastar os cristãos libaneses (como aconteceu quando Israel bombardeou o norte cristão, em 2006). (Murr tem negado a versão que se lê no telegrama.)

Não apenas Hariri mudou radicalmente o próprio discurso sobre o Irã, como mudou também, de modo ainda mais surpreendente, sua posição sobre o maior amigo do Irã, a Síria. Nos dois anos passados, Hariri e o presidente Michel Sleiman buscaram ativamente uma reaproximação com a Síria, um dos apoiadores do Hezbollah. Trabalharam para reparar os laços com Damasco, gravemente abalados por acusações, feitas por Beirute, de que a Síria teria apoiado o assassinato de Rafiq Hariri, o que levou a imensas manifestações públicas anti-Síria, e à retirada de tropas sírias do Líbano.

Hariri, agora, diz que errou ao acusar Damasco. A crescente influência no Líbano do homem forte da Síria, Bashar al-Assad, alarmou o governo Obama.

De modo semelhante, também a Turquia, nos dois últimos anos, tem oferecido ao Líbano seu apoio de potência emergente no Oriente Médio. Ancara e Beirute concluíram um tratado criando uma zona de livre comércio entre os dois países, que a Turquia espera expandir para Síria e Jordânia. Em flagrante contraste com a ambivalência dos próprios sunitas e cristãos libaneses, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan visitou Beirute dia 23/11 e mandou um aviso a Israel: “Se invadirem o Líbano e Gaza, com seus modernos blindados, e destruírem escolas e hospitais, não contem com o nosso silêncio. Não nos calaremos e apoiaremos o que seja certo.” Erdogan também defendeu o Hezbollah contra rumores de que estaria envolvido no assassinado de Hariri-pai. Disse que “Não se pode nem cogitar” que a organização que se define como o próprio “espírito de resistência” do Líbano tenha participado do assassinato. 

A defesa que a Turquia ofereceu ao Hezbollah liga-se à melhora das relações entre Ancara e o próprio Irã. A Turquia tentou interferir a favor do enriquecimento do programa nuclear do Irã, no Conselho de Segurança da ONU. Dia 9/6, quando o Conselho aprovou novas sanções econômicas contra o Irã, Turquia e Brasil votaram contra, e o Líbano absteve-se. 

De 2005 a meados de 2006, o Irã dava a impressão de estar em processo de retirada no leste do Mediterrâneo. Sunitas e cristãos pró-ocidentais cresceram em Beirute. A Síria foi expulsa do Líbano, e ouviram-se boatos de que estaria afastando-se do Irã. Os poderosos generais da Turquia – membro da OTAN e aliada de Israel – sempre foram anti-Irã.

Agora, Hariri chega a Teerã como suplicante. A Síria volta a ter influência em Beirute. E emerge uma nova Turquia, que faz as pazes com o Islã, e surge como potência regional e aliada de peso a favor da integração econômica e diplomática de Irã e Síria no Oriente Médio.

Os avanços do Irã na Região são, ao que parece, golpes de morte nas esperanças de EUA e Israel de criar um novo eixo anti-Irã, no qual árabes iranianos e outros vizinhos cerrariam fileiras com Telavive.

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