sábado, 18 de dezembro de 2010

“... CEM MILHÕES DE IMPOTÊNCIAS”

Laerte Braga

No melhor estilo baby Johnson um cão foi fotografado por Vadin Ghirda, da Agência France Press, num carrinho de bebê nas ruas de Bucareste, capital da Romênia. Pomposo, senhor de si, soberano e absoluto.

Na antiga Europa Ocidental, a maior base norte-americana fora do território continental, a galeria Jack Bell, da colônia britânica, mostrará em Londres caixões dos mais variados formatos, todos fabricados em Gana, África.

Caixões em forma de peixes, aviões, monstros pré-históricos vão tentar atrair o mercado funerário para essa nova atração. São fabricados por Paa Joe e em Gana são símbolos de status.

Segundo as agências de notícias, com frequência homens de negócios são enterrados em caixões com a forma do carro Mercedes Benz.

O caixão que guardou o corpo do suposto assassino do presidente John Kennedy, Lee Harvey Oswald, foi vendido num leilão por pouco mais de 87 mil dólares. O anúncio foi feito pela casa de leilões Nate D. Sanders. O comprador não teve seu nome revelado.

Um dos diretores da casa de leilões afirmou que o estado de conservação da peça é ruim. Oswald passou dezoito anos nesse caixão e só foi possível a venda por conta de uma exumação feita em 1981. É que foram feitas denúncias que lá não estava o corpo de Lee Oswald, mas de um espião soviético. À época, aproveitaram e trocaram o caixão.

Como norte-americanos não dormem sem antes olhar debaixo das respectivas camas e conferir se por lá não estão antigos espiões soviéticos, ou agentes da al Qaeda, a exumação não foi difícil. Um juiz, patrioticamente, autorizou o ato.

No Brasil está confirmada a presença de Paris Hilton no carnaval. A moça vem assistir ao desfile das escolas de samba do Rio e pretende dar um pulo a Salvador. Não está acertado um encontro com Caetano Veloso no trio elétrico do dito cujo. Deve acontecer, faz parte do show.

Hamid Karzai é o presidente escolhido pelos norte-americanos para governar o Afeganistão. É lá que os soldados dos EUA treinam torturas com requinte e perversidade digna do maior arsenal do mundo. Praticam o esporte de tiro ao alvo em cidadãos inocentes. Estupram mulheres afegãs. Saqueiam o país e vendem desde tênis de marcas diversas (com imprimatur de trabalho escravo), a drogas, além de transferir custos dessas ações democráticas para governos das colônias britânica e europeias em geral etc, etc.

O presidente Karzai chegou a um desses protetorados árabes (ligados aos EUA), com 52 milhões de dólares na bagagem. Explicou direitinho do que se tratava, foi liberado, lógico, é presidente; é amigo e ficou com o dinheiro. Faz parte do “processo democrático” sendo levado aos rincões vários do mundo pelos “nossos rapazes”, na definição de George Walker Bush, terrorista posto em descanso no seu rancho no Texas.

Deixou John McCain no Senado. Perdeu as eleições para Barack Obama, mas governa de seu gabinete. Obama serve cerveja na Casa Branca.

O Sudão é um dos países mais pobres do mundo. Por incrível que possa parecer, antes de ser chamado a colaborar com os norte-americanos contra os soviéticos na guerra do Afeganistão (a travada e perdida pela extinta URSS), Osama bin Laden exercia o ofício de engenheiro e dono de uma grande empreiteira naquele país.

Foi responsável pela construção de portos, aeroportos, estradas e outras coisas menores. Aumentou sua fortuna e partiu, fundamentalista islâmico que é, ajudar os Talibãs contra os soviéticos. Financiado e treinado pelos “aliados”, os norte-americanos.

Tal e qual Saddam Hussein. Saddam usou armas químicas e biológicas contra soldados e civis do Irã na guerra montada pelos EUA para tentar por fim à revolução islâmica e popular daquele país. As armas saíram dos arsenais controlados por Washington. O Kuwait, um pedaço do Iraque arrancado pelos britânicos (quando ainda existiam como nação soberana, independente e não como agora, base militar dos EUA) em função do petróleo, foi um presente, à época.

Presente de Reagan, confirmado por George Bush pai.

Ao perceberem que Saddam passava a cavalgar reservas petrolíferas sem tamanho e podia virar um complicador, estava desenvolvendo tecnologia nuclear para a construção de armas desse calibre, resolveram por fim a aliança e “libertar” o Kuwait.

Saddam quando deposto, aí já por Bush filho, nem tinha armas nucleares e nem tinha armas químicas e biológicas, tinha petróleo.

Voltando ao Sudão. O presidente do país, Omar el-Bashir tem nove bilhões, repito, nove bilhões de dólares em bancos britânicos. Quem diz isso? Os norte-americanos em telegrama diplomático vazado pelo WikiLeaks. O documento cita o argentino Luis Moreno Ocampo, promotor da Corte Penal Internacional, como responsável pelas investigações.

Bashir tem ordem de prisão emitida pela Corte por crimes de guerra e contra a humanidade em Darfur, região oeste do seu país. A guerra civil por ali, começou em 2003, matou 300 mil pessoas e deixou um rastro de dois milhões e setecentos mil desabrigados. Dados das Nações Unidas.

O dinheiro está a salvo no Lloyds Banking Group, na base militar Grã Bretanha, que nega ter informações sobre o paradeiro do money. É que nem o dinheiro do “deputado” Paulo Salim Maluf. A identidade é a mesma de Maluf, o CPF ídem, mas segundo o paladino da moral e da defesa do dinheiro público (com aval da Justiça Eleitoral), trata-se de “homônimo”.

É aí que a porca torce o rabo no caso WikiLeaks/Julian Assange. As acusações de “crime sexual” contra o fundador do site não subsistem segundo um sem número de entrevistas concedidas por advogados britânicos e suecos e divulgadas por todos os cantos. Nem as feitas pela promotoria de Estocolmo em agosto (e abandonadas por falta de provas) e as de agora, feitas pela promotoria de Gotemburgo (desde novembro e a determinação de Washington aos colonos suecos). Pelas leis suecas Assange não seria preso.

Os Estados Unidos querem a extradição de Assange, o “crime” é espionagem e a intenção é colocá-lo numa das masmorras norte-americanas semelhantes ao campo de concentração de Guantánamo, ou prisões como a que está encarcerado o soldado Bradley Manning, acusado de ser o responsável pelos vazamentos dos documentos secretos. Manning teria passado esses documentos a Assange.

O advogado de Manning, em entrevista ao jornal The Daily Beast, afirma que seu cliente está em uma solitária, há 200 dias, sem qualquer respeito aos seus direitos básicos. A entrevista foi concedida ao jornalista Denver Nicks e  traduzida para o português pelo Coletivo da Vila Vudu (grupo de resistência democrática com atuação na rede mundial de computadores) e pode ser lida em “A Prisão Infernal de Bradley Manning”.  
Manning completou 23 anos de idade no dia 17 de dezembro. Suporta as duras condições carcerárias por conta do carinho de sua família, afirma David Coombs, seu defensor.

Está preso na base dos Fuzileiros Navais em Quântico, estado da Virgínia, passa 23 horas por dia sozinho numa cela com pia, vaso sanitário e cama. Não dispõe de lençóis ou travesseiro e segundo um carcereiro, o tenente Brian Villiard, o material rasgável que dispõe é “macio, eu dormiria com ele”.

Não está autorizado a fazer exercícios, faz ioga e alongamento a revelia da decisão dos carcereiros e durante uma hora por dia pode assistir televisão. O advogado assinou para o soldado a revista Scientific American para ajudá-lo a suportar a carga na prisão. É a revista favorita de Manning.

As condições em que se encontra são consideradas sub-humanas, capazes de gerar traumas; usa algemas quando fora da cela e as visitas conversam com ele com um vidro a separá-las. O advogado afirma que tais condições estão “pesando sobre a psique do cliente”. O psicólogo que examinou e atende Manning afirma que não se justifica esse nível de encarceramento e vigilância, pois o preso é saudável e não tem tendências suicidas.

Manning vai enfrentar a corte marcial pelas acusações de “vazamento de informações secretas ao WikiLeaks em violação ao Código Uniforme da Justiça Militar”. Vai declarar-se inocente no julgamento.

John Conyers, deputado democrata pelo estado de Michigan disse na quinta, 16 de dezembro, que há necessidade de “calma e resposta equilibrada aos novos desafios que o site representa”. “Quando todos nesta cidade se unem pedindo a cabeça de alguém é sinal de que precisamos desacelerar e pensar melhor”.

Já o deputado texano, Ted Poe, montado num alazão branco e com dois colts em sua cartucheira, afirma que o soldado deve ser punido

Ao contrário do que aconteceu com Brian Minkyu Martin, especialista em inteligência naval que teria tentado vender segredos militares a um agente disfarçado do FBI, as condições de Manning na prisão são diversas. Sem provas, Manning enfrenta privações que Martin não enfrenta.

Os milhares de documentos secretos revelados pelo WikiLeaks mostram o caráter doentio e terrorista do governo dos EUA, como um todo, o Estado norte-americano. Sequestros, tortura, assassinatos seletivos, compra de governantes, parlamentares (Eduardo Azeredo no Brasil p. ex.), funcionários públicos de outros países (Nelson Jobim e Juniti Saito no Brasil, p. ex.), ações terroristas em todo o mundo e guerras sujas em função de interesses políticos e econômicos.

A mídia privada, podre e venal, tenta, o Brasil é exemplo, realçar as acusações contra Assange, dar destaque aos fatos tais como ida ao tribunal, cortes, etc, ao invés de noticiar o conteúdo dos documentos.

O objetivo é demonizar o fundador do WikiLeaks, transformá-lo em bandido, anjo do mau e encarcerá-lo em prisão perpétua, para que dois objetivos sejam atingidos. O primeiro deles é tirar Assange de circulação, óbvio e o segundo, intimidar os que combatem o conglomerado terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A, agora sem defesa diante dos fatos contidos nos documentos vazados.

Existem milhares, talvez milhões de assanges mundo afora e o WikiLeaks não é só Assange. A quotização que permitiu o pagamento da fiança de Assange teve doadores norte-americanos, caso do cineasta Michael Moore, mostra e prova essa afirmação.

No Brasil a mídia privada ignora o conteúdo dos documentos esquecida a defesa feita durante a campanha eleitoral quando o presidente Lula criticou os excessos de denúncias dessa mídia. Falou em liberdade de expressão. Pois, vamos colocar aspas. A tal liberdade de expressão termina naquela frase de William Bonner, agente estrangeiro, a estudantes e professores de uma faculdade de comunicação de São Paulo sobre determinada notícia que estava vetando para a edição daquele dia do Jornal Nacional (porta-voz da alienação, mentira, do Pentágono, do Departamento de Estado e do esquema FIESP/DASLU – o que não gosta de nordestinos).

Bonner, como denunciaram em documento público os professores e alunos, disse que “o nosso telespectador é como Homer Simpson, não quer saber dessas coisas (a verdade, os fatos) e essa noticia contraria os nossos amigos americanos”.

O próprio governo brasileiro através do Itamaraty teria que interpelar o governo dos EUA sobre as ações de interferência em negócios internos de nosso País, contato com funcionários, ministros, parlamentares, militares e líderes políticos e religiosos para obtenção de informações (Jobim teria que ser demitido do Ministério da Defesa e alvo de inquérito para apurar suas ligações com o conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A).

Lula solidarizou-se com Assange publicamente, deveria completar a tarefa perguntando aos norte-americanos o que fazem com ações dessa natureza no Brasil. O que pretendem. Há uma clara violação da soberania nacional com a cumplicidade do ministro da Defesa.

Defesa de quem? É o caso de se perguntar...

Há uma cortina de silêncio em torno do assunto, uma tentativa de desviar o foco principal, o conteúdo dos documentos vazados pelo WikiLeaks, para espetacularizar a prisão de Assange e transformá-lo num criminoso.

Isso não é liberdade de expressão. E muito menos questão de dignidade. A mídia privada não os tem.   

Nos próximos documentos a ser trazidos ao público pelo WikiLeaks podem aparecer as relações podres da mídia com os norte-americanos, com empresas do conglomerado terrorista, tal e qual as negociações que Serra fez para “garantir” o pré-sal aos donos do mundo e FHC foi ajudar a vender o País em Foz do Iguaçu junto a investidores e captadores estrangeiros.

Entendo assim o que Millôr Fernandes quis dizer, entre outras e muitas coisas, que:

“Democracia – extraordinário modelo de organização social, composto de Três Poderes e cem milhões de impotências”

São bilhões diante do terrorismo nuclear dos norte-americanos. Os milhares de ogivas espalhadas pelo mundo inteiro, prontas a cortar a cabeça de Julian Assange.

É uma luta de resistência e sobrevivência a de Assange e dos povos do mundo. A uma horda de bárbaros montados em tecnologia de destruição.

E não se esgota em Assange, ou em Manning, símbolos da coragem de repudiar a ordem de ficar de quatro. Azeredo adora, sobretudo quando se trata de calar a rede mundial de computadores, o único meio de comunicação que ainda consegue escapar ao controle terrorista do império.

Essa é outra luta, pois é outro objetivo dos terroristas sem aspas.

O maior feito do WikiLeaks foi e está sendo mostrar ao mundo que aos olhos dos norte-americanos não somos nada e ninguém.

É preciso mostrar que somos tudo.

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