sábado, 25 de dezembro de 2010

Cable da embaixada dos EUA sobre a eleição de Joseph Ratzinger

A embaixada crê que o novo Papa tem um enfoque “eurocêntrico” e que necessitará “ajuda” no plano internacional

Por que, diabos, os EUA teriam de “ajudar a modelar” a opinião de Bento XVI, em relação aos católicos do mundo em desenvolvimento?!
Que conversa é essa?!

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Comentado e traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Benedito XVI
“Benedito XVI será papa pró-Europa, mais interessado em fortalecer a Igreja por dentro, do que em promover o papel externo da Igreja. Mesmo assim, terá de enfrentar as preocupações dos católicos no mundo em desenvolvimento, que aspiram a uma igreja social e politicamente mais ativa que trabalhe contra a pobreza , as doenças e a opressão. Desse ponto de vista, e no que tenha a ver mais amplamente com questões internacionais, enfrentará um difícil aprendizado. Temos de nos aproximar dele logo, para ajudá-lo a modelar sua visão, quando começar a ter de lidar com o mundo que existe fora das paredes do Vaticano.”

Reference ID
Created
Released
Classification
Origin

C O N F I D E N T I A L VATICAN 000467 / SIPDIS
[cabeçalho, aqui omitido]

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Ratzinger Eleito Papa Bento XVI
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1. (SBU) O Colégio Católico Romano de Cardeais elegeu o cardeal alemão Joseph Ratzinger Supremo Pontíficie, dia 19/4. Apesar das especulações da mídia, de que Ratzinger teria o apoio de muitos cardeais, sua eleição surpreendeu muitos, dadas as indicações de que outras vozes mais moderadas poderiam impedir que houvesse a maioria necessária de dois terços. Ainda ontem, Poloff [o embaixador?] falou com alto assessor de Ratzinger, o Monsenhor norte-americano Charles Brown, que pediu, com algum tom de ironia, que todos rezassem pela eleição de Ratzinger. Quando vimos Brown pouco depois da apresentação pública de Bento, já como novo papa, o americano tinha ainda ar de surpresa: “Não sei o que dizer” – disse ele.

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Cardeal Poderoso
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2. (SBU) Ratzinger foi Deão do Colégio de Cardeais e há muito era considerado um dos dois ou três homens mais poderosos do Vaticano. Como presidente da Sacra Congregação para Doutrina da Fé, fiscal da ortodoxia teológica, Ratzinger ganhou reputação de forte conservadorismo e de ter mão firme com teólogos dissidentes. A mídia frequentemente o apresentou como déspota arrogante e autocrático. Contudo, em encontros com Ratzinger, pareceu-nos homem surpreendentemente humilde, espiritual e abordável.

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Manterá o curso
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3. (C) Apresentaremos análise mais detalhada sobre o curso provável do papado de Bento XVI, mas as linhas gerais já parecem claras. Teologicamente, Bento XVI seguirá os passos de João Paulo II; não haverá liberalização na política da Igreja contra o aborto, o controle de natalidade, o celibato eclesiástico, sacerdócio feminino e outras questões que têm provocado debate acalorado. O sermão da 2ª-feira, antes da abertura do conclave, já indicava isso; Ratzinger deixou bem claro que o novo Papa não deve retroceder no embate contra o secularismo e outros desafios à ortodoxia.

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Foco na Europa
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4. (C) O Papa Bento dará provavelmente grande ênfase à Igreja na Europa. Ratzinger acredita que a Europa é lar histórico e espiritual da Igreja e não está disposto a ceder esse lar continental às forças do secularismo ou ao Islã. De fato, Ratzinger já esteve nas manchetes em  2004, quando manifestou reservas quanto ao possível ingresso da Turquia na União Europeia (04 Vatican 3196). Liderou também o movimento, que não teve sucesso, de incluir alguma referência às raíses européias dos cristãos na nova Constituição da União Europeia, que foi um dos principais objetivos de João Paulo II durante seu último ano como pontífice. Muitos, na Santa Sé questionam a lógica desse foco, uma vez que a Constituição já garantiu toda a proteção legal de que a Igreja carecia, mas é mais um sinal de que o novo Papa com certeza dará especial atenção ao futuro espiritual da Europa.

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Figura de Transição?
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5. (SBU) Ao escolher o nome Bento XVI, Ratzinger pode estar reconhecendo que, aos 78 anos, e vindo depois de um papado histórico, será figura de transição. O papado de Bento XV foi curto, durou apenas de 1914-1922. E São Benedito original, fundador da tradição europeia monástica, é padroeiro da Europa – mais uma indicação das intenções de Bento XVI.

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Informação biográfica [sem novidades, itens 6 e 7 aqui omitidos]
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Comentário
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8. (C) A eleição do teólogo do papado de João Paulo II para sucedê-lo sugere que o Colégio de Cardeais desejava garantir a máxima continuidade possível, com o novo papa. Ao mesmo tempo, é improvável que o “humilde operário nas vinhas do Senhor” de 78 anos, como ele próprio definiu-se, alcance a proeminência planetária que o jovem e robusto João Paulo II alcançou imediatamente depois de ser eleito. Embora com certeza vá dar continuidade à missão global da Santa Sé que herdou do predecessor, é mais provável que se dedique mais a fortalecer a Igreja por dentro, do que a promover o papel externo da Igreja. Apesar de seu foco eurocêntrico, também terá de dar atenção às preocupações dos católicos no mundo em desenvolvimento, que aspiram a uma igreja social e politicamente mais ativa que trabalhe contra a pobreza, as doenças e a opressão. Desse ponto de vista, e no que tenha a ver mais amplamente com questões internacionais, enfrentará um difícil aprendizado. Temos de nos aproximar dele logo, para ajudá-lo a modelar sua visão, quando começar a ter de lidar com o mundo que existe fora das paredes do Vaticano. [assina] HARDT -- FIM DO COMENTÁRIO ---

Um comentário:

  1. Se houver mais telegramas vazados sobre o Vaticano, de antes e depois do Ratzinger - e como deve havê-los! -, vão aparecer barbaridades aos olhos de todos. Seria algo como as ficções tipo-Código da Vinci e outras do gênero, com a diferença de que não seriam imaginárias, logo, iriam além-delas. Será o Benedito que isso possa mesmo acontecer? Aguardemos...
    ArnaC

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