sábado, 16 de outubro de 2010

EUA-2010: Os judeus, na campanha eleitoral

14/10/2010, Jim Lobe, Asia Times Online (Jews increasingly hawkish on Iran)
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

WASHINGTON. Os judeus norte-americanos, os quais, com os afro-americanos, formaram a minoria que mais claramente apoiou a eleição de Barack Obama, descrêem cada dia mais do que o presidente consiga fazer, e cada vez mais se aproximam dos Republicanos na questão do Irã, como revela recente pesquisa, divulgada na 3ª-feira pelo Comitê Judeu Norte-Americano [ing. American Jewish Committee (AJC)].

Foram entrevistadas 800 pessoas que se autoidentificaram como judeus norte-americanos, na última pesquisa do ano, de uma série que se repete há mais de dez anos. A pesquisa mostrou também queda acentuada na certeza-confiança de que Obama conseguirá administrar satisfatoriamente as relações EUA-Israel, em comparação com os resultados que o AJC publicou há oito meses.

Em março passado, 55% dos respondentes declararam aprovar – e só 39% não aprovavam – o modo como o governo Obama conduzia as relações EUA-Israel; na nova pesquisa, 49% aprovavam, e 45% não aprovavam.

O apoio a ataque militar contra o Irã “para impedir que fabriquem armas nucleares (...) caso sanções e diplomacia não surtam efeito” subiu de 53% para 59% desde março; e a oposição a medidas militares, nas mesmas circunstâncias, caiu de 42% para 35% no mesmo período.

A pesquisa do AJC em 2008 mostrava que 42% dos respondentes opunham-se a ataque militar ao Irã, aprovado por 47%.

“Não considero surpreendentes esses resultados, se se consideram a intensa pregação de islamofobia pela mídia dos EUA, a repetição incansável de slogans sobre “a ameaça iraniana” pelos políticos israelenses e pelos que os apóiam nos EUA e os vários e repetidos fracassos do governo Obama em todas as tentativas para explicar o que eles pensam que estão fazendo no Oriente Médio”, disse Stephen Walt, especialista em Relações Internacionais de Harvard, e co-autor de The Israel Lobby, livro controverso, publicado em 2007.

“O governo Obama deixou que os críticos definissem a narrativa e nada ofereceu, nem à direita nem à esquerda, que gerasse mais confiança em sua liderança”, acrescentou. “Se me entrevistassem, eu também responderia que não aprovo o que o governo Obama está fazendo em relação às relações EUA-Israel. Mas sou absolutamente contra qualquer ideia de os EUA atacarem o Irã.”

Os resultados da pesquisa sugerem que as ideias das lideranças das principais organizações de judeus de direita e extrema direita, entre as quais o próprio AJC, estão ganhando mais espaços na comunidade de judeus liberais e de esquerda, em relação ao que se viu há oito meses.

Os resultados aparecem a apenas três semanas das eleições de meio de mandato, nas quais os Republicanos – cujos líderes criticaram duramente Obama quanto às relações ‘difíceis’ com o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e manifestaram forte oposição à ideia de tentar a via diplomática com o Irã – esperam reconquistar a maioria de, pelo menos, uma das duas casas do Congresso.

David Harris, presidente do AJC praticamente repetiu esses temas caros aos Republicanos na 3ª-feira. Disse que “a inquietação dos judeus norte-americanos em relação a duas das principais questões da política externa dos EUA e ao modo como os líderes norte-americanos têm respondido a elas” é o achado “mais perturbador” da nova pesquisa.

É a primeira vez que o AJC faz duas pesquisas num mesmo ano.

“As coisas andam muito fluidas no Oriente Médio. E achamos que seria interessante voltar a examinar a questão da ameaça nuclear iraniana, como está sendo administrada, assim como as relações EUA-Israel e o processo de paz”, disse o porta-voz do AJC Kenneth Bandler. E acrescentou: “Também quisemos aferir as opiniões com vistas às eleições de meio de mandato”.

De fato, a pesquisa trouxe boas notícias para os Republicanos. 1/3 dos entrevistados declararam que creem que “os EUA seriam país melhor, se os Republicanos controlassem o Congresso”. Historicamente, o apoio dos judeus ao Partido Republicano jamais se afastou muito dos 20%.

Apesar de não serem fatia expressiva da população – cerca de 2% da população total dos EUA, 3% dos que votam na maioria das eleições – os judeus norte-americanos são os principais doadores de fundos para as campanhas eleitorais, responsáveis por 25% do total de doações para eleições nacionais e por 40% do total de doações para candidatos Democratas.

Os Republicanos têm-se esforçado muito em anos recentes – embora sem grande sucesso até agora – para atrair parte dessas doações, ou, se não, pelo menos para persuadir os doadores judeus a reduzir suas doações aos candidatos Democratas.

A corte que têm feito aos eleitores e doadores judeus tem consistido, basicamente, em lembrar o apoio praticamente irrestrito dos Republicanos a Israel, sobretudo ao governo de Netanyahu, que tem contatos de muitos anos e sólido relacionamento pessoal com a direita cristã e com neoconservadores, os dois grupos que formam o núcleo duro do Partido Republicano.

A recente pesquisa sugere que a estratégia dos Republicanos pode estar começando a dar frutos, como muitos blogueiros neoconservadores festejaram na 3ª-feira.

“Em resposta à pergunta sobre o quê conseguiria afastar os judeus do vício que os liga aos Democratas, a resposta parece ser ‘Obama’,” escreveu Jennifer Rubin no blog Contentions, da [revista] Commentary.

Rubin observou também que o apoio dos judeus a Obama caiu de 57% em março, para 51% em setembro, apenas poucos pontos superior à média do público em geral.

A mesma observação de Larry Sabato, cientista político da Universidade da Virginia. “Aprovação de apenas 50%, entre os judeus, para presidente Democrata, é, falando francamente, horrível”, disse ele ao New York Jewish Week.

Ao mesmo tempo, a pesquisa sugere que a desilusão dos judeus em relação a Obama, como na população em geral, talvez tenha mais a ver com a difícil situação econômica, do que com a política do governo para o Oriente Médio.

O nível mais baixo de aprovação – 45% – apareceu em respostas sobre o desempenho do governo Obama no campo econômico. Em pergunta relacionada a essa, número significativamente maior de entrevistados disseram que a economia e a questão da Saúde pública pesam mais no voto, para as eleições próximas, do que a política externa ou Israel.

De fato, as ideias gerais dos entrevistados sobre questões gerais do conflito Israel-Palestina permaneceram sem grandes alterações nos últimos oito meses. Como na pesquisa de março, os entrevistados continuam céticos quanto às chances de que se chegue a algum acordo negociado; pequena maioria manifestou-se a favor da criação de um estado palestino; 60% contra ceder parte de Israel a um futuro estado palestino; e praticamente os mesmos 60% a favor de Israel ceder “algumas” áreas de ‘assentamentos’ exclusivos para judeus na Cisjordânia, como parte de um acordo de paz.

Mesmo assim, a pesquisa sugere que, pelo menos para alguns dos judeus norte-americanos, Obama aparece como “perdedor” nas disputas com Netanyahu, no início do ano, sobre os ‘assentamentos’.

Além dos 45% dos judeus que manifestaram desaprovação ao modo como Obama conduz as relações EUA-Israel, a pesquisa mostra que aumentou a aprovação ao modo como Netanyahu encaminhou os contatos bilaterais – de 57% em março, para 62%.

Diminuição semelhante se observa na confiança de que Obama conduzirá satisfatoriamente a questão nuclear iraniana. 47% dos entrevistados manifestaram confiança, em março, no desempenho do presidente; e 46% manifestam desconfiança hoje, em pesquisa feita entre o início de setembro e o início de outubro.

Além disso, apesar do sucesso na coordenação do apoio internacional ao endurecimento das sanções contra Teerã, 72% dos respondentes consideram que tais medidas têm pouca ou nenhuma possibilidade de realmente impedir que o Irã construa armas nucleares; há oito meses, eram 68%.

Consistente com o maior apoio a ações militares dos EUA contra o Irã, para impedir o país de desenvolver armas nucleares, a pesquisa mostra que o apoio a ataque militar por Israel também aumentou – de 62% em março, para 70%.

Sobre outras questões internacionais, a pesquisa mostra que a Turquia, aliada da OTAN, não é considerada “nação amiga” dos EUA e de Israel, por, respectivamente, 50% e 71% dos judeus norte-americanos – reflexo, sem dúvida, da deterioração das relações Turquia-Israel, iniciada com a Guerra de Gaza de 2008-9 e acelerada pelo ataque, com mortes, pelos israelenses, a um barco turco que tentava levar ajuda humanitária para Gaza, em maio.