quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A imprensa como ameaça à segurança dos EUA

9/9/2010, Juan Cole, Tom Dispatch
Traduzido e comentado pelo Coletivo Vila Vudu


Comentário da Vila Vudu


Achamos interessante o comentário abaixo, sobretudo nesses tempos em que a imprensa também é grave ameaça não só à segurança da sociedade brasileira, mas à própria democracia no Brasil.


Nos EUA como no Brasil, ainda é como se velha imprensa-empresa, apoiada cada vez mais por “especialistas”, “comentaristas” e zilhões de professores-doutores (ou mal informados ou mal intencionados), além de inúmeros jornalistas fascistas sinceros, se arrogasse direitos que nenhuma imprensa, nem nenhuma “mídia”, nem nenhum jornalista fascista sincero jamais tiveram nem podem ter – de FAZER-NÃO-VER, de encobrir e tentar ocultar, o desejo da maioria que se manifesta PELO VOTO, exclusivamente.


Leiam aí, sobre os EUA. E pensem: está acontecendo alguma coisa MUITO semelhante a isso, na imprensa comercial no Brasil-2010.


Até quando?!

Para uns, parecerá estranho; para outros, sintomático. Nas últimas semanas, o comandante dos EUA na guerra do Afeganistão general David Petraeus está ocupado numa “blitz midiática”. Distribui entrevistas como convite de quermesse [no Brasil, vale para os tucanos & pefelês: distribuem entrevistas como convite de quermesse! Boa, essa!].

Mas até agora, que me conste, nenhum jornalista-entrevistador perguntou-lhe qualquer coisa como:


“Mas, general Petraeus! 20% do Paquistão, onde supostamente Obama bin Laden estaria escondido, além de vários grupos militantes envolvidos na guerra do Afeganistão, e de vários dos “alvos seletivos” marcados para morrer pelas agências secretas norte-americanas, estão hoje submersos! Estradas, pontes, linhas férreas – e portanto, evidentemente, também as linhas de suprimento para as tropas dos EUA -- foram destruídas. Como o senhor avalia o efeito desse cataclismo sobre a guerra do Afeganistão, no curto e no longo prazo?”


Nas últimas semanas, a guerra no Afeganistão voltou às manchetes. Espantosamente, nenhum repórter – exceto a heroica Carlotta Gall do New York Times – pensou nas consequências que aquelas enchentes de proporções bíblicas terão sobre o esforço de guerra dos EUA e sobre o risco que se criou à sobrevivência dos soldados norte-americanos que estão lá. Contudo, os jornais não pararam de falar sobre a crescente violência no Afeganistão, sobre a situação periclitante do Banco Cabul e inúmeros outros assuntos, como se as enchentes e a guerra não existissem e, se não bastasse, publicando ensaios e colunas de pura especulação, sobre questões absolutamente inexistentes.


Os norte-americanos nada sabemos sobre como (nem se!) os soldados estão recebendo suprimentos, ou quanto aumentou o custo de levar-lhes suprimentos, nem sobre os efeitos das enchentes catastróficas sobre as operações dos EUA naquele país. Dadas as proporções da catástrofe, e se se sabe que os EUA avançaram muito profundamente em territórios do Afeganistão e do Paquistão, seria de esperar que a imprensa norte-americana estivesse integralmente dedicada a comentar os efeitos de tudo isso sobre a ocupação – e, portanto sobre os soldados norte-americanos. Por que não está?


Se você não entendeu, releia. Pense bem.


O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Tomgram: Juan Cole, The Media as a Security Threat to America