segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A guerra da Venezuela

*Maggie Marín - Tradução: ADITAL - 13.09.10 - VENEZUELA

A Venezuela, que no próximo dia 26 de setembro realizará eleições legislativas, é a mesma que está em meio de um tácito e perene cerco midiático e militar. Basta repassar, por um lado, os avessos titulares da chamada grande imprensa; por outro, sopesar os inúmeros desafios do qual tem sido objeto, desde a Colômbia para empurrá-la a uma guerra fratricida; e, por último, repensar que, mesmo que ainda não tenham sido instaladas nesse país vizinho as sete bases militares pactuadas por Álvaro Uribe com os Estados Unidos (porque a Corte Constitucional colombiana acaba de deixar o acordo em suspenso momentaneamente), desde a América Central e do Caribe até a Patagônia projetam-se rumo à nação petroleira, qual flechas, todos os dispositivos da infraestrutura militar ‘gringa’ na região.

E não são poucos. De fato, hoje, o número de tropas, apetrechos e bases que sustentam o mecanismo nortenho de agressão, subversão e combate é o maior, melhor disposto e mais sofisticado com certeza, desde que a América Latina se constituiu como tal. Claro que a militar não aparece ser a primeira opção para desafiar o "perigo venezuelano"; porém, vale recordar uma advertência dos especialistas: os Estados Unidos estão deslizando rapidamente rumo a um estado de guerra permanente. "A tortura ganha o ‘Emmy’, a invasão leva o ‘Oscar’"; é a alegoria que a respeito usava há dias Santiago O’Donnell, no argentino Página/12.

O certo é que, com marcada recorrência, os ‘gringos’ apelam não somente à convencional, mas à guerra dos meios, um terreno que dominam ao ponto de deixar atônito a qualquer um, como demonstrou uma recente pesquisa da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais, segundo a qual as instituições mais confiáveis da América Latina são, nesse ordem: os meios de comunicação, as presidências e as forças armadas. Inaudito!!!

Surpresa ou riso não têm cabimento; pelo contrário, teríamos que levar muito em consideração o resultado de tal pesquisa, quando, como agora e seguindo as pautas do império, os elementos reacionários do mundo, as oligarquias e a direita regional, ‘falsimedios’, como o The Washington Post, a CNN, El País e seus similares que, em âmbito planetário e zonal, fazem uma carnal oposição a Hugo Chávez e a seu programa social, se deslocam e afanam com ímpeto para apropriar-se da Assembleia Nacional.

Algo que, como disse o próprio presidente Chávez, desestabilizaria ao país e acabaria com a Revolução. Assegurar pelo menos as duas terças partes dos votos é, sem dúvida, transcendental para o processo venezuelano e para a América Latina, porque se não forem aprovadas as leis e ações que assegurem a continuidade e o aprofundamento das mudanças introduzidas na nação andina durante os últimos 12 anos, estaria sendo desencadeado um tremendo golpe à estabilidade e sustentação dos governos revolucionários e progressistas que tentam mudar o semblante e o rumo ao subcontinente.

Manietar a Revolução bolivariana seria também golpear fortemente aos blocos que nasceram visando a necessária unidade, a soberania e a independência de nossos países, o desenvolvimento econômico real, sem vínculos com os Estados Unidos. A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América e Caribe (Alba) é, sem dúvida, o mais substancial e valioso desses mecanismos; porém, teríamos que somar a União das Nações Sulamericanas (Unasul), e a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac), organização que se aspira que represente as 33 nações independentes da região.

Certamente, a instauração de um governo entreguista na Venezuela, ou ‘compreensivo e cordial’, descartaria as preocupações que o país do Norte alberga com respeito às tão necessitadas e ambicionadas reservas petrolíferas da nação andina.

Em uma das últimas Líneas de Chávez, o mandatário sustentou com acerto que a Revolução Bolivariana não pediu permissão para nascer; a permissão foi imposta pelo povo consciente que há anos é dono e senhor de seu destino. Esse é, portanto, o povo que em setembro deve conjurar outro plano para frustrar a Revolução. Não será o último, claro, porque quando há revolução, há conjuras, desafios, cercos, batalhas. A questão é lutar e triunfar.


*Jornalista da revista centenária cubana Bohemia