terça-feira, 7 de setembro de 2010

COMUNICADO DAS ORGANIZAÇÕES ABAIXO ASSINADAS QUE CONVOCAM MANIFESTAÇÃO EM PARIS

Place de la République, 4/9/2010


Contra a xenofobia e a política de pelourinho do governo Sarkozy:

Liberdade, Igualdade, Fraternidade


Uma avalanche de discursos e de anúncios provocativos abate-se há vários dias sobre a França. Dos postos mais altos do Estado, ouvem-se propostas que, até hoje, só se ouviam dos lábios da extrema direita.


O próprio presidente da República aponta dedo ameaçador para comunidades e grupos sociais inteiros, estigmatiza os ciganos, os emigrados, os estrangeiros, os franceses que não sejam “de sangue puro”, os pais de jovens delinquentes etc. Ao fazê-lo, o presidente não combate a delinquência, repudiada por todos sem distinção de nacionalidade ou origem. O que o presidente faz é violentar os princípios fundamentais da igualdade republicana, em momento em que uma grave crise social e política também já ameaça a coesão da sociedade francesa.


Em poucos dias, as mais altas autoridades do Estado passaram a manifestar preconceitos contra comunidades nômades [1], em prejulgamentos que aproximam, primeiro, imigração e delinquência e que, em seguida, põem em dúvida a nacionalidade francesa daqueles grupos, em termos que não se ouviam na França desde 1945. O que aí se vê em processo inscreve-se numa lógica de desintegração social, de graves consequências.


Já não se trata do debate legítimo na democracia sobre os modos de garantir segurança republicana. Trata-se de uma disposição para designar milhões de pessoas como perigosas a priori em razão de sua origem ou situação social.


Seja qual for a legitimidade que se adquire em eleições, nenhum eleito jamais recebeu mandato para violar os mais elementares princípios sobre os quais foi construída a República.


Os limites que têm sido transpostos geram inquietação quanto ao futuro de todos.


Por isso, organizações associativas, sindicatos e grupos políticos os mais diversos, mas que têm em comum o respeito aos princípios fundantes da República laica, democrática e social, lembramos, enfaticamente, que o artigo primeiro da Constituição francesa “assegura plena igualdade perante a lei a todos os cidadãos sem distinção de raça ou religião”, e que qualquer ato que contrarie essa regra basilar da democracia constitui atentado contra a paz civil.


Não aceitaremos sob nenhum pretexto que o necessário respeito à ordem pública seja usado para criar distinções entre os habitantes desse país e bodes expiatórios.


Convocamos pois o conjunto dos cidadãos franceses a manifestar publicamente seu repúdio às estratégias para estigmatizar e discriminar, e às lógicas “de guerra” que ameaçam o viver em comum.


Para tanto, propomos esse “Manifesto de Cidadãos”, a ser distribuído e assinado online, de recusa a toda e qualquer política do governo Sarkozy que estimule o medo ou o ódio.


E convocamos para uma grande manifestação, na ocasião do 140º aniversário da República Francesa, no sábado, 4 de setembro, na Place de la République em Paris, às 14h e por toda a França, para manifestarmos juntos nosso empenho em defender os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade que são e sempre serão nosso patrimônio comum.


ASSINAM:

• AC ! Agir ensemble contre le chômage,

• Les Alternatifs,

• Les amoureux au banc public,

• Association de défense des droits de l’Homme au Maroc (ASDHOM),

• Association France Palestine Solidarité (AFPS),

• Association des Marocains en France (AMF),

• Association nationale des Gens du voyage catholiques (ANGVC),

• Association républicaine des anciens combattants (ARAC),

• ATTAC,

• Autremonde,

• Cedetim,

• Confédération française démocratique du travail (CFDT),

• Confédération générale du travail (CGT),

La Confédération Paysanne,

• La Cimade,

• Le Cran,

• Droit au logement (DAL),

• Emmaüs France,

Europe Ecologie,

• Fédération pour une alternative sociale et écologique (Fase),

• Fédération des associations de solidarité avec les travailleurs immigrés (FASTI),

• Fédération nationale des associations d’accueil et de réinsertion sociale (FNARS),

• Fédération SUD Education,

• Fédération syndicale unitaire (FSU),

• Fédération des Tunisiens pour une citoyenneté des deux rives (FTCR),

• FNASAT-Gens du voyage

• Fondation Copernic,

• France Terre d’Asile,

• Gauche unitaire,

• Groupe d’information et de soutien des immigrés (GISTI),

• Les Jeunes Verts,

• Ligue des droits de l’Homme (LDH

• Ligue de l’enseignement,

• Marches uropéennes,

• Médecins du Monde,

• Le Mouvement de la Paix,

• Mouvement contre le racisme et pour l’amitié entre les peuples (MRAP),

• Le Nouveau Parti anticapitaliste (NPA),

• Le Parti communiste français (PCF),

• Le Parti de Gauche, le Parti socialiste (PS),

• Réseau d’alerte et d’intervention pour les droits de l’Homme (RAIDH),

• Réseau Education Sans Frontière (RESF),

• SNESUP-FSU,

• SOS Racisme,

• Syndicat des avocats de France (SAF),

• Syndicat de la magistrature (SM),

• Union syndicale Solidaires,

• Les Verts.

• Unión Romani. España


Nota de Tradução

[1] No orig. “Gens du voyage”. “Na prática administrativa e na imprensa, essa expressão designa os ciganos da França (os Sinté/Manouches e os Kalés/Ciganos), embora apenas cerca de 15% deles vivam como nômades em território francês, e sejam minoria, em menor número, por exemplo, que a comunidade Yéniche. A expressão passou a ser usada, para evitar discriminar pela etnia um grupo presente no território francês. A Constituição francesa não faz qualquer referência a minorias étnicas ou nacionais” (para saber mais, ver "Gens du Voyage").



extraído de Extrapolar
Traduzido por Vila Vudu