quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sou doadora de medula óssea

Recebi via Facebook um pedido de ajuda


A mensagem de uma amiga virtual contava a história de uma conterrânea, lá de Belo Horizonte. Uma história difícil, emocionante, que tento resumir agora em algumas poucas frases.


O nome dela é Simone. Jovem, acaba de completar 27 anos. Cruzeirense. Gosta de tatuagens. Animada. Parece cheia de energia, mesmo com uma doença grave. Ela tem leucemia e espera por um transplante de medula óssea há três anos. Três anos...


Pesquisei na internet e achei vários vídeos no YouTube. Em todos eles, a mesma Simone - sem cabelos e com uma força impressionante pra sorrir. Ontem, no fim do dia, conversamos ao telefone por meia hora.


Simone estava com febre, a voz parecia um pouco cansada, mas ela teve paciência pra me falar daquele sorriso permanente no rosto.


"Nos últimos três anos, convivendo com a doença, ganhei muito mais do que perdi. Descobri meus verdadeiros amigos, fiz novas e preciosas amizades, conquistei o respeito de muitas pessoas", ela disse.


Simone precisa de ajuda. E não está sozinha.


Cerca de mil e 200 brasileiros esperam na fila do transplante de medula óssea.


E esses pacientes não precisam da ajuda de apenas uma, duas ou meia dúzia de pessoas. Precisam da ajuda de uma multidão. Precisam mobilizar a sociedade inteira.


Atualmente o Brasil tem 1 milhão e 600 mil pessoas cadastradas como doadoras voluntárias da medula óssea. Temos o terceiro maior cadastro do mundo, mas ainda é pouco.


A chance de um doente encontrar uma medula compatível fora da família é de uma em 100 mil. E para que isto aconteça com mais frequência, o banco de doadores precisa ter pessoas de várias idades - entre 18 e 55 anos - de várias raças.


Quanto maior o número e maior a diversidade dos potenciais doadores, maior a chance da Simone e todos os outros pacientes encontrarem a cura.


É por isso que a Simone não pára. Faz campanhas para conseguir novos cadastros. Numa delas, em Contagem-MG, a meta era conseguir 500 doadores. Ela conseguiu 684 e agradeceu a quem ajudou com abraços.


Ali, entre aqueles tubos de sangue que aparecem na imagem, pode estar a chance dela continuar vivendo. Ou não. Mas nem por isso ela desiste.


"Se eu ficasse mal, se eu me deixasse abater mais do que a doença já me abate, se eu ficasse deprimida, eu já teria morrido há muito tempo", me disse Simone ao telefone.


"A minha vontade é viver. Eu luto pela vida todos os dias", completou.


Ao fim da conversa, contei a Simone que já sou doadora de medula óssea há uns dois anos, desde que uma grande amiga da minha cunhada precisou de um transplante.


Nem cheguei a conhecê-la. Lila, de apenas 22 anos, morreu pouco tempo depois do diagnóstico de leucemia.


Mas meu nome está lá no cadastro da Associação da Medula Óssea. Se algum dia a minha medula puder salvar a vida de alguém, serei chamada para a doação - um procedimento muito mais simples e seguro do que muitos pensam.


Por isso, quando soube da história da Simone pensei: a única coisa que posso fazer agora pra ajudar é escrever.


Então, pra terminar, a última informação sobre a Simone.


Ela é palhaça, por profissão. Isso mesmo, palhaça daquele tipo que faz piada nas praças, nas festas, nos hospitais.


Viver pra ela é rir e fazer sorrir.



http://www.youtube.com/watch?v=isUvJ9-oTmQ&feature=player_embedded


Como se tornar doador de medula óssea


Depois da história emocionante da Simone, lá de Belo Horizonte, que você acompanhou aqui no Entre Nós, muitas pessoas me ligaram, me pararam no corredor da Record ou enviaram mensagens pela internet. Todos queriam mais detalhes sobre como ser um doador de medula óssea.


Então, vamos lá. É simples demais!


A primeira coisa a fazer é procurar um hemocentro perto de onde você mora. Muita gente procura um hemocentro para doar sangue mas nem sabe que ali também é possível fazer o cadastro para se tornar um doador da medula óssea.


Como contei ontem pra vocês me cadastrei como potencial doadora de medula há dois anos. Fui até o hemocentro da Santa Casa aqui em São Paulo e pude comprovar como todo o procedimento é simples. Você vai deixar ali apenas 10 ml de sangue. A coleta é bem semelhante aquela que se faz para um hemograma comum. E nem é preciso estar em jejum.


Pronto! Pra começar é só isso. Falo que sou uma potencial doadora simplesmente porque, de fato, ainda não doei nada.


Depois de fazer a coleta do sangue, o hemocentro vai realizar exames pra descobrir qual é o tipo da sua medula. O resultado desses exames fica em uma banco de dados nacional (REDOME – Registro de Doadores de Medula Óssea)


Você só tem que manter os seus dados no cadastro sempre atualizados. Assim, se algum dia surgir algum paciente que precise de uma medula como a sua, aí sim, você será chamado para novos exames de compatibilidade, para fazer a doação.


É justamente esta parte que confunde as pessoas.


Muitos não se cadastram porque pensam que a doação da medula é complicada demais, pensam que podem ficar doentes após a doação. Pensam até que podem ficar paraplégicos.


É que muitas pessoas confundem a medula óssea com a medula espinhal - a da coluna vertebral - e essa desinformação gera medo.


A medula óssea é um tecido que fica dentro dos nossos ossos, popularmente conhecida como tutano.Sabe tutano de boi? Nós também temos nosso tutano. Pois esse tecido é que fabrica as células do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas).


Na doação são restirados 10% da medula do voluntário. Mas quem doa a medula óssea não perde nada. Absolutamente nada. Você NÃO FICA com um déficit na sua medula, você NÃO FICA menos saudável porque doou uma parte da sua medula.


O organismo humano tem a capacidade de reconstituir o que foi retirado em um período de duas semanas aproximadamente.

E pra fazer essa retirada nem é preciso cirurgia. O doador precisa apenas passar por mais alguns exames e fazer a coleta pela veia ou pelo osso da bacia - ali no bumbum, perto de onde a gente toma injeção.


Bem longe da coluna.

Não há cortes, nem pontos e não ficam cicatrizes.

Não é uma cirurgia.


O doador fica um dia em observação e depois é liberado pra voltar a rotina normal.


Todas estas informações e outros detalhes estão na página da Associação da Medula Óssea.


A sigla desta associação é AMEO.

Alguém aí se lembrou da palavra amor? Não foi por acaso.

Doar é sempre um gesto de amor.


retirado do Blog da Adriana Araújo