segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O ANDAR EXCLUSIVO DE MAITÊ PROENÇA

Laerte Braga

A dublê de atriz e socialite Maitê Proença tem restrições à candidata Dilma Roussef e está em dúvida entre votar em Marina da Silva ou José Arruda Serra. Foi o que disse à imprensa. Ao comentar a candidatura Dilma incita “machos selvagens” a “nos livrar da Dilma”.

Cabe a Maitê nessas eleições o papel que coube a Regina Duarte nas eleições de 2002, quando do alto do trono de namoradinha do Brasil disse ter medo “muito medo” da vitória de Lula.

Há cerca de um ano e meio, dois no máximo, Maitê Proença sofreu um acidente durante as gravações de uma novela nas imediações da cidade mineira de Juiz de Fora. Ao que me recordo teria caído de um cavalo ou coisa assim. Foi levada a um hospital e ao saber que teria que permanecer internada durante um dia, dois, três não importa, exigiu que a direção do Monte Sinai, nome do hospital, evacuasse todo o andar onde ela ficaria para evitar perturbações e incômodos.

É claro, a direção do hospital recusou-se a atender essa exigência de puro preconceito e deixou-a a vontade para procurar outro lugar. Complexo de Marilyn Monroe. Com um detalhe, quem é acometido desse tipo de chilique, ao contrário de Marilyn, tem só presunção.

Permaneceu no hospital o tempo necessário. Diga-se de passagem, considerado um dos melhores do País.

A jornalista e historiadora Conceição de Oliveira, num artigo publicado no site VI O MUNDO, trata das declarações de Maitê sobre “machos selvagens a nos livrar da Dilma”.

No mundo do espetáculo a glória varia de dimensão. Tanto pode ser Boninho, diretor do BBB, juntar-se a seus amigos e atirar água suja em pessoas que passam nas ruas a partir de critérios sobre esse/a ou aquele/a ser um vagabundo/a, o criador dos “heróis” de Pedro Bial, como pode ser a página central e dupla da PLAYBOY.

A “exigência” da atriz aos diretores do hospital em Juiz de Fora (são médicos, não são protagonistas de uma novela, de um show e por isso não cederam) é o modo Arruda Serra de pensar a saúde, direito básico e fundamental de cada cidadão. Inclusive aqueles que estavam nos quartos contíguos ao que Maitê estava ou no mesmo andar.

Não chega a ser um parto ao vivo, o de Xuxa, a dimensão da atriz no espetáculo é menor, mas é a forma arrogante e preconceituosa como as elites enxergam os de baixo.

Um cidadão de sobrenome Adorno, médico veterinário, no twitter, se declara tucano por ideologia (deve ter feito alguma confusão, tucano não tem ideologia, tem tabela de preço). Conceição de Oliveira trata do assunto no artigo que citei mostra uma faixa com a inscrição “BRUNO ENGRAVIDA A DILMA e DEPOIS AVISA PARA O MACARRÃO E O BOLA”.

É uma característica tucana, exatamente a absoluta falta de idéia, de programa, de princípios, de dignidade.

De respeito. O mesmo que faltou a Maitê convocando “machos selvagens” a “nos livrar da Dilma”. Respeito às mulheres.

Como a atriz aceita o papel de objeto, está acostumada a isso, acha que todas as mulheres se chamam Maitê Proença ou Regina Duarte.

Não é bem assim. Não pode ser assim. E, felizmente, não é assim. Tem um monte de mulheres brasileiras que estampam na forma de ser a marca do caráter de uma luta cotidiana pela liberdade, pelo trabalho, pelo pão de cada dia, sem necessidade de andar exclusivo num hospital, ou de “machos selvagens”.

Uma das principais razões, são muitas, das constantes quedas de José Arruda Serra nas pesquisas de intenção de voto do eleitoral é essa arrogância fétida das elites. O cheiro é insuportável. Imagine alguém que cheire a FHC?

O candidato não tem programa, não tem rumo, tem apenas veneno e mau caratismo. Espalha essa “ideologia” em adornos criminosos (a faixa é uma glorificação de um crime bárbaro e incitação ao crime), que têm impresso bem embaixo, em letras miúdas, as da mentira e da vergonha do anúncio de tudo a preço de banana, o “made in FIESP/DASLU”.

Maitê é uma das muitas que junta água suja no balde para despejar sobre trabalhadores e trabalhadoras.

Deve achar-se uma deusa objeto do ardoroso amor de “machos selvagens”.

Uma vez perguntaram a Henry Miller, um dos maiores autores do século XX, proscrito pelas elites puritanas e moralistas da hipocrisia durante um bom tempo, o que era para ele uma prostituta. A pergunta foi feita por um almofadinha intrigado com o fato do autor freqüentar bordéis em Paris.

Miller respondeu assim – “a prostituta nunca é aquela que vende o corpo. É a que vende a alma”.

Deve ser por isso que o pai de todos os Macedos da vida, falo do Edir, Billy Graham, pastor preferido de Ronald Reagan, alcunhado de “Billy Grana” pelo extinto e notável O PASQUIM, diziam que Miller era um devasso, “nocivo à família americana”.

Esse tipo de família gosta de “andar exclusivo”. Dane-se o resto.

É o imprimatur Arruda Serra em toda essa campanha eleitoral.