quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A MÁSCARA DO PRECONCEITO


Marcelo Tas & Pandilha
quinta-feira, 1 de julho de 2010


A MÁSCARA DO PRECONCEITO

Demorei uma hora para ler o livro “Nunca antes na história deste país”, do humorista Marcelo Tas. Não vou perder tempo em analisar os comentários ao longo do texto, apenas vou fazer referência à sua última afirmação, que diz o seguinte: “Tem razão o presidente. A crise não atravessou o Atlântico. Veio a pé mesmo, devagarinho, pelo Canal do Panamá. Demorou um pouco, mais chegou!” Logo continua como se fosse o presidente Lula falando: “Cumpanheiro leitor (escrevendo errado de propósito), não vou parar de falar tão cedo. Continue o livro anotando minhas próximas frases aqui. Obrigado!”. Eu acho que o senhor Tas deveria parar por aí, e repensar se quer ser humorista ou economista político. Sua desfaçatez preconceituosa se vislumbra já na introdução, quando afirma que o presidente fala sobre assuntos dos quais não tem o menor conhecimento. Parece que tal humorista se especializa em fazer piadas ofensivas, de modo a esconder sua frustração em não ser protagonista dos destinos do Brasil.

Para isso vou desconstruir a afirmativa final do livro apenas com dados reais, de forma a evitar juízos de valor que comprometeriam uma análise ponderada do que aconteceu no país durante a crise que se avizinhava em 2007. As medidas econômicas adotadas pelo governo em 2008-2009, contrariamente ao que aconteceu durante as crises de 1980 e 1990, foram medidas monetárias e fiscais anticíclicas. O objetivo foi evitar que a crise contaminasse o sistema financeiro do país, além de recuperar o padrão de atividade econômica o mais rápido possível, premissa integralizada em todos os discursos oficiais do presidente Lula, principalmente quando colocou todo seu prestígio político em jogo, ao dizer claramente que os trabalhadores e os empresários deveriam esquecer-se da crise mundial e produzir para que a atividade econômica da sociedade não parasse.

As ações do Banco Central reduzindo os depósitos compulsórios, de modo a expandir a liquidez, permitiram injetar 3,3% do PIB no mercado bancário, evitando assim o contágio da crise internacional. Já em 2009, a União concedeu empréstimos ao BNDES que permitiu repassar linhas de crédito de curto prazo ao setor produtivo. Além dessas ações na política monetária, o governo implementou um conjunto de desonerações tributárias para estimular as vendas e o consumo. A redução do IPI, bens de consumo duráveis, materiais de construção, bens de capital e alimentos, foram as medidas mais eficientes para evitar a crise que atravessou o “Canal de Panamá”, e que, conforme o presidente Lula disse, chegou como uma “marolinha”. A ignorância de Marcelo Tas revela-se nesta constatação. Qual é a razão de perder o tempo em citar o livro deste humorista?

Vou esboçar algumas considerações. Em primeiro lugar, não é possível que um comunicador, usando seu poder mediático, tente descaracterizar a capacidade de um indivíduo mediante a burla preconceituosa e infame. Nesse caso está ofendendo a maioria da população do país, que é justamente a que constrói a riqueza do Brasil. Exacerbar de forma despiadada os erros de sintaxes do presidente não acrescenta nada ao inconsciente coletivo. Só satisfaz aqueles que se divertem incentivando as lutas de classes, quando na realidade deveriam ser os responsáveis por diminuí-las.

Em segundo, a editora Panda Books deveria ter vergonha em publicar um livro impresso em papel da melhor qualidade, direcionado apenas para uma pequena parcela da sociedade, composta de um público cativo adicto a um tipo de piadas que criminalizam indivíduos que não fazem parte de suas preferências ideológicas. Realmente, o Brasil é bem maior do que a “imaginação” de Marcelo Tas, que usa sua linguagem televisiva para deformar a realidade, fragmentando-a com a desinformação. Sugiro que o leitor, que leu o livro, possa avaliar o país que está construindo seu futuro através da mobilidade social, e complete com suas impressões o espaço deixado ao “sabor do tempo e de seu próprio juízo”, do qual o autor é incapaz de finalizar.

Por Victor Alberto Danich

Postado por PENSAMENTO E DIALÉTICA às 12:56

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Lyra
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