quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Jarbas tomou o caminho da perdição

Assim como o seu candidato Serra em todo o Brasil, Jarbas Vasconcelos tem descido uma ladeira em Pernambuco. De um ponto da pesquisa eleitoral, a sua ascensão para baixo tem sido mais rápida que o candidato à presidência, como se estivesse em queda livre. No mínimo, desde a pesquisa Datafolha, que lhe dava 28% das intenções de voto, até a última do Diário Data, quando caiu para 17%, contra 60% de Eduardo Campos, nem o chão para Jarbas é o limite.

Se considerarmos que esse mergulho se deu entre 24 de julho e 14 de agosto deste ano, Jarbas Vasconcelos perdeu 11% de intenções de voto em três semanas. A essa razão de velocidade de queda, 11/3 semanas, ele chegará em 3 de outubro devendo uma fábula de votos aos pernambucanos: será votado por absurdos 9% abaixo de zero. Seria como se nas urnas houvesse um medidor de votos negativos, uma tecla em que se apertasse contra o nome do candidato. Algo como uma luzinha verde para o cara rejeitado.

Na verdade, antes de obedecer à lei de gravidade para o seu grande corpo em queda, Jarbas parece mais obedecer a uma lei da maldição. Entendam, por maldição queremos dizer o mau destino que tomamos, nas escolhas que fazemos contra a força do tempo. A maldição de Jarbas vem antes, bem antes destas últimas eleições. Em 1998, quando ele se aliou aos conservadores e resistentes da ditadura (notem, da ditadura, não contra ), Miguel Arraes observou em discurso: “Jarbas tomou o caminho da perdição". Quando assim o observou, Arraes não teve a presunção de lhe fazer uma profecia ou de lhe rogar uma praga. Apenas definiu um caráter que se modificava em suas escolhas, apenas definiu um destino. “Apenas”.

Arraes, um líder popular que se definiu pelos trabalhadores da cana em Pernambuco, que recebeu reportagem histórica de Antonio Calado, com aquela frase anteviu os passos seguintes de um político, que era até então um combatente nos duros tempos do Recife. Como bateria na mesa hoje o velho Arraes, se vivo estivesse, o caminho tomado por Jarbas foi “dito e feito”. Por hábitos e modos de sua conservadora companhia, que não era de Jesus, Jarbas passou a retirar do seu caminho jornalistas incômodos, independentes, como no episódio do colunista Inaldo Sampaio, que perdeu um emprego de mais de 22 anos no Jornal do Commercio, por lhe ousar a insinuação de uma crítica.

E mais fez, singular e plural, no caminho que tomou. Em troca das luzes da Rede Globo, das páginas amarelas da imprensa marrom, passou a paladino da moral e da moralidade, logo ele, de quem não se pode dizer que seja um modelo, para usar um eufemismo de educação. Jarbas passou a ser instrumento de ataque aos avanços do governo Lula, e de tal modo, que culminou com esta pérola na revista Veja:

“Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do Bolsa Família”

Ou seja, sucumbiu aos preconceitos de uma classe média desinformada, o que é sempre uma redundância. Mente sem se informar primeiro, como nesse garçom que teria deixado de trabalhar para viver de duas bolsas, como se isso fosse possível. Mente porque assimilou a falsa ideia de que o povo não gosta de trabalhar, vale dizer, são uns folgados que não se submetem a baixos salários.

Quando não está a pregar contra a corrupção no congresso, do presidente, ou do próprio partido, está em fotos nas colunas sociais com modelos jovens, candidatas a miss, numa ostentação de virilidade de novo-rico, vale dizer, novo viril.

Em suas recentes aparições na tevê, a sua imagem é constrangedora, cruel, quando a colamos à memória do antigo Jarbas. Ele fala mal, com dificuldade, desarticulado. Parece haver uma chapa mal fixa na boca, as palavras lhe saem bêbadas, com sílabas à beira de um AVC. Tem o ar e cara permanente de ressaca, a entender mal as perguntas em qualquer debate. Usa palavras sem propriedade, como aqui, “o crack contagia no seu contato”, confundindo um vício com um vírus. Sempre com a respiração ofegante...

Um escritor diria que há personagens que dilatam desonrosamente a própria vida. Miguel Arraes diria, como disse, que há pessoas que “tomam o caminho da perdição”. Esse foi o caso de Jarbas, ou do ex-Jarbas.

Publicado por Urariano Mota em 18/08/2010 no Direto da Redação