segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ESPN - FOLHA - Como usar o futebol para a prática da pilantragem eleitoreira

Mauro Carrara

O golpe sujo começou com o blogueiro Juca Kfouri, do UOL, ainda no sábado, 28 de Agosto.

Segundo ele, a empreiteira Odebrecht "deu" um estádio ao Corinthians para bajular o presidente Lula.

O jornalista do UOL-FOLHA e da ESPN, no entanto, não conseguiu provar que se tratava de um presente, muito menos de uma negociata, como tentou insinuar.

A suposição eleitoreira, no entanto, logo converteu-se em "fato" para boa parte da imprensa esportiva.

Uma ironia, posto que se acolhe na corporação dos jornalistas esportivos brasileiros numeroso grupo de paus-mandados de políticos, cartolas e, principalmente, de empresários de atletas.

A peça golpista que abre esta semana foi produzida pelo jornalista carioca Mauro Cezar Pereira, ex-O Globo, ex-Placar (Abril), atual comentarista da ESPN e da Rádio Eldorado (Estadão).

A acusação está luminosamente impressa em seu blog da ESPN, filial da empresa norte-americana do mesmo nome, desde 1996 uma subsidiária da Disney.

O título é "PEDIDO DE LULA A EMPREITEIRA POR ESTÁDIO DO CORINTHIANS É VERGONHA".

Implicitamente, o autor do texto ainda chama o presidente da República de ladrão ao concluir sua mensagem com a pergunta: "ou você é adepto do rouba mas faz?"

Novamente, o leitor buscou qualquer prova (uminha que fosse) de que o presidente tenha sugerido, solicitado ou exigido esse favor dos empreiteiros.

E nada há. Apenas, o velho jornalismo de pilantragem e difamação praticado pela imprensa monopolista brasileira.

Mauro Cezar Pereira cita outro blogueiro, o jornalista Guilherme Barros, para afirmar que a Odebrecht receberá financiamento do BNDES e isenção fiscal.

Nem Pereira nem Barros, no entanto, apresentam qualquer documento sobre o acordo. Nada!

Tampouco oferecem as necessárias "aspas" de qualquer autoridade federal, executivo da construtora ou dirigente do clube paulistano.

A fonte de ambos parece ser uma matéria da Folha de S. Paulo, confusa, mal apurada e mal escrita, da lavra de Evandro Spinelli, datada de 29 de agosto.

Mesmo ali, não há qualquer prova da citada "vergonha", menos ainda se exibe qualquer evidência de que o dinheiro público financiará a obra.

Aliás, os próprios próceres do PSDB, que ergueram trombetas para anunciar o acordo, asseguram que o estádio será erguido com recursos privados.

Mauro Cezar Pereira pratica, portanto, o velho jornalismo de "achismos maliciosos", calcado nos embustes de outros "achistas inveterados".

Como boa parte de seus colegas, Mauro Cezar é preguiçoso.

Não usou seu telefone ou seu computador para tentar, por conta própria, obter alguma prova de sua acusação.

O objetivo é sempre o mesmo: atribuir a Lula a culpa por qualquer evento, real ou fantasioso, que possa servir ao processo seletivo de pulverização de reputações.

Mauro Cezar busca apenas instigar, intrigar e incitar ódios.

"Vergonha", portanto, os brasileiros deveriam ter das gangues de escribas de aluguel que se encastelaram nas redações dos principais veículos de comunicação.

Pessoas de valor e princípio, bons de texto e apuração, estão hoje relegados a assessorias de imprensa ou sobrevivem de freelas para revistas especializadas.

Enquanto isso, há empregos aos montes para Spinellis, Pereiras e Barros.

É o tipo de gente que agrada a Ali Kamel e a Eurípedes Alcântara, os mestres-gurus do jornalismo de encomenda.

Hoje, mais um se mostrou nu, deselegante, com a mão indecentemente no bolso.

E cresceu a galeria dos personagens da pilantragem imprensaleira.

Pena que não exista no PT, tão tímido e preguiçoso, alguém que faça a defesa do presidente e acione a Justiça para enquadrar esse tipo de deformador da informação.


LEIA ABAIXO A ACUSAÇÃO DE MAURO CÉZAR PEREIRA AO PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Está no blog do jornalista Guilherme Barros: "A construção do estádio do Corinthians pela Odebrecht contará com financiamento do BNDES e isenção fiscal(...). O presidente Lula, que também é corintiano, foi o principal articulador do projeto do estádio do time" — clique aqui e leia. Já a Folha de S. Paulo publicou que "Lula sugeriu à empreiteira Odebrecht a construção do estádio para o clube" — clique aqui para ler.

A Odebrecht é um gigante que atua em diversas áreas — engenharia e construção, óleo e gás, química e petroquímica, etc — e se espalha pelo mundo. E desenvolve muitas das grandes obras feitas para o governo brasileiro. Isso bastaria para que Lula jamais fizesse qualquer tipo de pedido à companhia. A Agência Estado informou que os R$ 300 milhões para a construção seriam pagos pela empresa, que em troca exploraria o nome da "arena", o chamado naming rights. Retorno garantido? Não é bem assim.

Ricardo Araujo relata no site da revista Exame — clique aqui — que nos Estados Unidos o time de futebol americano do Dallas Cowboys levantou sua arena por US$ 1,3 bilhão e negociava um contrato que bancaria cerca de 33% da obra. Veio a crise e o tal patrocinador não apareceu. Já o estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, onde Mano Menezes estreou à frente da seleção, torrou US$ 1,7 bilhão de dois times. Giants e Jets se depararam com surpreendente dificuldade para vender o naming rights. Isso na região de Nova York!!!

Diante desse cenário, quais seria a motivação da Odebrecht para enterrar seu rico dinheirinho no estádio do Corinthians? Caridade? Paixão pelo Timão? Ou um pedido do presidente que vai eleger sua sucessora pesa um pouco? É... amigo. E tem mais. A Fonte Nova foi implodida e o novo está orçado em R$ 591 milhões. Ele será tocado pela... Odebrecht! O que explicaria o estádio baiano, pago pelo governo, custar o dobro(!) da "casa" corintiana, bancada pela empreiteira? Difícil entender, não?

Se as licitações de estádios da Copa tivessem uma tabela de "classificação", a Odebrecht lideraria com R$ 2,769 bilhões, quase dez vezes o custo estimado para o campo do Corinthians. Aliás, o portal Copa 2014 publicou ranking da revista “O Empreiteiro”, e a Andrade Gutierrez aparece abaixo, com R$ 1,9 bilhão. Ela, a Odebrecht e a Delta farão juntas a reforma do Maracanã, a mais cara da Copa: R$ 705,6 milhões que podem virar (já avisaram) R$ 880 milhões.

Na Fonte Nova a parceria da Odebrecht é com a OAS, podendo alcançar R$ 1,6 bilhão na reconstrução, acrescenta o site. Há, ainda, participação da companhia na construção do estádio pernambucano da Copa, a Arena Capibaribe, no Grande Recife. Segundo a revista “O Empreiteiro”, as 100 maiores construtoras do Brasil faturaram R$ 54,4 bilhões em 2009. O setor cresceu 15,3%. Crise para as empreiteiras? Jamais, ainda por cima com a farra da Copa.

E você, acha legítimo o presidente da república fazer esse tipo de pedido? Por favor, não vamos jogar o nível lá embaixo alegando que é correto porque outros clubes teria levantado seus estádios com ajuda governamental e existem exemplos absurdos como o Engenhão. O que é errado é errado e erros do passado não podem chancelar novos absurdos. Ou você é adepto do "rouba, mas faz"?