quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ÂNCORA OU PILOTO?

*José Flávio Abelha

Mestre Houaiss ensina que ÂNCORA é “profissional de jornalismo televisivo que centraliza a emissão nos noticiários, cuidando pessoalmente ou participando da elaboração do texto das informações e apresentando-as, freq. com comentários opinativos” enquanto Mestre Aurélio ensina que PILOTO é “aquele que dirige a navegação e a manobra de uma embarcação mercante, subordinado ao comandante” e, “diz-se de ou pessoa cega de um olho; zarolho”.

Primeiramente desejo esclarecer aos meus cinco leitores que após receber uma ordem médica que excluiu qualquer discussão, a obrigação de um repouso após o almoço, a famosa siesta. E o que fazer senão tirar um cochilo ou ouvir o velho rádio, sempre companheiro das madrugadas?. Optei pelo velho amigo e tive grandes decepções. O cochilo me deixaria numa espécie de entorpecimento político. O rádio abriu-me os olhos e, convenhamos, a decepção também dói.

Descobri de pronto que um jornalista de renome era o que no circo chamam de escada, aquele que ampara o palhaço para que este possa dar curso à sua chalaça. E que palhaço. A figuraça ri do que diz, o escada repete a deixa e, de novo, os dois dão boas risadas. O ouvinte que se torre de raiva. Só os dois entendem a piada.

Naquele canal eu não ia ouvir um comentário do ÂNCORA visto que, para mim, com o respeito e admiração aos escadas dos poucos circos que ainda existem, entendo que “cada macaco no seu galho”. Além do que, na definição do Mestre Houaiss, ali eu não encontraria um ÂNCORA e sim um PILOTO seguindo a carta fornecida pelo comandante rumo ao porto onde os navios lulodilmistas estão ancorados para surpreendê-los e colocá-los a pique.

Movimentei o dial. Estacionei em outro navio que se anunciava tocar apenas notícias e eu pensei, é aqui. Notícia pede ÂNCORA. Ledo engano. Só PILOTO. E que PILOTO.

A definição de PILOTO do Mestre Aurélio, adaptada para o rádio, componente dessa mídia oposicionista e rancorosa.

O PILOTO dirige a navegação, e foi o que encontrei. O PILOTO manobra uma embarcação mercante, nada mais exato. Hoje, uma emissora radiofônica é uma embarcação política, mercantil, comercial, interesseira, cobiçosa, ambiciosa, naturalmente subordinada ao comandante, este, interessado em aboletar-se novamente nas benesses governamentais, perdidas a partir desde quando o Presidente Lula assumiu o governo.

Tivemos ÂNCORAS. Desapareceram uns pelos seus erros em não obedecer ao “comandante”, outros, de passado obscuro, chumbado, com caras e bocas mas atingindo o limite do ridículo e da falta de credibilidade e, finalmente, aqueles que não deixaram de ser porque nunca foram.

Temos hoje PILOTOS. Ouçam o rádio, já que a TV está desmoralizada.

Faz pouco tempo a TV nos brindava com um programa digno de ser visto, ANCORADO pelo Jô Soares, cujos convidados alegravam as noites/madrugadas. Num piscar Jô resolveu mudar de categoria. Passou a PILOTO, travestiu-se de um caricato Chacrinha, chegando a ponto de abrir o bem cortado paletó para mostrar uma dança do ventre ridícula e montou a sua placa de oposicionista criando as tais “meninas”, o que não deixa de ser uma tremenda gozação em cima de respeitáveis madames. Para não comentar o atropelo cultural e por vezes deseducado que comete em determinados entrevistados, diga-se, todos lançando livros ou Cds. Poucos convidados sem patrocínio. Curioso o atual programa do Jô, já notaram?

No rádio, os ouvintes vão sentir que assuntos do maior interesse nem são comentados, ao passo que, qualquer escorregão no modo de falar do sertanejo Lula é motivo das mais venenosas críticas, gozações e motivo de entrevistas com os mais variados filólogos, cientistas políticos, econômicos e internacionais. Discute-se até o perigo do escorregão provocar um entrevero internacional.

Enquanto discute o sexo dos anjos, o mais incisivo PILOTO, desejando mostrar que entende de todos os assuntos, tal qual o Jô Soares, esquece de informar aos ouvintes como andam as obras do Rio São Francisco, deixa de abrir uma profunda discussão sobre o escândalo de se aposentar compulsoriamente grandes figurões da justiça que cometem crimes que merecem algemas, nada pesquisa sobre o quanto o brasileiro pagou pela CPI incentivada pela senadora Kátia Abreu e seus aliados, diga-se, que nem eles compareceram às reuniões durante seis meses e, não apurando nada, conseguiram mais SEIS MESES de prorrogação, cujo prazo vai se findar nas férias natalinas.

Tomo um fôlego e continuo. Inúmeros assuntos do interesse nacional ficam esquecidos, lembro alguns, as ONGs internacionais recebem dinheiro para dar pitacos no governo brasileiro, na Amazônia e nenhuma no nordeste. De onde vem o money?

E os vários escândalos da atual mesa diretora do Senado cujas despesas saem dos bolsos do brasileiro?

E o vazamento de uma conversa entre duas figuras nacionais (Supremo e Senado) não apurado e jogado na vala comum da intriga?

E a morte de uma jovem em Belo Horizonte, encontrada sem vida em um quarto de motel com uma caderneta de endereços cheia de nomes de gente famosa?

E as várias cabeças coroadas, processadas, condenadas, soltas, circulando livremente sem que nenhuma autoridade possa algemá-los e enjaulá-los?

E as revistonas e os jornalões recebendo gordas verbas de publicidade dos órgãos governamentais?

E o tal de Palácio da Música (é esse o nome?) que o Prefeito do Rio de Janeiro recebeu já inaugurado, mas inacabado e devendo os tubos?

E o pedido dos capitães da indústria e do comércio pedindo menos burocracia, papelada, impostos, enquanto seus balanços denunciam lucros nunca registrados na economia brasileira?

O grande PILOTO da rádio que só toca notícia bem que poderia iniciar campanhas: para a venda de outros tipos de remédios para o povo; para se criar dispositivos que acabem com o mercado negro de jogadores de futebol que hoje faz lembrar os navios negreiros de tristíssima memória; do contrário, muito breve vamos assistir empresas alugando e vendendo “passes” de alguns executivos formados na casa, adquiridos nesse mercado de cabeças; e quantos outros assuntos poderiam ocupar o tempo dos ouvintes, ao contrário de somente se ouvir críticas ao governo federal ?

Navios pilotados pelos que seguem tão somente as cartas traçadas pelos comandantes, certos de que vão torpedear a frota de Dilma ancorada em porto seguro e amarrada tal qual ordenou o inolvidável Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso, ao saber da tempestade, agora prevista pelo Zé Trololó.

E pensar que no porto estão ancorados cerca de 90% dos navios brasileiros aguardando a tempestade que não virá. Afinal, em Minas Gerais, dizem que “praga de urubu não mata cavalo gordo”.

E, se por acaso algum leitor sentir a cabeça coçando diante destas singelas observações, não se assuste. Há cura! Telefone para a FIOCRUZ. Há um telefone à disposição, o DISQUE-PIOLHO.

Não confundam com DISQUE-PILOTO!

*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.